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Nuno Baio, as dificuldades e a vontade de empreender em Angola

Nuno Baio

Imbuído de uma vontade de experimentar algo mais direto e genuíno no ambiente dos pequenos negócios, Nuno Baio, jovem angolano de 36 anos, deixou o cargo de gestor numa empresa financeira para criar a sua própria startup, a Kubeta. Em menos de dois anos de existência, a Kubeta destacou-se ao conquistar em outubro o primeiro lugar no maior concurso de startups em Angola, o “Unitel GO Challenge”, vencendo outras nove startups na categoria de “Ideia Mais Inovadora”. Este concurso rendeu-lhe um prémio de quatro milhões de kwanzas (cerca de 4.300 euros), um ano de mentoria na incubadora UNITEL GO, acesso à aceleradora UNITEL, cinco computadores portáteis, um ano de telecomunicações grátis e divulgação nos canais de media UNITEL e parceiros.

A Kubeta é uma plataforma de formação, com uma ampla variedade de cursos, formações e treinos online, com o objetivo de promover e facilitar o acesso a conteúdos educacionais criados por profissionais e especialistas registados no site, reduzindo a necessidade de deslocação dos formandos, que muitas vezes têm de percorrer longas distâncias para frequentar cursos que podem ser realizados virtualmente.

Durante o evento “Unitel GO Challenge”, Nuno Baio, fundador e diretor da Kubeta, concedeu uma entrevista à BANTUMEN, onde partilhou a sua visão sobre negócios e abordou a criação da Kubeta, as dificuldades enfrentadas no mercado e as oportunidades para jovens empreendedores.

“Há coisas que não estão destinadas a dar certo contigo”, esta frase faz muito sentido para Nuno Baio, já que a Kubeta surgiu exatamente de um projeto que não funcionou para outros. Segundo Baio, a Startup resultou de um networking, que surgiu de uma brincadeira após uma publicação no Twitter em que pedia às pessoas para aparecerem em sua casa. Seis pessoas, que não conhecia pessoalmente, apareceram na casa da mãe, no dia de aniversário do seu padrasto. Enquanto conviviam, surgiu a ideia de criar cursos online num aplicativo. Um dos convidados disse que a ideia não teria sucesso porque ele e um amigo já teriam tentado desenvolve-la e não funcionou. Nuno respondeu: “Talvez não seja adequado para vocês, mas nas minhas mãos isso pode fazer todo o sentido”. Resolveram então discutir mais a ideia noutro dia, acabando por negociar o projeto que hoje já está implantado.

Nuno acabara de largar o cargo de gestor numa instituição bancária do país. Apesar das incertezas em relação ao negócio, decidiu arriscar, utilizando a sua rede de contactos. “Trouxe a minha rede de contactos para o negócio. (…) Talvez não funcionasse com o que eu tinha, mas eu sabia que conseguiria”, destacou.

Contudo, o empreendedorismo é um caminho sinuoso. “É verdade, muitas noites fui para a cama a chorar”, revela Nuno Baio.

O empreendedor acredita que nasceu para concretizar grandes planos e aconselha aos jovens africanos a acreditar no mesmo. No entanto, antes da Kubeta, Baio sentia a necessidade de “entender como é a vida a começar algo pequeno, com poucas pessoas, uma equipa pequena, e, ao mesmo tempo, sabia que tinha capacidade de investir em ideias, de investir em coisas pequenas e fazê-las crescer” mesmo que as estruturas sociais nem sempre estivessem alinhadas para proporcionar o apoio de que precisaria. “Aqui, como empresário, o próprio Estado desilude. Prestas serviços e simplesmente não te pagam e tens de pedir favores para seres pago”, referiu. Baio ressalva também que não é apenas um problema do Estado, visto que é algo que também acontece no setor privado, uma vez que até o acesso a créditos bancário é difícil. “Para mim, hoje, é mais fácil conseguir crédito na Europa do que em Angola”, confirmou.

Esta situação faz com que Nuno considere a possibilidade de procurar oportunidades no estrangeiro, pois, além dos problemas mencionados, existem questões de segurança no país. “Houve uma altura, em dezembro de 2020, em que fui assaltado três vezes, uma delas com a minha mulher e os meus filhos, foi uma situação terrível de invasão da casa”, lamentou.

Ainda assim, Nuno procura manter-se firme nos negócios com “fé, competência e networking”, três requisitos que o motivam a acordar cedo. Quanto às oportunidades, considera que “hoje em dia, os jovens têm acesso a muita informação”, facilitando a concepção de ideias para a criação de pequenas empresas e negócios tomando como exemplo outros países. “83 por cento da economia alemã é composta por pequenas empresas e pequenos negócios”, afirma Nuno.

Nuno entende que as mudanças na sociedade levam as pessoas a quererem mostrar o que valem, a entender, a estudar e a ler, principalmente na Internet, onde um vídeo pode ter 200 mil visualizações, provocando choques de ideias e, consequentemente, permitindo evolução.

Na sua opinião, apesar das dificuldades, o objetivo é procurar mais capacidade para pagar melhor e ter equipas cada vez mais satisfeitas e eficientes. Contudo, a consciência social tem de mudar. “O político não pode ser mais rico que o empresário. Isso não existe. o empresário tem de ser rico. O empresário tem de influenciar na política, não a política influenciar no empresário”, afirma Nuno.

Nuno Baio nasceu nas Ingombotas, Luanda, tendo crescido no Rangel. Frequentou escolas públicas e privadas em Luanda durante os seus estudos primários e secundários. Não concluiu os estudos universitários, impedido por outros compromissos, que o levaram a tornar-se um potencial empresário. Atualmente, aos 36 anos, regressou aos estudos e está a realizar uma pós-graduação na Universidade Nova de Lisboa, focando-se na melhoria das suas competências, sobretudo em gestão, que é a sua área de atuação.

Além da vasta experiência em operações internacionais e cambiais, tendo trabalhado como Técnico de Operações no Banco Privado Atlântico de Angola, o fundador da Kubeta foi também administrador na empresa Polpoza e consultor de gestão.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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