Desengane-se quem pensa que este é um festival comum. No Tremor, as pessoas querem e demandam experiência auditiva, visual e cultural. Tudo entre o que de mais valioso a ilha de São Miguel tem para oferecer, a natureza.
Começámos a manhã cedo. Eram seis horas quando o sol se sobrepunha no alto das montanhas e entrava pelas persianas do quarto de hotel adentro. Despachámos-nos, tomámos o pequeno almoço e aguardámos pelo transfer que nos levou até ao local onde fizemos a primeira atividade do dia, o Tremor Todo-o-Terreno. Uma caminhada de aproximadamente uma hora e meia pelas montanhas até à Lagoa das Empadadas, em Campelas.
É um trilho secreto na ilha de São Miguel, onde os participantes são guiados por uma composição original que culmina com um ato performativo. A banda sonora e a performance estão, este ano, entregues a Lavoisier.
Caminhada feita. Atrevemo-nos a dizer que foi dos melhores momentos de que pudemos desfrutar, até agora, em Ponta Delgada. Termos feito o trilho renovou-nos, sem falar que sabe sempre bem respirar o ar puro da ilha.
De volta à cidade, fomos continuar a celebrar os dez anos do festival, com a exposição TREMOR faces, 10 years of joy, dos fotógrafos Pauliana V. Pimentel e Paulo Pimenta. Uniram-se pela primeira vez para criar uma obra em homenagem a este evento tão especial para eles. O slideshow apresentado na Galeria Brui revela os bastidores, o lado não invisível para o público, aqueles que tornam este festival possível – os organizadores, colaboradores, artistas – e algumas das paisagens que serviram de palco para concertos inesquecíveis, na Central Hidroeléctrica da Fajã do Redondo, Mercado da Ribeira Grande e Rua do Aljube.
Fizemos depois uma pausa para almoço e discutir melhor quais artistas ver e a que locais ir. Entre várias atividades e concertos, decidimos por curiosidade esperar o transfer que nos levou ao Tremor na Estufa, numa localização Secreta. Ao chegar, encontramos música ao vivo, entre pratos e mesas de mistura, um baterista que tocava ao som das melodias que saiam da coluna. Ambiente propício para amantes de uma mistura entre rave music com rock e house, um estilo musical que, provavelmente, só quem esteve presente conseguiria decifrar.
Música à parte, conseguimos ainda aproveitar um pôr de sol de cortar a respiração – aliás, tal como a beleza da própria ilha -, num Miradouro tão alto que quase conseguíamos ver Ponta Delgada de uma ponta à outra.
Não demos pelas horas passar e já se fazia tarde. Jantámos às pressas, voltámos para o Hotel para mudar de roupa e vestir mais um casaco, embora tenha sido um dia quente, ao anoitecer a temperatura tinha descido. Fomos ao encontro do artista Faizal Mostrixx, nas Portas do Mar – local onde acontece a maior parte dos concertos e atuações.
Faizal Mostrixx é sem dúvida um manifesto Afrofuturista que desafia os géneros, vindo diretamente do Uganda, o seu país de origem. Tem uma visão singular enquanto produtor, dançarino e coreógrafo, na música que faz e toca. Faizal Mostrixx traz uma roupagem diferente da música eletrónica da África Oriental, repleto de polirritmos, estilos modernos da pista de dança, como amapiano, “cânticos cerimoniais da bacia do Nilo e gravações de campo pan-africanistas”, como o mesmo explica.
Enquanto tocava, o artista também dançava. Sabia exatamente quando e como captar a atenção das pessoas, a começar pela máscara em formato de Prisma D’água Merkaba – um objeto mágico de grande poder, que combina a energia do prisma, um símbolo de luz e transformação, com a energia da água, um elemento associado à cura, intuição e emoções.
Para fechar a noite, Faizal tocou algumas faixas do seu segundo álbum Mutations e também do aclamado EP Transitions, lançado em 2022.
