Literatura africana: “12 tons de negro”, por Eliana Nzualo
Eliana Nzualo
O título é em jeito de sátira que faz lembrar um famigerado best-seller, mas é na verdade uma lista de 12 sugestões de leitura de Eliana Nzualo.
“Poeta, sonhadora e aspirante a mulher de si mesma” é a frase que escolhe para se definir. Vive em Moçambique e luta pela valorização da arte e cultura do seu país. Lançou o projecto Nzualo Na’Khumalo e o movimento Wumburi, que respiram empoderamento africano, e feminino, e que têm sido destaque em vários meios de comunicação, incluindo a CNN Africa.
Num desafio pessoal, Eliana resolveu ler um livro de autor africano por mês.
Numa entrevista à Afrolis, a jovem explicou: “Eu precisava encontrar validade nas histórias que ouvia ao meu redor. Eram histórias diversas: africanas; americanas; portuguesas; sobre mulheres; sobre homens; sobre liberdade; sobre colonialismo; sobre escravidão… histórias para que eu descobrisse a minha História. Então decidi: vou ler negritude.
Desafiei-me a ler um livro por mês durante todo o ano de 2015 e tinha apenas um único critério: autor negro. Nessa viagem pela negritude passei por Angola, Moçambique, Gana, Nigéria, Inglaterra e EUA.
Percorri séculos na História mundial e andei por cheiros e paisagens que jamais tinha visto, mas que ainda assim, me eram familiares.
Encontrei negras lésbicas no movimento feminista nas Fábricas Americanas dos anos 60. Deparei-me com escravas fugitivas assassinas. Perdi-me nas teias da corrupção em África no período pós-colonial. E descobri, a cada página virada, uma nova cor para a minha identidade.
Por 12 meses mergulhei em mim mesma e surgi na margem da Literatura. E que lindo lugar para se estar!”
Descobre a lista na galeria de imagens acima.
Zami – A New Spelling Of My Name (Audre Lorde): Uma autobiografia sobre amor. Sobre como Audre, uma mulher descendente de imigrantes, lésbica, negra, gorda nos anos 50 nos EUA encontra o melhor em si e no mundo.
The Beautytul Ones Are Not Yet Born (Ayi Kwei Armah): No Ghana pós-independência, onde reina a corrupção, um pobre e honesto funcionário publico procura manter os seus valores, mesmo sem o apoio dos colegas e da família.
Ninguém Matou Suhura (Lília Momplé): Este livro é uma colectânea de contos que contam um pouco da História de Moçambique no período colonial, onde os personagens, sentimentos e circunstâncias formam uma moldura daquilo que era a sua realidade.
Maka Na Sanzala – Mafuta (Uanhenga Xitu): Em Angola, numa vila onde pouco se sente o poder colonial, a história de uma jovem moça para manter a honra da sua família.
Ghana Must Go (Taiye Selasi): A busca da família Sais, de origem nigeriana e ganesa, pela união, justiça e verdade à medida que as suas vidas individuais os afastam de quem eles sempre sonharam ser.
Dead Aid – Why Aid Is Not Working and How There Is Another Way For Africa (Dambisa Moyo): Um livro sobre a mentira da ajuda humanitária e das consequências económicas, políticas e sociais para os países africanos e sobre uma possível solução sustentável.
Beloved (Toni Morrison): Baseado numa história verídica, é o trágico destino de Sethe, uma escrava fugitiva que se vê obrigada a matar a própria filha para salvá-la da escravidão e o regresso imaginado da menina para se juntar à família.
Balada de Amor Ao Vento (Paulina Chiziane): Um amor verdadeiro no Sul de Moçambique, num casamento polígamo e a força de uma mulher, Sarnau para não ter de abandonar os seus sonhos.
Americanah (Chimamanda Ngozi Adichie): Já escrevi sobre este livro aqui. A história acompanha a ida de Ifemelu da Nigéria para os Estados Unidos da América e a (re)construção da sua identidade num espaço onde nem sempre se sente bem-vinda ou sequer vista.
Traz-nos as memórias de infância de Soyinka do antes e depois da II Guerra Mundial num vilarejo na Nigéria. Soyinka, Nobel da Literatura em 1986, “é inquestionavelmente um dos mais versáteis escritores africanos”, escreveu o New York Times.
Ain’t I A Woman – Black Women And Feminism (bell hooks): Um estudo histórico da marginalidade da mulher negra no movimento feminista desde a Escravatura aos anos 70-80 nos EUA.
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