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Tremor: Rabo de Peixe não é a série da Netflix

Tremor
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O festival Tremor celebrou o seu 11.º aniversário nesta edição de 2024. Mais de uma década de existência marcada pelo sucesso, mas sobretudo por um compromisso contínuo com a diversidade, inclusão e inovação cultural. Em entrevista à BANTUMEN, Márcio Laranjeira, um dos membros da organização, partilhara a sua visão e os desafios enfrentados ao longo deste percurso.

Desde a sua estreia, o Tremor tem sido um ponto de encontro para os amantes de música e de arte, mas também um espaço para a reflexão sobre temas fundamentais como a diversidade, cooperação e respeito mútuo. Segundo os organizadores, o festival não é apenas um evento, mas sim um lugar de responsabilidade, onde se promove ativamente a convivência entre diferentes culturas e perspetivas. “Nós acreditamos que o Tremor deve ser um reflexo da diversidade que existe não só na ilha, mas também no mundo”, afirmou. “Acho que [a diversidade] já não é algo que deve ser visto apenas como uma vontade. Acho que tem que ser uma coisa factual e que deve ser abrangente a todos os eventos. A nossa missão também acaba por ser um bocadinho essa, tentamos criar um lugar onde as pessoas se sintam bem, onde as pessoas sintam que é delas, independentemente do que são, como são, em que lugar da vida é que estão. E ao longo destes dez anos de história, começamos em 2014, tudo mudou muito, o festival mudou imenso, a ilha mudou imenso, nós também mudamos imenso. Há coisas fundamentais que se mantêm, mas a forma como fazemos as coisas mudou. Acho que a palavra diversidade para nós é mesmo muito importante e diversidade de tudo. A ilha é diversa, os lugares que nós escolhemos são diversos, o público é diverso, os artistas são diversos.”

Ao longo dos anos, o festival passou por diversas transformações, mas manteve-se fiel ao seu compromisso: dinamizar a ilha de São Miguel com um festival que mescla diferentes artes e com tanta ou mais qualidade do que se faz noutras geografias. A organização destaca a importância de desconstruir ideias preconcebidas e de desafiar constantemente as suas próprias perceções, mesmo dentro da equipa de programação. “O nosso trabalho não se resume a escolher artistas e enviar convites”, explicou. “É um processo de reflexão e de questionamento constante. Queremos manter o nosso entusiasmo e continuar a evoluir a cada edição.”

Além disso, o Tremor tem um forte envolvimento com a comunidade local, estabelecendo parcerias com diversas estruturas e associações da ilha. Esta ligação estreita permite ao festival não só contribuir para o desenvolvimento cultural da região, mas também para desafiar estigmas e preconceitos, sobretudo em relação à comunidade de Rabo de Peixe. A vida daquela comunidade está muito além do ilustrado na série homónima da Netflix. “Aquilo foi uma história que aconteceu uma vez. As pessoas [da região] são super afetuosas, têm uma capacidade de receber que é extraordinária, e estão fartas que caiam num estigma em relação a elas. Como a ideia preconcebida sobre ser um bairro pobre, sobre ter uma ligação à droga. Isso foi uma história como há histórias em todos os lugares”. Atualmente, embora o Tremor tenha uma grande adesão de um público estrangeiro, inicialmente, o festival foi criado para a população nativa. “Este festival nasceu para quem vive cá. Antes, nas duas primeiras edições do Tremor, era caríssimo voar para aqui. Não existia sequer uma ideia de turismo, ou seja, o festival nasceu sem uma ideia de que vinham pessoas de fora sequer. Nasceu, tipo, isto é algo, para quem vive cá, para quem está cá o ano inteiro”, afirmou Márcio Laranjeira.

Apesar do reconhecimento internacional ser bem-vindo, “não queremos perder a nossa essência. Queremos que o festival continue a ser uma experiência única, onde as pessoas se sintam verdadeiramente parte da comunidade”, argumenta. Essa intenção desenvolve-se em várias ações, como por exemplo o espetáculo de Sam The Kid e a Escola de Música de Rabo de Peixe, com a participação de MCs locais e que deu a conhecer o repertório do hip hop açoriano; um workshop do coletivo do Reino Unido All Hands on Deck com mulheres, trans e pessoas não-binárias da ilha; um arraial regado de boa culinária tradicional em Rabo de Peixe; uma exposição de arte Bonecreira e presépios de Lapinha, entre outras atividades.

Quanto ao futuro, os organizadores do Tremor estão abertos a novas possibilidades, mas mantêm-se fiéis à sua visão original. Embora reconheçam as oportunidades de expansão para outros locais, enfatizam que a essência do festival está profundamente enraizada na ilha de São Miguel e que seria difícil replicá-la noutras regiões. “O Tremor é único porque está enraizado no seu território e na sua comunidade”, sublinhou Larangeira. “Queremos manter essa ligação especial e continuar a criar experiências memoráveis para todos os que participam no festival”, acrescentou.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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