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Shot B e o sonho de “grafitar” Moçambique

Shot B

Com as mãos manchadas de tinta, lentes que ofuscam o olhar e um discurso de militante, Shot B é um artista urbano que usa o grafite e o audiovisual como linguagem de rapper para construir a sua arte nas ruas da capital.

É, praticamente, impossível percorrer a cidade de Maputo e não se cruzar com os murais de Shot B nos bairros ao redor e no centro da cidade. Shot B espalha os seus sprays pela capital e pelas províncias de Moçambique, apesar de reconhecer que tem mais obras de street art pelo mundo afora do que na sua terra natal.

A arte sempre foi presença assídua em casa. “O meu pai fazia arquitetura e tinha a a pintura como hobby. Crescemos em casa com um ateliê. Tínhamos acesso ao material de arte desde pequeninos. Mais tarde, em 1992, conectei-me à cultura hip-hop e, em 1996, foi quando decidi que o grafite seria a minha forma de apresentar-me artisticamente”, confessa Shot B.

Depois de ter estudado na Escola Nacional de Artes Visuais, o artista seguiu para a Cidade do Cabo, África do Sul, e mais tarde para a Faculdade de Artes em Lisboa. É, atualmente, um artista do mundo mas é na Pérola do Índico onde sente pertença. “Já pintei mais vezes no estrangeiro mas o meu sonho é pegar no carro e seguir conduzindo e pintando todos os cantos de Moçambique”, disse à BANTUMEN.

Numa aventura que começou com o movimento revolucionário que é o hip-hop em si, Shot tornou-se num dos pioneiros moçambicanos na pintura de murais e rapidamente foi convidado a usar a sua arte para representar causas. Um deles, o mural da avenida OUA (Organização da União Africana, hoje apenas UA) assinala o arranque desta incursão oficial no grafite. “Comecei a pintar murais temáticos quando fui desafiado a fazer o mural da avenida OUA. Aprendi a associar a minha arte a questões de reflexão e mudança social. Na altura, tive que ler muito e entender melhor a organização que nos representa como africanos”, explica.

O Mural da Mafalala

Foi na Mafalala que Shot B teve um dos mais emblemáticos desafios ao produzir o famoso “mural dos poetas”. “Foi um grande prazer participar e associar-me a esta causa antiga de poetas que deram as suas vidas pela liberdade”, confessa. O bairro da Mafalala é conhecido por ser multicultural, onde a convivência entre as religiões é uma característica. Mafalala é também o bairro dos poetas José Craveirinha, Noémia de Sousa, dos irmãos Albazine e de outras figuras importantes na história do país, como Eusébio e a família Caliano. Ao descrever o processo de concepção do mural, o artista afirma que a melhor parte da jornada foi poder interagir com Ivan Larangeira, diretor do Museu da Mafalala, e Rui Larangeira, historiador e seu antigo professor de História da Arte. “Foi uma oportunidade de trazer esta exposição para um espaço aberto onde aqueles que não têm acesso à arte nos espaços convencionais possam aprender e apreciar. Caminhar naquelas ruas, espaços e pisar a areia do bairro onde poetas viviam foi a principal motivação para fazer esta imersão, mas incentivou-me bastante a ideia de poder contribuir para contar a história de alguns dos grandes revolucionários artistas do nosso país que alavancaram a nossa poesia para o circuito internacional. A Mafalala é considerada um bairro de drogas, prostituição, etc… Então, a ideia foi exatamente desconstruir essa noção”, continuou Shot B.

Inspirado pelas dinâmicas urbanas, Shot B não se considera “artista político”. “Por vezes faço peças políticas como consequência de factos sociais mas, se eu pudesse, desenhava apenas sobre paz, amor e liberdades”.

Porque acredita numa geração onde os artistas poderão exercer livremente a arte, Shot B tem-se dedicado também à partilha de conhecimento através de aulas de grafite a crianças, em Maputo. “Esta experiência tem-me tornado uma pessoa melhor, um pouco mais sensível com isso e desenvolvo habilidade de falar sobre a minha arte. É muito prazeroso trabalhar com crianças, gosto da habilidade que elas têm de observar e criar”, conclui o artista.

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