Manú Reys é conhecido como um dos melhores compositores da nova geração da música cabo-verdiana. É a “caneta” por trás de músicas como “Txika” e “Zombam”, cantadas por Élida Almeida e Djodje. É também cantor, vindo do bairro de Lém Cachorro, na Cidade da Praia, onde o sonho da música se começou a materializar, dando forma ao EP Sem Sentido (2021).
Neste momento, o artista está na fase final do processo criativo do seu álbum, que será lançado ainda este ano, embora ainda sem data agendada. Conversámos com o artista no festival Atlantic Music Expo (AME), em Cabo Verde, onde subiu ao palco para um concerto de apresentação dos seus trabalhos e de temas que compôs para outros artistas.
Uma das suas grandes aventuras, que se tornou num sucesso, foi a música “Dodu Dodu”, com a participação do grupo Ferro Gaita, cuja letra foi toda escrita pelo artista, num estilo musical novo para si (em termos profissionais), o funaná. “Foi muito bom. Basta estar no estúdio com eles [Ferro Gaita] para sentir o quão fortes são em termos de criar e recriar a cultura de Cabo Verde. Acabei por aprender muito, desde a forma de organizar, de arranjar e da própria estrutura da música”, garantiu numa outra entrevista a um jornal cabo-verdiano.
Na nossa conversa, falámos sobre Cabo Verde, a morabeza, das suas letras, dos Ferro Gaita, de Élida Almeida, do seu EP… Enfim, falámos de música. Sem Sentido foi o seu primeiro grande projeto lançado, um trabalho que expõe a pessoa que é Manú Reys. Primeiramente, o artista lançou o single com o mesmo nome do EP, que serviu como uma prévia do que viria a ser o álbum.
Esse ano de 2021 trouxe-lhe bons ventos, com o EP a colocá-lo oficialmente no mercado. O vídeo da música que deu o título ao projeto foi, inclusive, gravado em featuring com o rapper popular Batchart.
Manú afirma que escreveu as músicas deste Sem Sentido com caneta, violão, papel e lágrimas, já que foi um momento muito difícil para ele. As canções que o compõem representam a história de vida do cantor, que em 2018 perdeu a sua parceira de vida e de palco, Soraia, com quem partilhava o sonho de lançar um álbum. “Fazer esse trabalho, as músicas, foi terapêutico, sim. É um trabalho que é muito intrusivo, que é muito meu, que fala muito das minhas experiências. Este EP é também, de alguma forma, dor para mim. Estar no estúdio, estar com o pessoal a produzir, com colegas, com músicos, estar no processo criativo para mim foi terapia. E foi a minha forma de tirar toda aquela dor. É claro que nunca conseguimos tirar o que vem na alma, mas foi a forma que eu consegui de me libertar”, desabafou Manú emocionado.
Durante a entrevista, Manú precisou fazer uma pausa para se recompôr, já que este trabalho é muito pessoal, com pedaços da sua alma em cada faixa. “Sem Sentido” é um desabafo transformado em música, mas também é uma celebração por ter conseguido expressar-se e finalmente libertar-se de parte da mágoa e da dor que o consumiam.
Para alcançar esse ponto, foi crucial para Manú afirmar-se como cantor, pois até então era reconhecido como compositor, aquele que cria músicas para os outros e faz excelentes composições. “Não foi difícil. Adoro compor e também adoro cantar. A única diferença é que agora escrevo para eu mesmo cantar. É uma apresentação só minha, mas tem sido uma experiência e tanto. É um novo processo com feedbacks muito positivos. E é isto. Vamos que vamos”, disse-nos entre risos.
E como resultado, este ano, Manú vai lançar o seu primeiro álbum, que garante ser um trabalho com boas músicas e muito fiel a si, com uma sonoridade cabo-verdiana mas com uma roupagem nova.
Manú Reys, começou a sua vida musical na dupla Manú & Soraia, criada em 2007 para animar vários espaços de música ao vivo na cidade da Praia. Um ano depois, recebeu o convite da Cabo Verde Produções para gravar o seu primeiro single, no álbum Projeto Verão 2008, com o tema “Baby bye bye”, em colaboração com Soraia. O tema foi regravado em 2020 com Neuza de Pina.
Em 2013, Manú Reys, participou na terceira edição de um concurso de talentos onde interpretou temas da sua autoria e chegou à final.
