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Camila Reis e “As Canções de uma Mulher Preta” em Cabo Verde

Camila Reis / Foto: BANTUMEN
Camila Reis / Foto: BANTUMEN

Camila Reis é escritora, artista popular, cantora e contadora de histórias com uma influência muito grande das manifestações folclóricas do nordeste brasileiro e do Maranhão, região conhecida pelas suas dunas de areias claras e belas lagoas interdunares.

É integrante do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte). Escreveu livros como as “Cantigas Divinas” (2015) e “Pereguedê” (2019). Lançou o primeiro álbum musical em 2018, Preta Velha, seguiu-se o EP Caxixó – Na volta do mundo, em 2022, e no ano passado lançou novo trabalho, Canções de uma Mulher Preta, onde a poesia em forma de canção relata as suas experiências e vivências como uma mulher preta.

E foi isso mesmo que ouvimos durante a sua atuação no Festival AME, em Cabo Verde, no passado dia dois de abril, onde aproveitamos junto da artista, para conhecer um pouco mais do seu trabalho, da mulher preta e o sentimento de estar pela primeira vez em África.

“Eu me sinto muito feliz, muito honrada. É a minha primeira vez no território africano, sou brasileira. E existe toda uma história que traz essa ligação da minha história com a África. Então, Cabo Verde é um país muito musical, traz muita música, traz muitas referências para mim. Eu já conhecia um pouco da música de Cabo Verde, então me sinto muito honrada, feliz de trazer um pouco da música do meu lugar, um pouco que é uma música autoral e também música tradicional do Maranhão, para cá, para Cabo Verde, para este território africano”, disse-nos com um sorriso no rosto.

O facto de ter crescido sempre rodeada de mestres da cultura popular maranhense influenciou muito a forma como Camila expressa a sua arte e em tudo que o canta e conta sobre o Brasil. A artista reza sempre ao santo Benedito e louva pela vida, pelo sol e pelo coração repleto de amor. Ela grita, chora e ri em ancestralidade, com olhos no passado para conhecer a sua essência e seguir no caminho da luz.

Em Cabo Verde, sentiu-se conectada, muito através da música, mas também através das suas gentes, do calor humano, da cidade, e pela forma como foi acolhida, não como uma estrangeira, mas im como alguém que parece que ali pertence e sempre fez parte. E foi isso mesmo que mostrou durante o seu concerto, todo ele carregado de simbolismos da sua terra com muitas ramificações africanas.

O seu último trabalho, Canções de Uma Mulher Preta, é um EP que fala muito sobre amor, sobre a mulher negra, sobre paz, sobre a própria artista, é algo muito autoral. Embora existam características entre a mulher negra brasileira e a mulher negra africana, há também diferenças que as distinguem.

“Olha, eu acho que a mulher negra do Brasil é bem pra frente, né? No pouco tempo que eu estive aqui, vivi muito a música, mas não tive tanto tempo para conhecer essa sociabilidade. Mas, enquanto mulher negra, essa mulher negra que escreve, que compõe, que traz as suas canções, num caminho de ancestralidade, é um pouco de dendê, é um pouco de oyá [orixá], que é essa força da natureza, dos raios, dos trovões, que está presente nesse álbum, Canções de Uma Mulher Preta, ela traz isso, essa força que nos foi dada pela mãe África, que nos é reforçada pelo Brasil, cheio de histórias. E é muito bom retornar e sentir-me em casa, sentir-me acolhida. Quero voltar e quero conhecer mais, mais da vida cabo-verdiana, da música cabo-verdiana, das mulheres cabo-verdianas, até porque a música de Cabo Verde, para mim, a referência maior é uma mulher”, explicou.

Camila tem como referência a Cesária Évora, não só pela forma como cantava, mas como se chegava às pessoas, como se apresentava e se fazia sentir presente. E as Canções de Uma Mulher Preta é isso também, é um pouco da poesia do dia a dia, dessa poesia que traz as forças da natureza para a matriz africana do Maranhão.

“Que traz um pouco de como a gente se relaciona afetivamente em nossos elos de amor, que nem sempre estamos em um lugar de passividade, que nem sempre estamos num lugar de sermos as mais queridas, pelo contrário, vivemos uma contradição. Mas também que a solidão faz parte do nosso dia a dia e a gente também sabe se dar com ela. Então, Canções de uma Mulher Preta é um pouco disso. É um pouco também de como sonhar, não em ser uma princesa europeia branca, como a gente tem muitas referências no Brasil, mas de ser uma princesa de uma maneira diferente, de trazer um reinado”.

“Assim como a gente tem nossos reinados africanos que chegaram no Maranhão, através da rainha africana Nã Agotimé, e referências do matriarcado. Então eu acho que as canções falam sobre isso. A poesia do matriarcado que rege também um pouco do meu lugar, um pouco da minha vivência enquanto mulher, no meu lugar Maranhão”, concluiu.

Nascida em São Luís do Maranhão, Camila Reis desde criança teve contato com mestres da cultura popular maranhense, com os quais teve oportunidade conhecer e participar de atividades dançando, tocando e cantando.

Depois de passar pela Escola de Música do Maranhão – EMEM, de participar de bandas independentes, coletivos percussivos e espetáculos teatrais sempre trafegando pelos caminhos da expressividade popular brasileira, começou a desenvolver sua musicalidade autoral protagonizando apresentações e shows com a interpretação de canções suas e de outros compositores.

Clica abaixo para veres a entrevista à Camila Reis, em Cabo Verde.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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