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Alex D’alva Teixeira: “É importante reconhecer, aceitar e celebrar quem somos”

Alex D'Alva Teixeira
📷 : Iris Cabaça

D’alva regressam com novo single, “Coração à Discrição”, e a melhor forma de compreendermos o que vai na mente de um dos escritores pop mais entusiasmantes do panorama português é falar com o próprio Alex sobre o novo single, o próximo disco de D’alva e algumas curiosidades pelo caminho.

O que podemos esperar do novo disco de D’Alva?

A ideia inicial deste disco era fazer o nosso trabalho mais colaborativo, e até agora assim tem sido. Creio que o resultado não será um álbum constituído apenas por feats mas, em comparação com os anteriores, este está a ser o álbum com o maior número de parcerias, não só na interpretação mas também na criação e gravação.

Porquê o adiamento do disco?

No início do contexto pandémico era impossível estarmos juntos no mesmo espaço físico e por esse motivo tivemos de nos adaptar a essa nova realidade. Ainda antes da pandemia, tivemos que fazer algumas restruturações na nossa equipa, mas nunca parámos de fazer música.

Além disso, não queríamos editar um disco numa altura em que não tínhamos a possibilidade de o apresentar ao vivo. Se tivermos em conta que, devido à escassez de oportunidades para tocar, tivemos de exercer outras actividades para conseguir subsistir, percebemos que isso reduz significativamente o tempo disponível para poder trabalhar na nossa música e em todas as outras coisas que giram em torno dela. Ainda somos uma banda com um espírito muito DIY (do it yourself, faz tu mesmo na tradução literal para português) e continuamos a fazer os nossos vídeos e a tratar de muita coisa que é feita nos bastidores — tudo isso requer tempo. Apesar de tudo, temos conseguido continuar a editar música e o facto de lançarmos em formato single dá a possibilidade de cada canção ter a atenção que realmente merece, em vez de haver algumas que ficam perdidas no alinhamento. Neste momento, sentimo-nos prontos para regressar aos palcos.

O novo single é um reflexo do ser atual ou já tinha sido gravada antes?

A ideia para esta canção surgiu no ano passado e fomos trabalhando nela. Primeiro, o Ben idealizou o instrumental e a letra, gravou uma primeira versão e depois em conjunto tivemos de recompor algumas partes para que fizesse mais sentido na minha voz. Apesar de esta canção ser fruto de um trabalho árduo, não deixa de ser atual e autêntica devido à sua intemporalidade.

Posso dizer também que sentíamos falta de uma canção como esta nas nossas set lists e queríamos fazer algo capaz de refletir a nossa identidade. Este é o nosso som e são canções como esta que nos distinguem e que nos tornam uma banda única.

As músicas de D’Alva são comprimidos zen para a alma ou a aura meditativa está implícita por natureza?

De facto, com tudo o que estávamos a atravessar mesmo antes da pandemia, encontrando-nos numa encruzilhada a tentar perceber o que é que queríamos fazer no futuro e quem éramos afinal, ou seja, de alguma forma já estávamos numa fase mais contemplativa, daí surgirem canções como “Só a Pensar”, “Sabes Que Não” e “Honesty Bar”. A pandemia amplificou tudo isso. Mas sempre tivemos este lado mais introspetivo e sentimos que o estamos a saber abordar e explorar cada vez melhor. Este novo single é uma evolução do que temos vindo a fazer desde o início da nossa carreira, mas de uma forma mais refinada. Podes chamar-lhe D’Alva 3.0 (risos).

Estas perguntas foram pensadas na hora. As canções de D’Alva também são escritas dessa forma?

As primeiras ideias tendem a surgir dessa forma, de um modo muito imediato e até mesmo visceral, mas o processo até chegar ao resultado final de uma canção por vezes pode ser longo e levamos todas as etapas muito a sério. Além da escrita e da composição, empenhamo-nos muito na gravação, produção, e muitas vezes as misturas também requerem muita atenção. Felizmente temos tido o privilégio de ter o Miguel “Vegeta” Marques como um grande aliado tanto na mistura como na masterização.

Para nós, fazer uma canção é como polir um diamante: sabes que está ali uma coisa em bruto, mas que ainda há trabalho a fazer. E, à semelhança do que acontece quando escrevemos para outros artistas, muitas vezes é preciso ter cuidado para manter a verdade da performance que é gravada.

Porque é tão importante abraçarmos a nossa cultura negra em tempos de (des)identidade em vários formatos?

Esta pergunta pode ser interpretada de várias formas e por esse motivo talvez não haja nenhuma resposta correta. Mas acima de tudo é importante reconhecer, aceitar e celebrar quem somos. 

Artistas negros favoritos que estejas a ouvir neste momento?

Fica difícil não fazer name-dropping, mas há mesmo muita coisa boa a ser feita, não só lá fora, mas por cá também. Tenho ouvido em repeat Kilo Kish, FKA Twigs e Tierra Whack. As Nova Twins e o KennyHoopla fazem uma cena muito próxima das nossas origens e não conseguimos ficar indiferentes a isso. Em relação ao que é feito em território nacional, sou mesmo muito fã do Virgul e é um enorme privilégio termos a oportunidade de colaborar com ele — aliás, há partes da “Coração à Discrição” que foram feitas por ele. Numa das sessões de estúdio que tivemos juntos, pedimos-lhe ajuda para fazer esta canção e o contributo dele foi uma chave essencial para chegarmos ao resultado final desta canção. Dino D’Santiago é sem dúvida um nome incontornável e mal posso esperar para poder vê-lo dia 2 de abril no palco do Coliseu. Slow J, Papillon e Ivandro são 3 artistas que me deixam sempre abismado com a imensidão do talento que têm. Por último, estou muito curioso para ouvir os próximos lançamentos de Toty Sa’Med e Nayela também.

É verdade que D’Alva são agora três e não apenas tu e o Ben? 

Sim. Sabes aquele tropa que está lá sempre para ti desde o início? O Gonçalo de Almeida é um amigo de longa data. Antes de eu e o Ben tocarmos juntos, ele já tocava connosco noutros projectos, ou seja, ele tem sido um membro da banda mesmo antes de oficializarmos desta forma e o seu contributo tem sido muito importante para o resultado final do que fazemos. É uma parceria que já estava a acontecer muito antes de sequer imaginarmos que iria haver um início, por isso, fez todo o sentido darmos este passo.

Datas próximas? 

Dia 7 de maio podem contar connosco no Teatro-Cine de Torres Vedras, mas mantenham-se atentos porque muito em breve iremos anunciar mais datas.

Mensagem do single e para quando próximas canções?

Esta canção tem várias dimensões. Acaba por ser o culminar de vários episódios e situações, alguns dos quais são demasiado pessoais, ao ponto de ainda ser muito desconfortável para mim falar sobre eles, mas também está intimamente ligada (a canção) à forma como o sector cultural tem vindo a ser negligenciado.

Seja para um álbum ou para um single, nós damos sempre o máximo, e acredita: não tem sido pêra doce — the struggle is real (a luta é real)! Quando fomos todos forçados a ficar em casa, foi uma altura em que ficaram expostas muitas das fragilidades do nosso setor. No entanto, não baixamos os braços e somos resilientes e não me refiro apenas aos D’Alva mas falo de tantos outros que têm lutado para conseguir continuar a entregar cultura e arte. Em tempos como estes, fica difícil romantizar a ideia do artista que não tem acesso a meios para criar e substituir e para todos nós isto é coisa séria, é a nossa vida, não é poesia.

Quanto a novas canções, já temos planos para o que virá a seguir e, sim, esses planos incluem um álbum que irá sair ainda este ano, por isso se quiserem acompanhem-nos na nossa caminhada.

 

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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