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Bebé Salvego desponta na música brasileira como a voz da nova geração

Bebé Salvego | ©Wallace Domingues
Bebé Salvego | ©Wallace Domingues

De Isabela, tornou-se Bebé. A cantora brasileira, que cresceu entre músicos e artistas, carrega o jazz na sua alma e tem como principais influências divas magnânimas como Billie Holiday e Sarah Vaughan. Com 18 anos de idade e natural de Piracicaba, cidade no interior de São Paulo, a jovem já é detentora de uma carreira ímpar. 

Em 2011, sua voz marcante chamou a atenção do apresentador Jô Soares, um dos maiores entrevistadores do Brasil. Alguns anos depois, em 2016, participou no programa “The Voice Kids Brasil”, recebendo destaque ao interpretar canções da já citada Holiday. 

Seu primeiro álbum de originais, Bebé veio ao mundo em 2021, com o intuito de promover uma nova estética sonora. Bebé Salvego, além de um timbre memorável, carrega o frescor e a garra de uma nova geração que tem muito a dizer. Em suas composições, ela faz questão de falar o que sente e de comover o público: a música sensível fala sobre momentos de introspecção e o autoconhecimento. 

Doravante, Bebé deseja alcançar novos universos com a sua arte. Seu primeiro concerto em terras internacionais aconteceu em Portugal, no festival MIL Lisboa, esta quinta-feira, 28. 

Como a influência de sua família de músicos e artistas moldou sua paixão pela música desde cedo?

Bebé: Na minha casa sempre houve muitos discos. Então a gente ouvia bastante Djavan, ouvia bastante Wayne Shorter. Então, para mim, sempre foi um lugar natural. No meu mundo de criança aquilo era a única coisa que existia, a música para mim era a única profissão no mundo, a única possibilidade para eu me encontrar. Meu irmão também desde pequeno sempre foi muito prodígio, tocava muito violão cigano, e isso me interessou pelo jazz. Meu irmão me inspirou muito nesse sentido, ver ele tocando, tirando os standards de jazz. Então aí não teve como escapar desse molde.

Seu timbre vocal único tem sido comparado ao de divas do jazz como Billie Holiday e Sarah Vaughan. Como você desenvolveu esse estilo vocal distinto?

Bebé: Eu acho que é porque a minha escola é o jazz, então, sempre estudei muito o jeito que essas cantoras reproduziam. Eu sei que Billie Holiday, cada som que ela cantava, ela cantava de uma maneira diferente. Eu acho que de ouvir muito também, sei que o meu timbre tem um miado às vezes um pouco mais puxado, né? Então, sinto que eu trouxe isso para o meu repertório brasileiro e acabei conseguindo separar o que é meu, o que é dessa influência, essa coisa de cantar um pouco mais arrastado, que vem muito da música negra, do R&B, do Jazz, do Soul. Acho que é isso. Essa escola, com certeza, foi o principal para eu desenvolver essa autenticidade.

Pode nos contar mais sobre sua experiência ao ser convidada para uma entrevista no “Programa do Jô” em 2011?

Bebé: Para mim foi uma surpresa, porque foi muito do nada. Quando a produção do Jô ligou, a gente até achou que fosse um trote de algum amigo. Na verdade, a produção dele me viu cantando no YouTube, porque desde pequena eu já gravava uns vídeos cantando versões em jazz. Eu tinha uns 10 anos. A produção do Jô me ligou e a gente achou que era trote, mas era verdade. Eu fui ao programa e foi incrível. Ele me recebeu muito bem. E, além de tudo, ele me deu um microfone de presente, um microfone vintage do jazz. Foi super legal porque isso ficou marcado. Eu acho que o sonho de toda a artista é ser entrevistada pelo Jô e eu consegui ser. Para mim, é uma honra e ter um presente dele em casa também é muito incrível, muito mágico.

Em 2016, participou do The Voice Kids Brasil. Como foi essa experiência?

Bebé: O “The Voice” para mim foi mais uma experiência de visibilidade para apresentar um pouco mais sobre o meu trabalho. Meus pais sempre me conscientizaram sobre essa questão da competição. Porque quando fui para o “The Voice”, foi como convidada através da produção do Jô. E eu, quando era pequena, não estava muito disposta a isso porque eu sempre dizia que música não era competição e que eu não precisava daquilo, mas aí, meus pais me conscientizaram de que não, “você vai lá para mostrar muito do seu trabalho”. E foi super interessante, porque, além da visibilidade que tive, tive contato com outras crianças que também cantavam e tinham contato com a música. Então não me sentia mais sozinha, mas sim num local cheio de possibilidades e de oportunidades de conhecer pessoas do Brasil inteiro. Para mim foi ótima a experiência.

Foi quando você começou a ser reconhecida?

Bebé: Sim, acho que foi quando comecei a ter uma visibilidade maior, apesar de que o Jô deu uma visibilidade mais internacional e o “The Voice” foi centralizado no Brasil. E aí, como eu morava no interior, as pessoas ficavam muito ligadas. Tipo, eu era a menina de Piracicaba que participou do reality. Então, fui bem exposta desde pequena. E isso foi uma coisa que eu lidei muito bem. Sempre fui muito tranquila e não ligava muito para essa exposição. Não dava muito valor a isso, sabe? Para mim, era tudo brincadeira.

Desde muito nova você esteve exposta a grandes públicos. Em questão de saúde mental, como você lida com a fama?

Bebé: Eu lembro que quando + era pequena, meus pais tiveram o cuidado essencial de cuidar das minhas redes sociais para que eu não tivesse muito acesso aos comentários das pessoas. Mas na rua mesmo eu percebia que a exposição era grande. No começo isso foi estranho porque eu percebia que era uma coisa incomum. Eu percebi que algumas pessoas eram invasivas e a gente tinha que tomar cuidado com certos tipos de pessoas que, enfim, não tinham muita noção. 

Bebé: Mas, com o tempo, fui me acostumando com isso e eu gostava disso também. Eu sou assim, sei lá, minha lua é um leão, então eu adoro aparecer, sabe? Tipo, num bom sentido, me faz muito bem ser vista, me faz muito bem estar exposta. Por isso que o meu álbum fala muito sobre esse processo de amadurecimento. Porque quando fui para a adolescência isso já ficou um pouco turbulento. A exposição, o modo em que a Internet mudou o jeito que eu produzia conteúdo. Isso foi meio que um choque para mim. Então, passei um tempo bastante isolada, um tempo amadurecendo o que é meu, o que é do público, o que eles perspectivam em mim. 

A convite do maestro Jamil Maluf, você se apresentou acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Piracicaba. Pode compartilhar connosco como foi essa colaboração?

Bebé: Foi um sonho gigantesco esse dia. Quando eles me convidaram fiquei muito feliz porque é mágico, né? Ver todos aqueles instrumentos de corda e toda aquela harmonia que acontece. Para mim foi uma realização de criança, porque eu observava Billy Holiday cantando com uma orquestra e de repente eu tava cantando com uma orquestra. E ainda, depois disso, tive a honra de ser acompanhada com uma orquestra maior. Então, foi uma preparação para depois tocar com a Jazz Sinfônica Brasil. Eu tinha 16 anos, foi outra experiência, já tinha uma outra cabeça, uma cabeça mais adolescente. Então, é realmente uma experiência inenarrável.

Você pretende repetir o feito?

Bebé: Com certeza. Acho que é um desejo que eu nunca vou abandonar. Inclusive, o meu sonho é estudar muito, fazer meus discos e, sei lá, lançar daqui a um tempo um disco com uma orquestra, sabe? Fazer algo do tipo.

Como foi a experiência de participar de um show no Ibirapuera em homenagem às mulheres, ao lado de grandes artistas como Roberta Sá e Fafá de Belém, em 2020?

Bebé: Foi uma honra, principalmente por estar perto dessas cantoras que eu admiro e escuto desde pequena. Foi inacreditável. Acho que só cai a ficha depois que a experiência acontece porque, quando está acontecendo, você acha que é um sonho. E eu sou tão tranquila, tento naturalizar a vivência dessas pessoas mas, ao mesmo tempo, fico pensando “nossa que doideira”. 

Em 2021, você lançou seu primeiro álbum de originais, “Bebé”, premiado pelo ProAc em 2019. Pode falar mais sobre o álbum e sua nova estética sonora?

Bebé: Foi uma doideira porque eu resolvi fazer essa transição para o autoral. Depois de ser intérprete de jazz, fui para o autoral e, para mim, esse campo era uma novidade, uma coisa nova que eu nunca tinha feito. E aí, estar sendo reconhecida também nesse meio, para mim, é muito louco. Porque eu transicionei para esse meio justamente para ter um autoconhecimento melhor. A partir disso, fazendo meu som eu consigo conquistar coisas. Porque, geralmente, o mercado coloca a mulher negra nessa caixinha de ou você é a cantora que canta soul e jazz e vai cantar, interpretar a música dos outros a vida inteira, ou você não é instrumentista, ou você não é produtora musical. Então ter furado essa bolha e ter sido reconhecida realmente foi uma força para continuar trabalhando no meu autoral. Desenvolver os meus próximos discos, me divertir mesmo, nas possibilidades.

Você poderia compartilhar connosco algumas de suas maiores influências musicais e como elas moldaram seu estilo?

Bebé: Olha, o jazz ainda continua sendo a minha escola, então gosto muito. Esse ano tive a honra de ver um show dela no The Town, da Esperanza Spalding. Gosto muito de Clube da Esquina e, hoje em dia, tenho amigos, que admiro muito da música brasileira contemporânea, que é Bruno Berle, Tuyo, Luedji Luna, Boogarins… Então, tem muitas pessoas que hoje em dia são meus amigos que me inspiram. Artistas da vanguarda também, como o Milton Nascimento, Esperanza Spalding, Wayne Shorter, todas essas pessoas com certeza são aulas para mim. 

Sua participação no Festival Mil Lisboa é uma grande oportunidade de se apresentar internacionalmente. Como você está se preparando para esse momento e o que espera alcançar com essa exposição internacional?

Bebé: Eu me inscrevi em São Paulo, totalmente despretensiosa, porque tinham tantos nomes grandes ali envolvidos. Depois de ter passado no pitch, lembro que foi um dia que eu estava com muitas dificuldades financeiras, estava discotecando para pagar o aluguel, sabe? E aí, recebi essa notícia de que iria para Lisboa e fiquei em choque. Falei “não é possível, gente, que eu que ganhei isso”.

Eu não acreditava que ia ganhar. Foi muita surpresa mas, hoje em dia, realmente acontecendo, estou muito empolgada, porque sei que o público de Portugal, eles são super abertos à música e são super atenciosos, super profissionais. Estou muito empolgada para entregar tudo nesse show. E espero que as pessoas gostem também. 

Além do Festival Mil Lisboa, você tem planos de expandir sua carreira internacionalmente? Como você enxerga as perspectivas de levar sua música para outros países e culturas?

Bebé: Sim. Esse ano pretendo abrir os primeiros caminhos, ficar em Lisboa mesmo. Por enquanto, vou ficar nesse curto período pela primeira experiência, para o ano que vem, com certeza, com o meu segundo disco, e tendo um show maior, vou conseguir fazer várias outras datas e outros lugares.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

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