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Djú&Có, fundada por duas mulheres guineenses, facilita a vida dos imigrantes PALOP em Inglaterra

Quando se imigra para um país cuja língua não se domina, as adversidades causadas por essa barreira linguísta podem tornar-se num verdadeiro calvário no que concerne a conquista de uma condição social estável e, sobretudo, legal.

Missões tão corriqueiras como ir ao talho, ao médico ou à segurança social passam a ser uma fonte de angústia. E se os processos administrativos são muitas vezes complexos até para os nativos, aos olhos dos migrantes são uma encruzilhada de papel e idas e vindas sem glória. Sem a existência de uma rede de apoio, os amigos e familiares acabam por ser o único suporte possível. E foi a pensar nesta problemática, tantas vezes vivida na pele, que Ana Djú e Dulcineia Có fundaram a Djú&Có, uma empresa que presta serviços de aconselhamento à comunidade lusófona no Reino Unido.

Ana explicou à BANTUMEN que, apesar de terem criado a empresa apenas em 2018, este é um trabalho que ambas sempre execturam desde que foram viver para Inglaterra com a família. Quando miúdas, “os nossos pais traziam amigos e vizinhos que não sabiam falar a língua para ler cartas, enviar e-mails e traduzir textos online, entre outros”.

Há cerca de um ano, no regresso de uma viagem à Guiné-Bissau, de onde são originárias, as empreendedoras deram-se conta que era preciso criar união entre a comunidade falante de português radicada em Londres. “Lembro-me bem do dia em que voltei de Bissau, finais de março 2018, fui visitar a Dulce, que tinha acabado de ter um filho, e durante a conversa falámos na falta de ajuda entre a comunidade lusófona aqui em Londres. Em outras comunidades existe sempre alguma associação ou centro de assistência que presta os serviços que prestamos, mas na nossa comunidade não, e então achámos que tínhamos uma obrigação de fazer algo parecido.” E acharam bem, a demanda foi superior às expectativas, prova suficiente de que a Djú&Có nasceu para efetivamente colmatar uma lacuna.

Dulcineia chegou a Inglaterra com nove anos e passados seis meses já dominava a língua o suficiente para servir de tradutora “à força”, como disse entre risos, para as cartas que a mãe recebia. “Isso fez-me mais competente e muito mais curiosa”, salientou sobre o trabalho que desemprenha hoje. Por sua vez, Ana, também com nove anos, via-se obrigada a sair da escola na hora de almoço para acompanhar a mãe nos seus processos administrativos. “Ainda me lembro até hoje porque realmente não havia ninguém que fazia o trabalho que a Djú&Có faz, na cidade em que vivia (Ipswich, Suffolk). Não era fácil e confesso que detestava, porque era apenas uma criança e queria estar no recreio”.

A missão da empresa é “construir uma ponte entre a comunidade afro-lusófona no Reino Unido e instituições não governamentais e sociedade civil. Achamos que este trabalho é fundamental na integração de qualquer comunidade da diáspora num país. Especialmente no Reino Unido, onde tudo é tão complicado e cuja língua, em relação à da comunidade PALOP, é completamente diferente. Uma empresa que se foca neste aspecto é crucial para apoiar a comunidade a entender os seus direitos e ter conhecimento das oportunidades disponíveis para os mesmos”, diz-nos Ana.

Com uma certificação do OISC (Office of The Immigation Services Commissioner, departamento do Comissário dos Serviços de Imigração, em tradução livre), a Djú&Có, não só, por experiência própria, conhece profundamente as dificuldades de ser-se imigrante, como é devidamente acreditada para prestar acompanhamento administrativo aos seus clientes. “Também trabalhamos com uma linha de advogados especializados em diversos âmbitos das leis britânicas, o que nos faz providenciar um melhor apoio”.

Questionadas sobre os serviços mais solicitados pela população, a dupla de empresárias explica que são as traduções online e transcrição de cartas.

“O Brexit acabou por atrair muito mais interesse da comunidade PALOP”

Em média, são consultadas por cerca de 20 a 30 pessoas por mês, numa maioria de mulheres, guineenses, entre 30 e 55 anos. Existem ainda vários pedidos de apoio por parte de homens, também guineenses, para reunir em Londres a família que vive atualmente em Bissau. Dulcineia refere-nos ainda que muito recentemente têm tido interesse de jovens estudantes a querem conselhos sobre estudos e universidades.

Atualmente, apesar do clima de incerteza que se vive em terras da rainha Isabel II por conta do Brexit, o interesse pelo Reino Unido por parte da comunidade PALOP aumentou, segundo a Djú&Có.

“O Brexit acabou por atrair muito mais interesse, especialmente da comunidade PALOP que quer organizar-se aqui antes que as “portas se fechem”. Neste momento estamos a tentar fechar uma parceria com uma instituição semelhante à nossa, localizada em Lisboa, que irá ajudar-nos a ter um primeiro ponto de contato em Portugal para aqueles que desejam imigrar para o Reino Unido. Entretanto, temos um pacote de imigração que incluí abertura de conta, inscrição num um centro de saúde, número de contribuinte,etc”, afirmou Dulcineia. E Ana explica que: “existem muitas incertezas em relação ao Brexit, por exemplo, uma das previsões em setembro de 2018 era que o processo de residência seria mais difícil e mais caro. Entretanto, em março 2019 tiraram a taxa administrativa e o processo acabou com o formulário de 86 páginas e mudou para uma página online que se completa em menos de 30 minutos. É impossível prever o Brexit”.

São 15 “longos” dias de espera para quem solicitar um visto familiar. “Depois da marcação no centro de vistos britânico, o candidato recebe a resposta no prazo de 15 dias. A empresa mantém contato com o Ministério do Interior e faz questão de informar o solicitante sobre qualquer alteração no processo, se houver. A nossa acreditação permite-nos dar uma orientação profissional de todos os requisitos necessários para uma boa chance de obter o visto.”

Portanto, para os que achavam que já não teriam tempo para regularizarem a sua residência no arquipélago junto dos serviços administrativos britânicos, antes da saída do Reino Unido da União Europeia, 31 de outubro, ainda é possivel correr contra o relógio.

Entrevista realizada por Tânia de Jesus

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