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Breve reflexão sobre a morte ou que se pensa saber dela

Sara Tavares e Wilds Gomes em entrevista para a BANTUMEN, em 2018 | ©Miguel Roque/BANTUMEN
Sara Tavares e Wilds Gomes em entrevista para a BANTUMEN, em 2018 | ©Miguel Roque/BANTUMEN

É-me difícil lidar com a morte. Tenho tanto prazer pela vida que procuro compreende-la sentido-a muito.  E há outra forma de ser? Mas ao mesmo tempo sempre que se perde alguém próximo, parece que há um bocado de nós que também vai, em cada lágrima, em cada adeus, em cada parte que não fica. Não sei sentir sem ser dessa forma. E aí pergunto: o que é a alma sem o corpo? 

O que é a morte? Será que quando nos questionamos queremos e merecemos a reposta? Será que a morte é o acto de abandonar a matéria física e o espírito, agora livre, vagueia por aí, sabe Deus, onde?

É até irónico chamar Deus para esta conversa de mim para comigo mesmo, em lágrimas nos olhos enquanto me agarro à vida, para não a perder com medo da morte. Porque é só nos momentos mais difíceis e mais frágeis que tememos pela nossa vida, como se fosse o último e o maior tesouro do mundo a ser guardado, cuidado e polido, para que o seu brilho seja reluzente, mesmo ao longe. 

A morte da agora eterna Sara Tavares – que me foi próxima quando nos sentámos em entrevista e tive a oportunidade de conhecer melhor essa mulher que sentia, dizia e cantava cosias bunitas – mexeu comigo, com todos. É ela a razão deste artigo, de fazer-me sentar, parar e refletir sobre este tema.

Ouvir a Sara é falar sobre amor, nas suas variadas formas, é um balancê de sentimentos, vulnerabilidade, fragilidades e força, tudo com palavras e melodias. É um olhar para dentro e gritar para fora o quanto e quem se ama. Amor, quatro letras, que às vezes custam a sair como se de uma doença se tratasse, sem cura. E na verdade, o amor não tem cura, é amar, amar e amar, com intensidade. Talvez seja a Sara e o seu ponto de luz em mim, em nós, talvez seja só eu que deva levantar-me e gingar apenas desses pensamentos. 

Mas não posso. Li que uma pessoa mantém-se viva enquanto for lembrada. E é assim que devemos manter por perto quem já partiu, recordar o que foi bom e as boas coisas que nos fizeram sentir. Mas enquanto vivas, é não deixar as flores secarem, é um exercício que não é fácil, contra-mim falo. Num mundo cada vez mais corrido, o tempo para demonstrar afeto parece escassear, a uma velocidade que nem Isaac Newton conseguia calcular. 

E agora, no meio da bruma de pensamentos, volto a perguntar-me: o que é a morte? Acho que nunca teremos uma resposta humana para além do que vemos e pensamos saber sobre este assunto.

Mas sabemos o que é a simplicidade da vida, é poder sorrir com coisas pequenas que não fazem sentido, é fazer um bolo e partir várias fatias para dar a quem se gosta, é um bom dia pela manhã a um desconhecido ou desconhecida. É roubar uma flor no jardim e dar aos avós, é olhar para o céu e fazer desenhos com as mãos e a imaginação de uma criança, é fingir que se tira o nariz da cara de um bebé e rir às gargalhadas com a cara de espanto. É comer a comida da mãe e dizer de peito cheio que é a melhor comida do mundo, é ter a casa desarrumada, com brinquedos espalhados pelo chão, e deixar as crianças serem crianças. A vida não tem muitos porquês, mas a morte sim, só ela sabe quando e ao que virá. 

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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