Doutor Gama, a história do advogado negro e abolicionista Luiz Gama (1830-1882) chegou aos cinemas brasileiros no dia 5 de agosto, com Isabel Zuaa a interpretar o papel de mãe da personagem principal. Zezé Motta e Samira Carvalho também participam no filme de Jefferson Dé.
Interpretado pelo ator César Mello, Luiz Gama – filho de uma africana ex-escravizada e de um fidalgo português – foi um homem negro que utilizou as leis e os tribunais para libertar mais de 500 escravos no século XIX.
Nasceu livre mas, para se livrar das dívidas de jogo, o pai vende-o aos dez anos, e viveu iletrado até aos 17 anos. Contra todas as probabilidades, Gama tornou-se num proeminente inteletual negro – advogado, jornalista, escritor e orador – de um Brasil escravocrata do século XIX, sendo que foi o único autodidata e a passar pela experiência de cativeiro. Chamado de “Orfeu de carapinha”, Gama era também um poeta que dominava tanto a poesia lírica, quanto satírica.
Numa crítica ao filme publicada pelo site de entretenimento brasileiro Omolete, lê-se que “chega a ser difícil acreditar que uma personalidade como ele demorou tantos anos para ganhar um filme. Mais assustador ainda é pensar que o Brasil possui uma diversidade gigantesca de personalidades negras que mereciam ter suas histórias contadas nas telonas, mas não as têm”.
Numa conferência de imprensa, o realizador da película explica que Doutor Gama surgiu da necessidade de ligar as pessoas à História. “Pensei comigo, essa é uma história que eu gostaria de contar, deste homem que tinha uma trajetória pessoal muito parecida com a de um herói. No início me veio à mente: ‘mas ninguém tinha feito um filme sobre ele?’. Tem diversos filmes sobre Tiradentes, até sobre independência ou morte, e nenhum sobre Gama. Então ele surge desta vontade de conectar as pessoas em uma ponte com a pesquisa histórica de sua vida. Esta não é uma obra definitiva sobre Gama; sua história pode ser, e espero que seja, desdobrada em muitas outras obras.”
Para o diretor Jefferson Dé, é urgente que as histórias cinematográficas possam ser contadas com uma equipa diversa nos bastidores para que as narrativas sejam sejam igualmente diversas e não exclusivamente de um perspetiva.
Ao nosso parceiro MundoNegro, a atriz Mariana Nunes, que interpreta Claudina, esposa de Gama, explica isso mesmo. “As pessoas confundem diversidade com cota. Acham que diversidade é colocar um preto ali na sala de roteiro, mas não pensam nos lugares de direção, de chefia. Não pensam para além de diversidade, de inclusão. A inclusão é trazer o diverso e criar condições para que esse universo exista plenamente e existir plenamente é ele falar do seu ponto de vista, do seu lugar de fala e falar com pessoas que tenham outro ponto de vista”, diz a atriz.
Para já, não há previsões para o filme Doutor Gama ser exportado para Europa ou África.