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Bluay, um talento de 15 milhões e a luta contra a cegueira inevitável

Bluay
Bluay | Foto: Jorge Guimarães

José Carlos Tavares é Bluay. Nascido a 21 de agosto de 1999, aos 14 anos ingressou no mundo da música, mas um adversário invencível há muito se colocou no seu caminho, a artrite idiopática juvenil*. Bluay está praticamente cego de um olho e o outro está a cegar progressivamente. Com apenas 15% de visão e 200% de vontade de vencer, o jovem artista não desiste da batalha que tem como única resolução a conquista do seu lugar no meio artístico.

Os desafios são uma constante na sua vida, afinal, quando ainda pequeno, foi institucionalizado porque a família não tinha condições para subsistir condignamente às suas necessidades.

Hoje, a família é o seu porta-estandarte, já tem duas músicas lançadas com videoclipe no YouTube e uma participação com Piruka que lhe valeu mais de 15 milhões de visualizações, uma tripla platina e nove semanas a liderar a tabela de vendas em Portugal.

Na calha, há um EP com oito faixas, com booking da About Real Music e selo da Hoodgroove, onde Bluay quer revelar um pouco mais sobre a sua história e mostrar a sua maturidade artística.

Em entrevista, tivemos a oportunidade de descortinar algumas questões sobre este seu percurso atribulado mas promissor.

Podes explicar porquê Bluay?

Na altura, quando tinha de escolher um nome, quis uma cena original e que ficasse ligado à minha imagem de marca. Então, escolhi Bluay, que subentende olho azul  (blue eye, em inglês), até porque eu tenho um olho azul e outro castanho então ficou Bluay.

Como foi a tua infância?

A minha infância foi sobretudo positiva. Dava tudo para voltar a ela. Teve altos e baixos como na vida de qualquer um mas prevalece o que vivi de positivo.

Sabes dizer-nos quais as causas que levaram a que tenhas apenas 15% de capacidade visual?

Eu tenho artrite idiopática juvenil. É uma doença que faz libertar um líquido que ataca os tecidos moles. Aos dois anos cegou-me logo o olho esquerdo e, com o tempo, foi-me cegando o olho direito.

Já alguma vez deixaste de acreditar e de querer seguir em frente?

Já algumas vezes, sim. Às vezes fica difícil, principalmente por ter uma doença que se vai intensificando gradualmente. Na vida vamos sempre ter momentos melhores e outros piores. Não nos devemos focar nos acontecimentos negativos e sim nos positivos e não há nada que a fé não resolva.

Através da tua página de Instagram é possível perceber o quão és ligado à família, em especial aos teus pais. É por eles que lutas por uma carreira de sucesso na música?

Os meus velhotes são tudo para mim. Aos sete anos fui retirado da minha família e fui para uma instituição e aí pude ver o que é estar privado da família. Portanto, tudo, hoje em dia, tem mais sabor precisamente porque os meus pais podem experienciar todas estas vitórias. No início, quando as coisas começaram a dar certo, mostrava-lhes os vídeos no YouTube mas ele não entendiam muito bem. Quando eu tive uma atuação ao vivo no The Voice Portugal é que eles realmente perceberam a dimensão das coisas. Esse dia foi extremamente especial, eles transbordavam de orgulho do filho e isso é indiscritível.

Sempre te apoiaram e ajudaram a lutar pelos teus sonhos?

Eles apoiam-me sempre e ainda me lembro que, no início, a minha mãe entrava no meu quarto e dizia “Lá está ele com a rezas!” mas dá sempre aquele apoio e o meu pai exatamente a mesma coisa. Diz que tenho de aprender a dançar, é engraçado. Eles apoiam sempre.

Quando é que começaste a ter interesse em cantar?

O meu interesse em cantar foi natural. Poderá, também, ter surgido das vezes que assistia a  vídeos de algumas batalhas entre rappers e dizia para mim mesmo que também era capaz. 

Abriste o ano de 2020 a cantar. Estiveste em palco com o Piruka a atuar para um público completamente rendido ao teu talento. De lá para cá, como está a tua carreira musical? O que tens feito?

De lá para cá foi um bom tempo. Tenho trabalhos pendentes que atrasaram. Agora também, levado um pouco pela onda da pandemia, parei para analisar as cenas. Recomeçar é sempre bom porque vês sempre melhor. Aproveitei para assentar e fiz algumas coisas que acho que o público vai gostar.

“Louco” teve mais de 15 milhões de visualizações no YouTube. Esperavas que fosse um sucesso com esta dimensão?

Nunca pensei que iria ter esta dimensão. Nunca, nunca, nunca. Sempre achei que fosse ser algo bom mas, ultrapassou completamente todas as expetativas e, o facto de, na altura, não ter bem noção, não cheguei a entender com clareza como é que se tornou um sucesso mas os números falam por si.

O que é que mudou na tua vida depois disso?

Mudou tudo. Nem estou a falar em termos financeiros sendo que, a mundança mais fulcral para mim foi ver a união da minha família. O ambiente não era muito bom. Os meus pais e os meus irmãos juntaram-se ao perceberem a minha progressão na música. 

Viver na Ajuda (Lisboa) influência nas tuas letras?

Sim, influência bastante. Num raio de cinco metros passas por pessoas de várias culturas e isso acaba por passar para a minha música. São fortes influências, africanas, ciganas…

Tens algum género musical com que mais te identifiques?

Sim, o trap brasileiro. O trap americano dispensa comentários, pois, sabemos a influência que são os EUA neste registo musical. Eu gosto de música no seu todo mas este é o mais “pesado”.

Já realizaste o teu maior sonho?

Não, ainda não realizei mas, se Deus quiser, não há-de faltar muito. Ainda quero ter o meu “cubico”, o meu sonho é ter a minha casa. O resto nós lutamos.

Qual a principal mensagem que queres deixar com o teu trabalho? 

A principal mensagem da minha música é deixá-la ser arte e a beleza da arte é que cada um pode fazer a sua própria interpretação. Eu sei o que estou ali a plantar mas prefiro que as pessoas oiçam e tirem a mensagem que para elas faça maior sentido.

*A artrite idiopática juvenil é uma desordem auto-imune (doença provocada pelo próprio corpo) severa, que causa dolorosas manifestações de desabilitação. A ocular pode conduzir à cegueira. O termo idiopática deve-se ao fato da causa da doença ser desconhecida. Já o termo “juvenil” refere-se à faixa etária na qual a doença se manifesta, abrangendo desde a infância até os 16 anos.

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