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Com um mercado angolano débil, foi na Rússia que Rubina Suzeth encontrou o sucesso na dança

É a partir das terras frias de Vladimir Putin que, há dois anos, Rubina Suzeth tem vingado na dança. As suas coreografias de Kuduro, Hip hop e Dança Contemporânea, levaram a jovem angolana de 21 anos a vencer em abril o prémio Melhor Dançarina do Ano 2023, na segunda edição dos Prémios Nova Geração, em Angola, e em novembro o concurso solo Afroboom 2023, na Turquia.

A Companhia de Dança da Zap foi a plataforma que lançou Rubina como dançarina profissional mas tudo começou ainda na infância. “Acho que nós africanos já nascemos com a pulunguza (força) de dançar, entretanto, algumas pessoas desenvolvem esta habilidade melhor que outras”, disse à BANTUMEN. A família organizou um grupo de dança e foi lá que aprimorou as suas habilidades. Com 13 anos, o grupo conseguia rentabilizar através da participação em algumas festas. Contudo, na altura, o contexto \social angolano não permitia olhar para a arte de dançar como uma profissão séria e capaz de garantir subsistência. “Como ‘todo o africano sabe dançar’, não se espera que isso possa tornar-se numa profissão”, sublinhou.

Ainda assim, Rubina Suzeth nãos e deu por vencida e, aos 14 anos, decidiu juntar-se a um grupo de dança de jovens adolescentes da sua igreja. Ali aprendeu novas coreografias e percebeu que também tinha habilidade para as criar e, com o apoio do YouTube, acabou por conhecer melhor o Kuduro, Dança Contemporânea, o Hip Hop, entre outros estilos.

Apesar de ter começado pelo kuduro e danças tradicionais, a bailarina afirma que não se identifica com um único estilo e por isso procura navegar em diversos estilos africanos, sobretudo no vasto afrodance. “Gosto muito dos estilos africanos e são todos meus favoritos, sem exceção”, garantiu. “As danças são iguais e diferentes ao mesmo tempo. Quando vais ao fundo, consegues perceber um passo angolano feito no Ghana e perceber as diferenças. Eu gosto disso”, explicou-nos.

Entretanto, a viver na Rússia, Rubina indica que dançar num país europeu fê-la compreender a importância da identidade cultural. Percebeu que, por mais que dance estilos como o Hip-Hop ou Contemporâneo, não seria reconhecida por isso. “As pessoas olham para mim e vêem uma pessoa negra e africana e esperam afro, não outra coisa”. Apesar do choque desse entendimento, mais tarde, a artista decidiu que, na verdade, essa poderia ser uma mais valia e assumiu o afrodance como o seu estilo principal. “Eu entendi e decidi mergulhar mais e mais ainda, então, não tem como não me identificar. É o que eu sou e quando danço sinto que realmente estou a dançar da forma mais genuína e pura possível”, contou.

A falta de investimento em Angola

A realidade vivida em Angola foi marcada por muitas dificuldades resultantes da inexistência de um mercado de dança do país, da falta de apoio institucional e governamental e a falta de mais escolas culturais, além do CEART. “Não existe uma indústria de dança em Angola e as pessoas que têm sorte e contatos conseguem encontrar um biscate, ganham uns 30 mil kwanzas (cerca de 32 euros) aqui, uns 20 mil (22 euros) ali, mas não passa daí”, lamentou.

Após experenciar outras realidades, mudou a visão artística que tinha em Angola. Atualmente, percebe que, quando se trata de dança, Angola ainda tem muito caminho para percorrer para chegar noutros níveis, começando pela valorização dos profissionais da arte (bailarinos, professores e coreógrafos), apoio institucional e governamental com projetos que visem a produção de espetáculos de dança e a existência de pessoas e/ou organizações que agenciem dançarinos e bailarinos. Apesar disso, reconhece que há pessoas e organizações que muito têm feito pela dança em Angola, como Manuel Kanza, Companhia Inspra Dança, Palasa Dance Company e da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, entre outros. “Acredito que vamos conseguir mudar o rumo da dança em Angola, então, teremos mais escolas de dança, mais cursos intensivos de capacitação, teremos mais workshops… Acredito nisso”.

Rubina Suzeth

A estranheza na Rússia

Já na Rússia, em pouco tempo da estadia naquele país, Rubina sentiu-se reconhecida como uma profissional da dança. “Hoje, as pessoas sabem que falar de Rubina é falar sobre dança, então é meio automático as pessoas associarem-me à dança”. “Para mim ainda é um pouquinho assustador o facto de em um ano ter conseguido trabalho, ser reconhecida na Rússia. Não estou a falar de Moscovo, é na Rússia por completo”. Questionada sobre a existência de uma indústria, Suzeth respondeu: “Aqui a indústria da dança chega a ser equiparada a um engenheiro. Tanto o governo quanto a sociedade valorizam muito a dança, as pessoas dançam sempre, faça chuva, faça sol. Há muita valorização aqui”, respondeu.

O ambiente com os colegas na escola de dança é caracterizado por respeito e admiração. Muito dos seus colegas nunca tiveram uma colega negra a dançar e a aprender as suas dança, o que leva Ruina a lidar com algum espanto pela capacidade de rápida adaptação e aprendizagem. É neste cenário que aproveita dar a conhecer o seu país. “Eles olham pela maneira rápida como aprendi as suas danças e me interesso e agora todos conhecem Angola, sabem que Angola existe, que África não é um país, por exemplo”.

Quanto às dificuldades, Rubina aponta o facto de, por ser negra, olharem-na como uma coreógrafa só de danças de estilos africanos, quando a artista quer explorar outros estilos globais e ser reconhecida por isso.

Futuramente, perspetiva realizar em Angola o seu espetáculo de dança e lotar um auditório. A par disso, está o desejo de formar muitas crianças na dança. “Quero trabalhar com a comunidade, passar as minhas experiências para muitos jovens como eu e que possivelmente vivem na mesma realidade que eu vivi”, sublinhou.

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