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Kaysha cria coleção de NFTs e vende tudo em 38 minutos

Kaysha
Digital Kwele Warrior Edition 1/1 Kaysha x Shadaya Fine Arts | DR

Recentemente, Kaysha lançou uma coleção de Tokens não fungíveis (NFTs) “The Sleeves” (As mangas, em português). A coleção, constituída por 180 obras e que é uma estreia do artista no universo dos NFTs – que une arte e o impalpável do digital -, foi lançada às 14h de quinta-feira e ficou esgotada em apenas 38 minutos. A BANTUMEN falou com Kaysha no rescaldo do lançamento.

Kaysha é um digital sensei, como o próprio se autodenomina. Com um senso de gume fino, o artista franco-congolês que reside em Portugal, relatou como é que o mundo dos NFTs anedoticamente foi-lhe introduzido e como é que este é confluente à arte.

Tudo começou com um vídeo do YouTube sugerido pelo algoritmo e que acabou por ser uma mais-valia assistir. Numa noite, após alguns scrolls, o vídeo apareceu-lhe à frente e captou-lhe brevemente a atenção. Pela manhã do dia seguinte, estava ele a rever o tal vídeo que seria a estaca zero de um novo caminho artístico.

Os NFTs (Non-fungible token), tokens não fungíveis, em português ou nifties, para os mais íntimos, são ativos digitais que, em contra-mão do que se conhece sobre a tirania da Internet, são únicos, logo não podem ser trocados. Ao seu carácter sui generis adiciona-se uma camada de criptografia baseada numa blockchain. Uma blockchain é como um livro-mestre, uma base de dados que faz um registo de transações de moedas virtuais (como por exemplo a Bitcoin ou Ethereum) permanente e é considerado impenetrável.

Assim, o token virtual exclusivo torna possível justificar uma compra, seja ela real ou digital, e provar a autenticidade da mesma. Este aspeto único pode render milhões.

Segundo os dados da DappRadar, empresa que acompanha e coleta dados de dez blockchains, só em 2021, as vendas de NFT somaram 24,9 mil milhões de dólares, contra 94,9 milhões no ano anterior.

Este novo mundo aguçou o lado empreendedor do cantor e produtor. Kaysha começou por comprar e vender obras de outros autores mas a sua alma artística quis também criar.

“De repente, tive aquela vontade de desenhar algo e comprei, no Ipad da minha filha, um programa que se chama Procreate que permite imitar pinturas, fazer pinturas online com a pen da Apple. E comecei só a desenhar, algo que fazia quando era mais miúdo. Desenhava,   mas comecei, pouco a pouco, a testar coisas e encontrei o meu estilo. E foi assim que comecei a colocar as minhas primeiras obras nos dois sites que são Opensea e Foundation.”

Não imaginava um dia realizar o dinheiro de um ano inteiro de shows em 30 minutos

Kaysha

Em maio de 2021, o músico vendeu a sua primeira obra por 300 dólares e relembra que as duas primeiras geraram em torno de mil dólares cada. Com essas vendas, começou a aperceber-se de que as pessoas gostavam das suas pinturas digitais e do seu estilo e começou a alimentar ainda mais a ideia de tornar aquilo num business.

“Há um ano, nunca tinha tocado nesse iPad. Há muito tempo que sou designer gráfico, faço as minhas capas de álbum desde o início, mas desenhar e criar pinturas não é algo que imaginei [fazer] um dia. Até há um ano, não imaginava um dia realizar o dinheiro de um ano inteiro de shows em 30 minutos”, explicou-nos Kaysha.

Kaysha diz que “The Sleeves” é inspirado na série “Altered Carbon”, da Netflix, onde a morte é inexistente, porque a consciência pode ser digitalizada e os corpos, os sleeves, descartáveis, podem ser transferidos. Assim, a coleção protagonizou duas personagens em que as suas mentes e corpos descartáveis pudessem ser transferidos para propósitos diferentes.

A terceira personagem, divulgada pouco tempo depois de conversar com a BANTUMEN, foi uma oferta a um dos 180 holders (os netizens que compraram uma das 180 peças da coleção). É o que o artista chama de one on one, “porque no mundo da crypto podes vender um one on one que é um contrato para uma obra mas também podem ser 100, 50, 10. Então, cada Sleeve, dos 12, tem 15 contratos, então há 15 pessoas que são os donos de uma obra, mas a última, a número 13, vai ser única”, explica.

The Sleeves foi assim o primeiro drop NFT do também produtor musical. A génese dessa coleção dá-se após o CEO da crypto.com – uma plataforma de troca de criptomoedas – entrar em contato com o músico. “Depois de ver um tweet a vender as minhas obras ele disse: ‘Vem para a minha plataforma, quero trabalhar contigo, podemos fazer um drop.’ Então, fiquei mesmo ‘Whoah, que honra!’. E especialmente por ser uma grande empresa, a crypto.com que é mesmo enorme.”

Relativamente ao processo criativo da coleção The Sleeves, Kaysha disse que foi como faz na música: mirou o iPad branco da filha e com a Apple pen selecionou uma cor e começou a criar. “Improvisação”, relata.

A arte para o músico é binária, é a fusão entre ele e o seu alter ego, Edward, e é um elo que casa duas grandezas: a criação artística e o investimento.

“A arte, quando tenho o chapéu de criador, é só criar para exprimir sentimentos que tenho dentro do coração. Contar as minhas histórias de amor, de tristeza, de felicidade, de raiva. Tudo isso entra na música, beats, letras, melodias para mim e para os outros. Permite-me poder respirar sem afogar-me nos meus sentimentos. Para mim, a arte sempre foi para isso.” Já com o segundo chapéu, o artista é o detentor principal, mas não é o único. “O outro gajo que vive no meu corpo, o Edward, é um business man. Ele [Kaysha] vai deixar o Edward fazer o trabalho dele mas depois vai usar esse trabalho para ver qual é o mercado, o que é que podemos fazer no mercado e quanto dinheiro podemos ganhar para poder investir esse dinheiro. No futuro, pode-se investir esse dinheiro em criptomoedas, em stock options ou nas minhas outras aventuras artísticas.”

Desde que o mundo dos NFTs começou a confluir com o seu mundo artístico, Kaysha vive numa dualidade que não o incomoda. “Sempre consegui viver com essa dualidade que é a diferença entre mim e muitos artistas que não sabem gastar dinheiro. Não tenho nenhum problema em ter dinheiro e usá-lo para criar mais dinheiro e também ser o suporte das minhas produções”, frisa o artista.

Escrevendo músicas para artistas de renome como Blaya, Anselmo Ralph ou ainda Rita Guerra e arrecadando músicas da sua autoria feitas para o canal Trace, o também produtor diz que o dinheiro que acumula mensalmente permite-lhe viver bem.

Kaysha está longe de se achar um Michelangelo desta digital renaissance, como o próprio chama a esta nova era tecnológica liderada pelas blockchains.

De ressalvar que, o lançamento da coleção The Sleeves era para ser um drop de 24 horas mas começou às 14h e, de um total de 180 peças de cores vibrantes e muitos estímulos, não sobrara nada 38 minutos depois. O artista foi positivamente surpreendido pelo resultado, como pode-se ver num vídeo, com a filha presente, partilhado na sua conta oficial do Instagram.

Estou sempre a sentir-me um impostor, porque fui número um do Zouk e não sou das Antilhas, fui número um da Kizomba e não sou nem angolano, nem cabo-verdiano, nem português

Kaysha

Em retrospeto, o artista fala-nos  abertamente de como a síndrome de impostor o tem acompanhado em várias etapas da sua vida artística, e de como é que essa condição, de certa forma, amorteceu a avidez de lucro e concedeu-lhe uma certa humildade: “Estou sempre a sentir-me um impostor, porque fui número um do Zouk e não sou das Antilhas, fui número um da Kizomba e não sou nem angolano, nem cabo-verdiano, nem português – okay, a minha mãe é metade portuguesa, mas nasci no Congo e vivi em França a minha vida inteira. Tenho a música mais tocada do mundo de coupé-décalé que é a On dit quoi? e também “Good Life” e não sou da Costa do Marfim. Então, tenho sempre esse sentimento.” 

O produtor musical relembrou também que quando, numa reunião com a equipa do crypto.com, decidiram o preço final de cada pack da coleção The Sleeves, 400 dólares, achou que ninguém compraria uma obra sua por esse valor. “Já vendi obras a mil, mas, para mim, de uma certa forma, foi um acidente e vender uma obra é uma coisa, vender 180 obras, meu deus!”, relatou aos risos.

Agora o artista pretende usar uma parte do dinheiro dessas vendas “para ajudar o mercado, para ajudar os artistas que não são famosos, que ninguém conhece.” Por isso, permanece na plataforma para continuar a criar a sua arte digital e para, paralelamente, pavimentar o caminho para outros artistas africanos.

“O meu objetivo é ajudar artistas que estão em África, que estão no Congo, Guiné-Bissau, Cabo-verde, entre pintores, cantores, escultores, e dar-lhes a possibilidade de realmente viverem do seu trabalho. Porque vi mil vezes, em África, artistas que vendem estátuas na rua ou que vendem artes magníficas por cinco dólares e depois pessoas pegarem nessa arte e venderem nas galerias de Nova Iorque por 10 mil dólares e que voltam depois para África para comprar de novo por cinco dólares. Eu quero ver os africanos entrarem nessa digital renaissance e permitir que um artista que está [a vender] na rua no Congo, Guiné ou Burkina Faso e que tem talento aprenda a criar obras [digitais].”

No artigo sobre NFTs e a falta da visão portuguesa para a promoção da arte lusófona, Carlos Cabral Nunes, fundador e curador da galeria de arte portuguesa Perve, explica que os NFTs podem ser uma das alavancas para a valorização da arte e de artistas africanos de expressão portuguesa, porque, “a partir do momento em que isto se puder tornar de facto num recurso de expressão comercial, muitos artistas que hoje não têm hipótese de chegar ao colecionar final, porque estão em África e não têm o contacto, até mesmo com as galerias ou com o intermediário, através do NFT passam a ter acesso a outro tipo de liberdade. Portanto, penso que isso pode ajudar também à viabilização de que os artistas estejam em pé de igualdade”.

Kaysha não tem aversão a mudanças ou a novas aventuras artísticas. Está pronto para abastecer de sinergias business nas comunidades artísticas africanas e vai continuar a mostrar a versatilidade artística de que é feito.

Sem dar mais detalhes, diz resumidamente que está em conversas com quem sabe para a criação de uma nova plataforma e que vêm aí mais drops NFTs.

“Tenho muitas ideias e tenho muitos contatos e, de uma certa forma, vou fazer o que sempre fiz desde o início, [vou ser] a pessoa que está lá na frente a abrir as portas para nós”, sublinha.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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