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“A dificuldade de África é a falta crónica de acesso a empréstimos em taxas equivalentes ou próximas às de outras regiões”, Carlos Lopes

Foto aérea de Acra, no Gana | ©Virgyl Sowah
Foto aérea de Acra, no Gana | ©Virgyl Sowah

No âmbito da conferência “Novo pacto financeiro mundial”, a acontecer em Paris, até esta sexta-feira, 23, o economista guineense Carlos Lopes analisa em entrevista para a Afrik 21 os desafios enfrentados pelo continente africano através do peso da dívida e da urgência climática. Lopes expressou as suas perspetivas sobre as propostas concretas que podem surgir durante o evento e a necessidade de uma arquitetura financeira que ajude África a superar o ciclo vicioso da dívida sem cair na desindustrialização.

Durante a entrevista, o economista destacou que a atual arquitetura financeira internacional precisa passar por mudanças significativas devido à geopolítica e à urgência climática. No entanto, ressaltou que a conferência em Paris não será o momento decisivo para resolver os problemas da dívida pública africana. Embora algumas diretrizes e propostas possam surgir, será necessário que os países emergentes e africanos apresentem as suas próprias propostas para romper o ciclo vicioso da dívida. “Acredito que o ano de 2023 testemunhará mudanças importantes na arquitetura financeira internacional, pois a geopolítica e a urgência climática estão no centro das mudanças de paradigma. Nunca se falou tanto, a nível de decisões, em reformas, incluindo por parte de instituições de Bretton Woods. Passamos de um tabu para uma competição para ver quem fala mais, mas sem avançar em relação a quem faz mais.”

Lopes enfatizou que o problema da dívida pública não é exclusivo de África e que é necessário parar com a divisão artificial do continente subsaariano. Destacou que África possui proporções de dívida/PIB baixas em comparação com os membros da OCDE e taxas de crescimento económico entre as mais altas do mundo. No entanto, a dificuldade enfrentada pelos países africanos está na falta crónica de acesso a empréstimos em condições equivalentes às de outras regiões, mesmo quando há liquidez disponível. “É um problema global no qual toda a África desempenha um papel pequeno, com uma dívida menor do que a da Bélgica e dos Países Baixos juntos. Temos proporções de dívida/PIB entre as mais baixas do mundo, certamente muito mais baixas do que as dos membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e temos taxas de crescimento entre as mais altas do mundo, superadas apenas pela Índia e sudeste asiático em termos regionais. A dificuldade de África é a falta crónica de acesso a empréstimos em taxas equivalentes ou próximas às de outras regiões, mesmo quando a liquidez está disponível. Essa é a razão dos problemas enfrentados pelo Gana e Zâmbia“, disse à publicação francesa.

Quanto ao financiamento climático, Lopes argumentou que as promessas feitas pelos países ricos não têm sido cumpridas, e a crise climática está a aumentar o endividamento dos Estados. Ele ressaltou que o financiamento concessional não está a crescer e que a solidariedade internacional tem desviado recursos da ajuda ao desenvolvimento para outros fins.

Sobre o evento em Paris, Lopes expressou as suas dúvidas sobre propostas concretas. “Sem pareceres prévios, é difícil vislumbrar posições comuns. No entanto, os ministros das finanças africanos apresentaram, com a ajuda da CEA, uma lista de 17 medidas para reformar a arquitetura financeira internacional e enfrentar as emergências da dívida pública dos países. Espero que os líderes africanos sigam uma estratégia consistente”, sublinha.

Lopes encerrou a entrevista enfatizando que é necessário reverter o paradigma do financiamento de curto prazo para projetos de longo prazo que beneficiem os países devedores e as suas populações. O economista acredita que essa é a única proposta concreta que realmente importa no contexto atual.

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