Afastados dos hotéis, expulsos das suas casas ou proprietários que cortam abusivamente a energia das casas, a comunidade africana e afro-americana em Guangzhou, na China, diz estar a ser vítima de discriminação abusiva e detenção nos últimos dias. Alguns dos incidentes provocaram fortes reações de diplomatas africanos.
O aumento de casos de covid-19, em Guangzhou, a norte de Macau e Hong Kong, levou a população a rejeitar e descriminar negros, por acreditarem que esta comunidade é a responsável por uma segunda vaga da epidemia.
Neste sábado, 11, a embaixada dos Estados Unidos aconselhou os afro-americanos a evitar a cidade, escreveu a RFI.
A Associated Press revelou que “a polícia ordenou que bares e restaurantes não atendessem clientes que pareçam ser de origem africana” e que as autoridades locais determinaram a realização de testes obrigatórios e ‘auto quarentena’ para “qualquer pessoa com contactos com africanos”.
Várias imagens circulam nas redes sociais, como um vídeo em que um diplomata nigeriano grita com uns homens vestidos com fatos de proteção brancos: “devolvam os nossos passaportes”. São empresários e estudantes forçados a dormir nas ruas.
Chinese authorities seize passports of @_AfricanUnion member states in Guangzhou requesting they go into another mandatory 14 days quarantine directed at Africans living in China #StayHomeStaySafe #FlattenTheCurve pic.twitter.com/ZNn7ox0Dy0
— Àbíọ́dún Àbídoyè (@abbey_lincoln) April 12, 2020
A polícia e o departamento de saúde pública indicaram aos jornalistas que as autoridades estão a tentar lutar contra os rumores de que “300 mil negros” naquela cidade do sul da China “estavam a desencadear uma segunda epidemia”, o que “causou pânico”.
Em resposta à atitude abusiva e discriminatória dos cidadãos de Guangzhou, diplomatas africanos reuniram-se com responsáveis do Ministério das Relações Exteriores da China para expressar “preocupação e condenação dos acontecimentos perturbadoras e humilhantes” às quais os seus “cidadãos foram submetidos”, revelou a embaixada da Serra Leoa em Pequim, num comunicado difundido na sexta-feira.
E ainda assim colocam a China no Conselho de Direitos Humanos da Onu. https://t.co/dnU1CNnBw1
— Pando (@pandainbadmood) April 12, 2020
A situação também motivou críticas do presidente da Câmara dos Deputados da Nigéria, Femi Gbajabiamila, através do Twitter, e a intervenção do ministro das Relações Exteriores da Nigéria, Geoffrey Onyeama, que disse ter convocado o embaixador chinês para expressar “extrema preocupação” e pedir uma resposta imediata do governo de Pequim.
O Quénia também já se manifestou através de uma declaração do Ministério das Relações Exteriores e da embaixada daquele país em Pequim.
The African Union has summoned the Chinese ambassador regarding Africans being evicted from flats and hotels in Guangzhou over claims they are spreading Coronavirus. Some complain about being put in mandatory quarantine despite testing negative for the virus. pic.twitter.com/Iqs33x5Ufi
— Nancy Kacungira (@kacungira) April 12, 2020
Devido ao aumento de casos de coronavírus naquela cidade, a maioria casos importados, Pequim anunciou que vai banir durante dez anos todos os estrangeiros que não respeitarem a quarentena.
Nos últimos dias, Guangzhou registou 114 casos de contaminação importada, uma grande maioria da diáspora chinesa e 16 africanos.
Relembramos-te que a BANTUMEN disponibiliza todo o tipo de conteúdos multimédia, através de várias plataformas online. Podes ouvir os nossos podcasts através do Soundcloud, Itunes ou Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis através do nosso canal de YouTube.