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“A Guiné não precisa de estrelas para ter uma boa equipa”, Evandro Delgado

Seleção Guiné-Bissau, CAN 2021 | © AFP - DANIEL BELOUMOU OLOMO
Seleção Guiné-Bissau, CAN 2021 | © AFP - DANIEL BELOUMOU OLOMO

Dois dias depois da estreia do torneio, Cabo Verde e Guiné Bissau já realizaram os seus primeiros jogos da fase de grupos. Os tubarões azuis, com alguma dificuldade, venceram a Etópia por uma bola a zero; enquanto os djurtus ficaram-se pelo empate 0-0 contra o Sudão.

Depois das polémicas da organização do evento nos Camarões, esta CAN acontece a meio do campeonato europeu – causando alguma relutância por parte dos clubes, sobretudo ingleses, por terem de dispensar jogadores cruciais – e numa altura em que a variante de coronavirus Ómicron está a alastrar-se pelo mundo inteiro, com impacto direto no desempenho das equipas africanas.

Estivemos à conversa com o jornalista Evandro Delgado – que acompanha de perto diferentes modalidades desportivas africanas, tendo já feito a cobertura de duas Copas Africanas das Nações, na Guiné Equatorial e Gabão, em 2012, e África do Sul em 2013 – para fazer previsões e um balanço sobre o atual estado das equipas de Cabo Verde e Guiné Bissau, bem como sobre as polémicas que ensombram a competição.

Delgado acredita que esta nova variante de covid-19 poderá ter um grande impacto na competição. “Obviamente que se um Egito perde um jogador como Mohammed Salah ou um Senegal, por exemplo, ficar sem um Sádio Mané, estamos a falar de jogares com um peso muito forte, tanto na competição em si como dentro das próprias seleções. Não são jogadores que possam ser substituídos, estamos a falar de jogadores da elite mundial”, explica.

Cabo Verde é uma dessas seleções afetadas logo no início da competição, com pelo menos sete jogadores a testarem positivo, incluíndo o treinador Bubista e o capitão Marco Soares, que tiveram de ficar no arquipélago até receberem um resultado positivo e em seguida poderem juntar-se à equipa nos Camarões. “É quase impossível fazer qualquer perspectiva daquilo que pode acontecer ou não e é preciso ter em conta que o peso que a pandemia pode ter na prova”, sublinha o jornalista.

É um problema de difícil resolução que também tem a ver com uma visão europeísta do mundo

Evandro Delgado

Sobre a polémica com os clubes europeus, que acabam por dificultar a libertação dos jogadores selecionados para o torneio, Evandro lembra que “a CAN sempre aconteceu sempre por esta altura, entre Janeiro e Fevereiro. De dois em dois anos sempre foi assim e, sempre que acontece, a Europa lembra-se que a África existe. Durante os outros meses é completamente ignorada, por assim dizer, e nesta altura, as equipas europeias fazem todos os possíveis para impedir que os jogadores participem da prova ou então só os liberta quase fora do prazo ou chegam a acordo com as federações para que os jogadores fiquem mais tempo [nos respetivos campeonatos]. É um problema de difícil resolução que também tem a ver com uma visão europeísta do mundo.”

Evandro fez-nos um resumo sobre as duas equipas PALOP a participarem nesta 33ª edição da CAN. “A Guiné está a jogar com 12 jogadores que atuam em Portugal, 6 que atuam em França e o resto está espalhado no continente africano e nos campeonatos árabes. As grandes estrelas da Guiné Bissau são o Nanu do Porto e o Pelé do Mónaco. Depois tem um vasto leque de jogadores em segunda liga e a verdade é que mesmo não sendo estrelas conseguiram apurar-se para a CAN”.

A Guiné não precisa de estrelas para ter uma boa equipa

Evandro Delgado

Sobre eventuais prognósticos, apesar de imprevisiabilidade, Evandro arrisca que a Guiné é a equipa entre os PALOP que mais consistência tem. “A Guiné é um bocado parecida com o Senegal, que, apesar de ter o Sádio Mané, que é seu expoente máximo, não precisa de estrelas para ter uma boa equipa. E é o facto de não ter estrelas que faz com que seja uma excelente equipa. Obviamente que as pessoas quando olham para a Guiné Bissau e procuram por nomes sonantes, como Nanu e Pelé, mas não são esses jogadores que fazem a diferença na Guiné, é o conjunto em si”, explica.

Já no caso de Cabo Verde, país de onde o jornalista é originário, Evandro ressalva a sua experiência. De recordar que os tubarões azuis, em 2013, na sua estreia na competição, chegaram aos quartos de final. “Penso que poderá sonhar com uma passagem para a próxima fase mas terá de jogar melhor daquilo que fez, por exemplo, no apuramento para o Mundial. Não esteve tão mal, esteve até ao último jogo a lutar com a Nigéria para ver quem ficava no primeiro lugar do grupo”, mas precisa de uma prestação melhor para conseguir chegar mais além na CAN.

Questionámos ainda Evandro Delgado sobre estas equipas raramente convocarem jogadores a atuarem nos próprios campeonatos nacionais, indicador do nível de desempenho dos mesmos. “Isso sempre aconteceu. Cabo Verde muito raramente convoca jogadores de campeonatos locais, porque muitos são campeonatos que estão sempre parados, nos tempos de pandemia foi muito complicado”.

Apesar do desdém com que os clubes e organizações, sobretudo europeias, olham para a CAN, Evandro diz-nos que o mesmo não acontece, por exemplo, com a classe jornalística portuguesa que acompanha a competição.

“É sempre uma prova vista com entusiasmo pelos próprios jornalistas e também pelos próprios europeus. Gostam da competição. A CAN acaba por se distanciar um pouco daquilo que é o Euro ou o que é uma Copa América, apesar de muitos treinadores serem europeus e terem jogadores a jogar em campeonatos europeus. O torneio continua a ter um futebol ‘bruto’, no bom sentido, por exemplo, uma equipa que precisa mudar o resultado nos minutos finais, mas quando tem a bola toda gente vai para o ataque, não fica ali a dar toques para segurar o jogo e a queimar tempo. O futebol continua a ser muito puro, apesar de haver seleções muito mais organizadas, dependendo da experiência e dos jogadores que cada uma tem.”

Evandro Delgado é jornalista desportivo há vários anos em Portugal, tendo trabalhado em redações que acompanham directamente o desporto africano.

De recordar que, na primeira mão da fase de grupos, Cabo Verde estreou-se nesta edição com uma vitória, por 1-0, contra a Etiópia (golo marcado por Júlio Tavares, aos 45+1 minutos) e a Guiné-Bissau empatou 0-0 contra o Sudão.

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