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Délio Jasse expõe o “Olhar do Outro”, de uma Angola pós-colonial

Délio Jasse, na Jahmek Contemporay Art, em Luanda, em 2023 | DR
Délio Jasse, na Jahmek Contemporay Art, em Luanda, em 2023 | DR

O diálogo visual entre a memória e fotografia de Délio Jasse interpreta, em Olhar do Outro, a tensão permanente entre o passado colonial e a atualidade. Na exposição patente na Jahmek Contemporay Art, em Luanda, até 22 de Setembro, o fotógrafo e arquivista angolano mostra como papéis e imagens antigos têm para dizer.

Olhar do Outro dá continuidade ao trabalho de resgate e sobreposição gráfica e simbólica de Délio Jasse. Nesta mostra, o artista nascido em Luanda em 1980, pegou em fotografias, postais, documentos oficiais, telegramas e selos impressos em tecido, tela e cartão e despenteou-os com técnicas de impressão experimentais para nos pôr a pensar. “Esta é a minha história da mentira que nos é contada”, declara o artista, que tenta desvendar, para além do cariz político inerente ao material exposto, “de que forma a relação da sociedade angolana com a auto-imagem evoluiu desde então, em termos de transparência, produção e reflexão”, descreve Gisela Casimiro no texto de apresentação de Olhar do Outro.

A imagem e a memória de sociedades africanas coloniais, como Angola ou Moçambique, são o ponto de partida de grande parte do trabalho de Délio Jasse. O artista, que vive há vários anos entre Lisboa e Milão, usa arquivos fotográficos da época colonial (próprios, doados ou que vai encontrando nas suas andanças) e transforma-os, mostrando as contradições desses mundos com os quais ainda vivemos lado-a-lado, em muitos sentidos.

É assim que álbuns de família ou fotos tipo passe se convertem em mesas de debate visual entre o passado e o presente, mostrando as suas desarmonias. Em entrevista à revista Apertura, em 2017, refere, como exemplo, a exposição O Capítulo Perdido: Nampula 1963 (Tiwani Contemporary, Londres, 2016). “Encontrei o arquivo de Nampula na Feira da Ladra, em Lisboa. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a fotografia onde estão algumas mulheres num automóvel. Remeteu-me para um certo tipo de riqueza e para um período histórico específico. Só quando vi a parte de trás é que me apercebi que tinha sido tirada em Moçambique, em 1963. Nesse caso, interessou-me o contraste entre a foto em si e o lugar na qual foi captada”.

Para potencializar este encontro/debate entre tempos numa África pós-colonial, Délio Jasse usa técnicas de impressão fotográfica analógica como a cianotipia, que dá o azulado característico de muitas das suas obras, ou a platina. A sobreposição de selos ou elementos gráficos inesperados é um recurso constante, que dá à obra de Délio Jasse um simbolismo e significância especiais.

Esta personalidade experimental que mistura técnicas e discursos faz de Délio Jasse um dos artistas angolanos mais conhecidos internacionalmente. Nos últimos 15 anos, participou em inúmeras exposições individuais e colectivas em Angola, África do Sul, Mali, Itália, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha, França, China, Brasil e Estados Unidos.

O carácter único da sua obra foi reconhecido com os prémios Anteciparte (Portugal, 2009) e Iwalewa Art (Alemanha, 2015), para além da nomeação para os prémios BES Foto (Portugal, 2014) e Pomilio Blumm (Itália, 2016). Várias criações de Délio Jasse integram colecções de arte importante como a Colecção Sindika Dokolo (Angola), Museu Kiscell (Hungria), Fundação Blachere (França), BES Arte e Finança e Fundação PLMJ (Portugal), entre outras.

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