Nesta terça-feira, 2 de junho, assistimos a algo inédito. As redes sociais foram o canal utilizado para provar que, pela primeira vez, o racismo está aos olhos de [quase] toda a gente, no mundo inteiro.
Partilhámos todos uma imagem preta. Gritámos nas caixas de comentários que a vida dos negros importa. E no offline, o que vamos fazer? Há dias, a filha de George Floyd, Gianna, apareceu num vídeo a dizer que o pai mudou o mundo. Na verdade, infelizmente, o mundo ainda não mudou. Só acordou. É fora das redes sociais que a mudança vai acontecer.
É no offline que temos de votar, estudar, criar, empoderar e gerar riqueza. Alguém consegue nomear comunidades geradoras de riqueza interna menosprezadas pelo Estado? Um pobre só é pobre porque há um rico que beneficia com isso. E os negros continuam a ser sistematicamente, geração, após geração, um gerador de fortuna sem que daí possam retirar qualquer benefício.
Qual é cultura que, atualmente, mais contribui para a circulação de dinheiro dentro da indústria da música? Qual é a cultura que mais propaga tendências para as massas?
Quantos “amigos” racistas temos que dançam e cantam músicas de artistas negros? Quantos racistas gritam e aplaudem os nomes de jogadores negros quando estes fazem um brilharete pelas suas equipas? Quantos negros são nacionalizados porque são excelentes atletas que contribuem para a popularidade do país lá fora e a quantos negros, nascidos e criados em Portugal, é negada a nacionalidade? Quantos negros foram e continuam a ser desumanizados e violentados em esquadras de polícia? Quantos negros são punidos de forma extraordinariamente, e muitas vezes, insolitamente, severa pela Justiça?
As questões são muitas. As respostas são poucas.
Voltando ao início do texto, a mudança não acontece nas redes sociais. Agora que o mundo decidiu acordar e está de acordo, a mudança acontece quando cada um de nós decide agir com atitudes individuais que beneficiam um todo. Quando cumprimos com o nosso dever e direito constitucional de voto; quando pressionamos o governo a editar livros escolares onde a História ensina que os negros eram (e consequentemente são) apenas mercadoria; quando decidirmos renunciar aos nossos impulsos consumistas para poupar e investir no nosso futuro; quando os líderes africanos se colocarem na linha da frente e acabarem com o mercado da manipulação onde são vendidos por truta e meia; quando apoiamos o empreendedorismo negro; quando procuramos fontes que nos contam a verdade sobre a nossa História, quando explicamos aos nossos filhos que os seus cabelos são dignos e que nunca se deverão resignar face às injustiças sociais, profissionais e pessoais que lhes são imputadas por questões cromáticas.
Já todos fizemos os nossos posts. Agora é hora de agir. Há muito para fazer.
Abaixo, ficam alguns links de organizações que lutam para criar justiça em Portugal para a comunidade negra e que tu, que partilhaste uma imagem preta no Instagram, com vários punhos cerrados como comentário, tens a obrigação de apoiar.
Associação Moinho da Juventude
Djass – Associação de Afrodescendentes
INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal
NARP – Núcleo Anti-Racista do Porto
Estes são apenas alguns links. Nos comentários, deixem as vossas sugestões de outras referências que possam ser úteis.
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