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Será a transição energética sustentável para África?

transição energética África
Foto: Karsten Würth

Muito se tem dito sobre a sustentabilidade energética, carros elétricos, painéis solares e, aparentemente, essa transição energética apresenta-se com a promessa de revolucionar o mundo e torná-lo num lugar mais próspero e pacífico, livre do petróleo, dos combustíveis fósseis e da poluição. Embora essa tese tenha os seus contrassensos, facto é que, ao nos libertarmos dos combustíveis fósseis, estaremos a preparar-nos para uma nova dependência de metais raros. O que volta a colocar estrategicamente alguns países africanos como peças importantes no xadrez económico internacional. 

A exploração Histórica do continente

A exploração do continente africano, ao longo da história, envolveu uma série de eventos e fatores, incluindo interesses económicos, rivalidades políticas e até ao saque dos recursos naturais. E isso começa com as explorações europeias em África, que começam a ganhar destaque nos séculos XV e XVI, com países como Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda a estabelecerem novas rotas comerciais até às explorações mais recentes, pouco depois das independências.

Após as independências, muitas nações africanas enfrentam ainda desafios económicos e políticos, incluindo o neocolonialismo, em que as nações ocidentais e outras continuam a exercer a sua influência de uma forma dominante sobre os assuntos de África. Afinal, séculos de dominação e subjugação limitaram a capacidade da mão de obra qualificada e, consequentemente, uma indústria de manufatura não funcional, o que colocou esses países num estado de inércia o ingrediente perfeito para que as indústrias multinacionais explorassem abertamente esses recursos.

Exploração contemporânea dos recursos

A exploração moderna do continente africano é resultado de uma combinação perfeita entre a carência anterior (política e económica) e a ineficiência atual dos estados, que envolvem questões como investimento estrangeiro, extração de recursos naturais, desenvolvimento de infraestruturas e cooperação internacional. A China, por exemplo, aumentou a sua presença e investimentos em muitas partes do continente nas últimas décadas. Por outro lado, empresas multinacionais como a Tesla, Volkswagen, Volvo, Peugeot, BMW, General Motors e Renault, todos os anos, investem bilhões de dólares em electromobilidade e, para isso, recorrem a muitos países subdesenvolvidos a fim de adquirir a matéria-prima, o que incontestavelmente leva-nos a discussões sobre a soberania das nações africanas e a sua independência económica. 

Quais são as consequências dessa exploração massiva?

Historicamente, a República Democrática do Congo tem sido a principal fonte de cobalto no mundo, fornecendo uma parcela substancial deste metal precioso usado na indústria global. A extração sempre esteve associada a preocupações sobre condições precárias sociais e de trabalho, incluindo o uso da mão de obra infantil e questões ambientais. 

Segundo a Amnistia Internacional, num relatório feito em 2016, a República Democrática do Congo, produz pelo menos 50% do cobalto mundial e 40 mil crianças trabalhavam em 2014 nas minas. Muitas delas na extração de cobalto, em turnos de 12 horas seguidas, transportando cargas pesadas, para ganharem entre um e dois dólares por dia. Em quase todos os casos, a exploração dos recursos naturais na África tem resultado no empobrecimento das comunidades locais, em vez do enriquecimento.

A dependência económica do ocidente em relação ao continente africano

As relações económicas entre o ocidente e África são complexas e multifacetadas. Desde os tempos coloniais até hoje, essa relação tem sido marcada por uma interdependência que se desenvolveu ao longo dos séculos. Embora o cenário global tenha passado por mudanças significativas, África permanece como um fornecedor natural de recursos e mão-de-obra, sustentando diversas indústrias e economias do ocidente. Nesse sentido, é inegável que o Ocidente mantém uma dependência económica com o continente, que precisa ser analisada com uma certa profundidade.

Essa dependência, pode ser observada em diversos setores. Primeiramente, a riqueza de recursos naturais do continente africano, como minerais, petróleo, gás e produtos agrícolas, tem sido uma fonte crucial de suprimento para as indústrias ocidentais. O uso intensivo desses recursos na fabricação de produtos e na geração de energia é essencial para manter a atividade económica nas nações ocidentais.

O que acaba por acontecer com a transição energética, já que ela é um desafio real que faz frente à economia atual e a sua sustentabilidade requer recursos específicos e muito bem localizados o que, factualmente, direciona todas as atenções para países como Marrocos (fosfato), Zâmbia (cobre), Zimbábue (ouro), Guiné (bauxita), Namíbia (urânio), entre outros.

Isso representa uma mudança significativa no cenário geopolítico e económico global, o que acaba por contribuir numa melhor tomada de decisões políticas e num conjunto de estratégias e investimento que colocam África na mesma esfera de competitividade com os outros continentes. Afinal, Africa é um continente jovem e dinâmico. Daí a necessidade de adaptar a abordagem de uma maneira transversal a todos os países africanos, com o objetivo de se ter:

  • Um maior desenvolvimento económico no continente, o que levaria a uma demanda crescente por bens e serviços produzidos localmente, impulsionando a economia destas regiões; 
  • Um maior desempenho e um papel mais ativo na formulação de políticas globais e na resolução de questões internacionais, como as mudanças climáticas, segurança cibernética, comércio e migração, o que levaria a uma cooperação mais justa entre os países africanos e outras nações ao redor do mundo.
  • Uma maior influência que promova e preserve melhor a sua rica cultura e identidade, contribuindo assim para uma compreensão mais profunda e mútua entre as nações.

A transição energética pode ser a oportunidade daqueles que resistem e sonham com uma África livre do miasma escravocrata-colonial.

É importante reconhecer que a exploração ocidental tem tido consequências profundas sobre as nações africanas. E ao abordarmos esses problemas de maneira sensível e colaborativa, criamos um espaço de discussão dentro e fora das estruturas dos Estados, que irá permitir aos líderes dos nossos países equilibrar o aproveitamento dos recursos, criar um desenvolvimento sustentável, respeitar os direitos e os interesses das comunidades locais, preservar as suas culturas e o meio ambiente mas, acima de tudo, promover uma boa governação e devolver a independência ao próprio africano. 

Esse é um esforço conjunto que abrange a educação, a inclusão social, desenvolvimento industrial e colaboração global. Somente através de medidas abrangentes e sustentáveis é que muitos países africanos poderão transformar as suas economias e se posicionar de forma mais vantajosa ainda na economia global.

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