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Dupla brasileira YOÙN fala-nos sobre ‘Unicórnio’ e sobre a necessidade de “sair do padrão”

YOÙN | DR
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Depois de alguns problemas de conexão, a conversa com Shuna e GP aconteceu. Fazia poucos dias que Unicórnio, segundo disco do YOÙN, tinha ganhado o mundo e já estava colocando geral para dançar. Diferente do anterior, BXD in Jazz, este foi estrategicamente pensado para que o corpo sentisse o impacto assim que o play fosse ativado.

Essa vontade de mudar o curso aconteceu depois que Shuna parou para pensar, durante um baile, qual música deles poderia ‘esquentar’ a pista naquele momento. 

“A música do YOÙN por muito tempo ficou nichada a momentos… Não era qualquer momento que dava para você encaixar e fazer fluir, sabe!? […] Na pista eu fiquei pensando qual música nossa poderia manter a pista aquecida ou subir a temperatura dela”.

Mesmo saindo dos seus próprios padrões, o YOÙN mantém a essência. Fica perceptível, em cada música, a identidade que eles criaram quando ainda tocavam nos vagões do metrô do Rio de Janeiro. Mas também mostra o quanto eles estão dispostos a experimentar para evoluir. É sobre isso, e todos os detalhes de Unicórnio, que conversamos via Zoom por pouco mais de 30 minutos.  

“Era importante pra gente trazer uma novidade e sair um pouco da nossa rotina. A ideia era inovar até pra gente, o nosso processo musical, como fazer música. Esse álbum mudou a nossa ideia”.

O disco está bem diferente do anterior trazendo algo mais romântico e dançante. A produção e o desenvolvimento das ideias também seguiram por um caminho distinto de BXD In Jazz?

Shuna: Você curtiu?

Está muito Bom. Tenho ouvido quase diariamente. Acertaram demais.

Shuna: Pergunto, porque essa é uma preocupação do artista enquanto segmento linear da entrega. Então, a gente chegou num conceito um pouco diferente de BXD in Jazz na questão de sonoridade e na forma de gravar mas é um caminho linear porque a gente está passeando por dentro da música preta. Assim como o próprio hip hop e o rap têm elementos de outros segmentos, como o reggae. Essa influência está principalmente nos flows. A gente teve essa vontade de fazer um trampo mais amplo explorando mais áreas, mas também querendo estar em vários lugares. A música do Yoùn por muito tempo ficou nichada a momentos… Não era qualquer momento que dava pra você encaixar um Yoùn ali e ia fluir, sabe? Essa percepção rolou numa festa que a gente estava em BH [Belo Horizonte], depois de um show, e na pista eu fiquei pensando qual música nossa poderia manter a pista aquecida ou subir a temperatura dela. Pensei em “Nova York”, “Meu Grande Amor”… até falam que naquela fase ela poderia ser a música mais pra frente, mas não cabia. Queríamos fazer parte de outros momentos da vida das pessoas. Esse álbum é talvez a tentativa de estarmos num almoço, num churrasco, no futebol, no basquete… Que as pessoas possam colocar ali pra fazer uma atividade, rolar o Yoùn e não ser uma coisa sempre melancólica sempre (não sei), elaborado demais com muitas letras, muitas harmonias. Tentamos chegar mais próximo do público.

GP: Era importante pra gente trazer uma novidade e sair um pouco da nossa rotina. A ideia era inovar até pra gente, o nosso processo musical, como fazer música… esse álbum mudou a nossa ideia. Hoje nossas músicas não são mais feitas com violão na mão, porque também fazemos uns beats e começamos dali. Isso pelo fato de querer inovar e cair nessa ideia de tipo: mano, a gente precisa fazer umas paradas mais pra pista, pra fazer a galera dançar. Então, o álbum vem com essa ideia do início ao fim.

Vocês falaram muito de ser diferente, de em BXD In Jazz fazerem o que as pessoas estavam acostumadas, de ser um pouco mais densos com algumas baladas…
E este álbum é uma evolução também do som que fazem, mostrando essa possibilidade de ir para vários ambientes. Mas mesmo saindo do padrão, a essência do que é o YOÙN foi mantida.

Shuna: Sim. Acho que a lírica é o que mais mostra essa identidade. Mesmo que a gente mude um pouco a forma de fazer, de dançar, a forma de comunicar com os jovens contemporâneos, é o que sempre traz o público para uma vibe boa. Estamos atentos ao que está rolando, ao que está acontecendo. E acho que a vida de pessoas periféricas são muito similares em várias coisas. Então, quando você consegue expressar liricamente de uma forma interessante, em cima de fragmentos de flows e melodias legais, isso pega de uma forma saborosa.

Traz uma cor também. 

Shuna: A ideia é nunca perder esse sentimento que nos trouxe até aqui. A gente está desbravando sonoridades que abrem portas e podemos furar a bolha, mas o Yoùn sobrevive pelo sentimento que é posto no rolé desde o início. Certamente, o que faz a parada andar é esse sentimento, que vem desde o primeiro álbum, desde as primeiras letras, essa é a nossa verdade.

O álbum traz essa coloração e sabores diferentes e o título é Unicórnio, que também é uma parada que reflete o sair dos padrões. Mas por quê da escolha desse título?

Shuna: Ah, cara, que bom que você reparou nisso. Acho que quem é fã de música é fã da descoberta, de ouvir o som, entender a capa, saber quem fez, como fez… infelizmente isso não é pra todo mundo, porque nem todos se interessam, mas a gente sempre coloca esses pontos enigmáticos para que as pessoas que se interessam se sintam representadas… e o significado é simples porque fala do que a sociedade espera sempre da gente, de encaixar num padrão de trabalho, de relacionamento, de comportamento, sabe!? E o que temos visto ultimamente, não só na música, mas indo para os esportes também… não sei se você acompanha a NBA, mas agora está surgindo um jovem chamado Victor Wembanyama que é um moleque enorme… e na NBA (e em outros esportes) o termo unicórnio existe a muito tempo para definir um tipo de jogador que não era apto para fazer o que faz, mas ele faz tudo tão bem quanto qualquer um (ou ele é alto demais ou baixo demais para os padrões da liga). E o termo ganhou mais força com o Kevin Durant, que é um cara que joga numa posição de jogador baixo, mas ele é super alto, tá ligado!? Então, eu já ouvia a muito tempo com os amigos e assistindo basquete. Só que esse ano, com a chegada do Wembanyama, esse termo ficou forte. E aí, eu comecei fazer um paralelo que isso funciona pra gente também, que a gente não precisa ter exatamente 2 metros pra jogar basquete e se você tem dois metros e mais não serve, se tem menos, também não serve. Tem sempre que ser à risca. Então, buscamos não estar dentro dos padrões, sacou!? Porque esses padrões não beneficiam pessoas como a gente. Vamos ter que tentar encaixar neles para ter voz ou chance. E a gente quer criar os nossos próprios padrões de música e de linguagem. Unicórnio fala sobre você não ser o que as pessoas imaginam que você vai ser. Por exemplo, você está aqui entrevistando a gente. A não ser que você seja filho de um repórter, eu não sei se tenha uma outra pessoa que faça isso que você está fazendo agora dentro da sua casa, ou na sua rua… provavelmente você conversou sobre isso com poucos amigos da sua rua, foi conhecendo pessoas ao longo da vida que tinha perspectivas parecidas com a sua, mas de onde você vem ou de onde a gente vem, provavelmente, você vai se ver sendo o único fazendo aquilo e vivendo daquela forma.

Esses padrões não beneficiam pessoas como a gente. Vamos ter que tentar encaixar neles para ter voz ou chance. E a gente quer criar os nossos próprios padrões de música e de linguagem

Shuna

Outra coisa que prestei bastante atenção é que vocês trazem as participações, porém elas não ficam em segundo plano. Ganham uma espécie de protagonismo nas músicas. Os convidados assumem a “primeira voz”…

GP: A ideia era trazer uns feats pra esse segundo álbum porque a gente nunca tinha feito um com participações, além de singles. Então, era urgente e importante trazer outros artistas para o disco. Tinha algumas músicas guardadas que estávamos pensando em lançar em algum momento, tipo Freedom com Luccas Carlos… ela foi criada quando fizemos o primeiro álbum e ficou guardada. E aí, resolvemos lançar agora. Todas as outras participações que entraram, como a Duquesa, o Rashid, Zudizilla e Tuyo, a gente estava num processo de desenvolver as músicas e de tentar encaixar as pessoas. A base do Zudizilla também foi criada no primeiro álbum e a gente foi usar ela só agora. E assim, a gente foi se conectando com a galera pela necessidade de um trampo coletivo. A música com o Zud, por exemplo, só tinha a base, e ele trouxe aquela ideia muito foda do R&B no final. Essa parada que você diz sobre o protagonismo deles é porque a gente deixou os feats totalmente livres para criar em cima da faixa, não tinha essa parada: a faixa é nossa e vamos deixar duas linhas pra vocês colocarem. Por isso que você percebe que a galera fez parte da música mesmo.

Falando de produção, de que forma vocês chegaram a um acordo de que teriam que fazer um álbum que saísse dos padrões? E quais foram as inspirações?

Shuna: A inspiração foi a pista! Sendo bem sincero, é muito gostoso estar num lugar que toca a sua música, mas não tem situação melhor de estar na pista e de repente toca o seu som e a galera grita, sabe!? A gente queria fazer parte desse momento. E as referências são as mesmas de sempre, por exemplo: Tyler, The Creator é um cara que a gente vê muito na questão do vídeo, na questão da musicalidade, mas também a gente tem bebido de muitas fontes, como a música baiana. No período que fiquei na Bahia, eu lembro que não tinha nem metade das coisas do álbum. Algumas coisas, a gente começou a fazer depois que fomos pra um camp (de composição). Mas lembro que nessa fase eu não estava me sentindo energizado para fazer música. Quando eu tive contato com artistas baianos, o meu conceito mudou e fiquei com vontade de fazer música… o jeito que eles falavam, o flow, a vontade de fazer música me influenciou muito pra querer escrever.. Queríamos também fazer um disco que a gente sempre sonhou. Como BXD IN JAZZ é um disco que você vai ver bastante toque de brasilidade, como Djavan, nesse você vai perceber que a estética é mais eletrônica, fazendo um resgate de house, do volt mix, pagodão baiano… todos os segmentos que a gente está abordando são segmentos próprios pretos. Então, a gente tentou usar influências de algo que era nosso, tentando fazer isso da melhor forma.

GP: O processo criativo do álbum basicamente se iniciou quando vimos a necessidade de começar de novo, porque o YOÙN sempre entra num hiato de lançamentos e vimos a necessidade de criar algo mais consolidado. E aí, começamos esse processo criativo na casa do Carlos do Complexo. É por isso que você vê ele do início ao fim da parada. Ele trabalha com a gente no estúdio, mas fez parte do processo criativo, estando muito presente. A gente iniciou isso na casa dele com músicas do álbum anterior, mas todas as outras a gente começou lá no Carlos tentando entender como que íamos levar a parada mais pra pista e fomos atrás de timbres e elementos para fazer um house bem feito. Também trouxemos o Ed, que é um mano que temos amizade desde a igreja e sempre foi um ótimo tecladista e é um ótimo produtor, e chegou pra somar. E quando a gente já estava com a coisa mais encaminhada, indo para o estúdio semanalmente, fomos passar uma semana intensiva em Araras (Rio de Janeiro) para finalizar o disco. Eu vejo o processo criativo dele em duas etapas, que é a etapa da Casa do Carlos e a etapa de Araras. Também tivemos que colocar a mão na massa, pensando em vários processos. Durou bastante tempo e aprendemos muita coisa.

E vai ter um lado B de Unicórnio?

Shuna: Vai sim! Mas ele é literalmente uma outra fase, a gente vai revelar isso com o som. O próximo single que vamos lançar, todo mundo vai ter uma noção do que vai ser.

Se fosse pra escolher um som pra jogar na mão do DJ e ele fazer a festa na pista, qual seria?

Shuna: Cara, sendo bem honesto… vou responder sua pergunta, mas vou ser um pouco polêmico, tipo assim: se a rádio fosse uma coisa mais real assim de música, acho que “Tudo Culpa do R&B” é uma música sinistra que poderia tocar em qualquer lugar. Imagino ela tocando alto no som dos carros… tem nuances de perspectiva, de virada, tá ligado!? Mas como a gente não é mainstream, isso não é muito possível, sabe!? Então, fica muito difícil escolher a música que eu mais gosto, porque vai ser uma coisa que o mercado não está esperando. Agora, pensando nesse mercado, acho que Playlist é uma música que rolaria bem… se fosse um mano muito famoso lançando agora, ela seria estouro, tá ligado!? Ela tem flow, tem cadência, tem melodia… se fosse democrático de verdade seria Tudo Culpa do R&B, mas se tratando de mercado seria Playlist

E você, GP, concorda com essas duas?

GP: Concordo, mas tenho duas paradas bem diferentes, pensando nesses dois lugares que ele falou. Pensando no mercado brasileiro, eu acredito muito em Online, pelo fato de trazer esse lado do pagodão baiano. Com Playlist a gente sente esse ar de pista mais firme. Online é uma música que pode tocar toda hora, todo dia. Ela chega e a gente tá na vibe.

Shuna: É uma música feliz.

GP: Sim, é pra cima… e se pudesse escolher pra tocar na rádio todo dia, seria Na Cidade…

Shuna: Imagina, entrando a vinheta da Mix e na sequência “eu vejo o amor”… seria foda.

GP: Se todo mundo entrasse na onda era uma coisa pra ser, tá ligado!?

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