Ou lês. A língua é elástica e por muitas regras que tenha, molda-se consoante o contexto. Afinal, língua é cultura e não só uma junção de sons e de letras. Nesse sentido, é importante que a nossa língua carregue esses traços de cultura.

Confusos? Vamos trocar por miúdos.

Por uma razão histórica, a língua portuguesa é a língua oficial de vários países, além de Portugal. Há quem diga que o português do Brasil é mais açucarado, o da Guiné, de São Tomé e de Cabo Verde mistura-se com os crioulos locais. Em Timor anda de mãos dadas com o tetúm. Em Angola, as línguas locais correm com as dezenas de dialectos. Deste mundo lusófono, conheço melhor o contexto moçambicano mas acredito que a dinâmica de comunicar o português deveria ser independentemente da geografia, ou seja, como é falado em cada país.

Regra geral, há uma tendência em comunicação de usar a língua, não como se ouve ou como se fala, mas sim como se escreve nos livros de Saramago. Nada contra. Sempre fui uma rapariga de Lobo Antunes mas será que são essas as referências que quereremos na casa dos Luandinos Vieira ou dos Craveirinhas?

Acho que não. Claro que é importante respeitar a língua, as suas regras e até a sua graciosidade mas ela é carregada de muitas mais coisas de acordo com a geografia. Vem carregada, acima de tudo, de mudanças. E se pretendemos falar com pessoas que estão trabalhando, comendo ou ensinando, porque é que vamos evitar o gerúndio?

Perceberam o exemplo?

Comunicar como o nosso público fala é sermos eficientes e representa manter a relação ao mesmo nível.

Sou eu que me quero fazer entender, então eu é que tenho que aprender a gíria, as respirações e até as cores de cada fala, mesmo que a palavra seja a mesma.