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Leste passa Bissau e lidera o cenário rap da nova escola guineense

Rap guineense, rapper Police Of Money
Rap guineense, rapper Police Of Money | Fotografia: Lemusa Entertainment

O rap chegou à Guiné-Bissau nos anos 90 e desde então tem evoluído de forma notável. Inicialmente associado a um espírito mais combativo, o género manteve a sua relevância ao longo dos anos. Ano após ano, novos talentos emergem, enriquecendo o mercado com conteúdos de qualidade e promovendo rappers com habilidades líricas excepcionais. Durante muito tempo, Bissau liderou o cenário, sendo a capital naturalmente propícia para o florescimento do Hip Hop. Isso resultou numa maior concentração de atenção nos rappers dos diversos bairros da cidade, muitas vezes relegando os talentos do interior do país para segundo plano.

No entanto, nos últimos anos, observamos uma quebra de barreiras por parte dos rappers do Norte, Sul e Leste. Estes têm desempenhado um papel fundamental na mudança dessa narrativa, ao trazer para o centro mediático os talentos dos seus próprios territórios. O público em geral identifica-se com as músicas e os artistas, que demonstram uma habilidade única nas rimas, mantendo a atenção do ouvinte e ressoando com as suas próprias origens e identidades culturais.

Quando se fala da nova geração de rap na Guiné-Bissau, é imperativo destacar os rappers da cidade de Gabú. Gabú, uma cidade que faz parte do setor de mesmo nome, com uma população de mais de 80 mil habitantes (censo de 2009), é uma das cidades mais populosas do país e a maior na zona Leste. É conhecida por ser a “casa” de alguns dos rappers mais promissores da nova geração.

Lil As é um dos mais populares, sobretudo a nível das redes sociais, com as suas músicas a passar nas rádios e nas ruas e ruelas da Guiné. O artista tem uma uma voz peculiar e rimas trabalhadas com jogos de palavras, trocadilhos e duplos sentidos. O seu flow e métricas complementam as suas rimas, por vezes polémicas. Como é o caso da rivalidade com outro rapper local, Pensador Jr aka Pensador Jurilirico. Esta disputa começou antes mesmo de ambos alcançarem a fama, impulsionando significativamente as carreiras de ambos. Recentemente, Lil As lançou “10 Técnicas”, uma música repleta de conteúdo lírico e barras assimétricas, com produção e masterização de Midex Pro, direção de vídeo por Mane Faty e Lotex Pro e edição de Mane Faty. A maioria das referências na música é direcionada ao seu “adversário”. São as polémicas e a competição própria do universo Hip Hop, desde a sua fundação, e que, num nível saudável, tornam o movimento vivo.

Nas conversas de rua, raramente se fala de Lil As sem mencionar Pensador Jurilirico. As opiniões divergem sobre quem se destaca mais. Pensador é um rapper de grande qualidade, com habilidade para criar tendências, especialmente quando usa as suas referências do Drill. Tem o hábito de inserir duplos sentidos nas suas músicas, desafiando o ouvinte a ouvir mais de uma vez para compreender toda a profundidade do conteúdo. Já lançou músicas com alfinetadas direcionadas a Lil As, autodenominando-se o “Professor” dos rappers, incluindo do seu “rival”. Pensador já mostrou a sua excelência em faixas como “Duplo Sentido”, “Akotorobido” e no mais recente trabalho “Ami N’manso – Eu Sou Tímido”. Este último é uma mistura de elementos drill e mentcher mentcher, com a prod de Cinzento Sound Prod. Em todas estas faixas, encontramos alfinetadas ou referências a Lil As e a outros rappers da nova geração, demarcando claramente o território de Jurilirico. Recentemente, o artista esteve no programa televisivo “Conversas Ao Sul”, da RTP África, em Portugal, onde apresentou “Ciumenta“, uma música que se destacou por ter um conteúdo completamente diferente do habitual, revelando um lado mais versátil. Ao cantar e enaltecer a beleza da mulher, algo que raramente faz nas suas músicas, mostrou uma faceta mais suave e romântica, contrastando com a agressividade que muitas vezes transparece nos seus beats.

A música guineense tem evoluído, mesmo sem o apoio das instituições culturais, que muitas vezes têm sido criticadas pela sua indiferença. No entanto, os artistas de música, plásticos e outros promotores da diversidade cultural da Guiné-Bissau não se deixam deter pela escassez de recursos e pela falta de grandes ganhos financeiros com as suas artes. Comprometem-se a promover os seus trabalhos, contrariando a ausência de apoio do Estado.

Dentro dos destaques da nova geração do rap, há ainda a referir nomes como Police Of Money. É um artista singular, que utiliza os seus sotaques de forma a realçar as suas melodias. Graças à sua versatilidade, Police consegue brilhar tanto em rap a solo como em colaborações, demonstrando uma dicção fora do comum, como podemos ouvir “Mindjor di nha Geraçon” e “Inveja Só Delis”, esta última com a participação de Jadoh Decz, do coletivo Memu Sunhu. Além disso, fez parte do projeto “Nô Orgulho”, em parceria com Lil As, onde se destacou como artista principal na maioria das faixas produzidas no projeto, que envolve quatro artistas da nova geração, todos oriundos de Gabú. Police está a preparar o álbum Sacrifice, cuja data de divulgação ainda está por anunciar. Entretanto, o single “Chocolate” tornou-se num sucesso guineense no TikTok.

Estes e outros artistas do interior do país demonstram que o mercado musical está a florescer como nunca antes visto. Agora, a qualidade e o talento têm o seu merecido destaque e há uma nova dinâmica a sublinhar: as mulheres estão cada vez mais a aderir ao género, absorvendo por completo a essência das suas músicas e criando um novo panorama onde elas ganham terreno. Quem sabe, este será um tema a explorar num próximo artigo.

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