Francisca Pimentel, uma angolana que saiu do jornalismo para a Marvel

Francisca Pimentel | DR
Francisca Pimentel | DR

VFX são os efeitos digitais de um produto (como por exemplo um filme ou animação), que combina técnicas de ação ao vivo com gráficos gerados por computador, para criar personagens, ambientes ou elementos que seriam improváveis ou impossíveis de captar na vida real. A equipa destes profissionais responsáveis pelos efeitos visuais de um filme, sobretudo de um sucesso de bilheteira, pode chegar facilmente às centenas. E é ali no meio que encontramos Francisca Pimentel, a designer de VFX com sangue angolano, cujo nome integra os créditos de um filme de um dos estúdios mais bem sucedidos do cinema, a Marvel Studios.

Licenciada em Comunicação, pela Escola Superior de Educação de Coimbra (Portugal), Francisca é uma designer autodidacta e obstinada. Nascida em Angola e criada em Portugal, começou a dar os primeiros passos no jornalismo em Coimbra mas rapidamente foi para Lisboa onde começou o seu percurso na televisão. A TVI foi a estação que a recebeu, para um estágio e depois trabalhou no programa “Diário da Manhã”.

Francisca acabou por passar da informação para o entretenimento, e trabalhou em vários reality shows, como editora online. Entretanto, integrou o canal SIC, onde acumulava a função de editora online e social media manager. Alguns anos depois, a vida deu uma grande viravolta e Francisca vive no Canadá e é Coordenadora de Produção em efeitos visuais em Montreal.

Mãe de três e casada com um profissional da área, que lidera uma equipa de artistas, Francisca explicou à BANTUMEN como chegou até à Marvel e o quais serão os seus próximos passos nesse universo.

Quem é Francisca Pimentel?

A Francisca é uma mulher que não desiste dos seus objetivos e seja em que área estiver, dá 100%. O meu principal título é “mãe”. Além disso, trabalho na área de efeitos visuais para filmes e séries, já trabalhei em televisão em Portugal e em social media. Sou apaixonada pela vida e grata a Deus por tudo o que põe no meu caminho.

Antes do efeitos visuais, a comunicação era a tua área de atuação, desde a produção de conteúdo, gestão de redes sociais e não só. Sentias-te realizada? Em que momento decidiste mudar de área? Houve algum momento chave?

Sempre gostei muito de trabalhar em televisão e a escrita é, sem dúvida, uma das minhas paixões. Sempre me senti muito realizada com o meu trabalho quer na área da comunicação social, quer no entretenimento. A vida dá muitas voltas e numa dessas voltas, fiquei sem trabalho na televisão e comecei numa agência de marketing. Mais uma vez as voltas da vida trouxeram-me para Montreal e foi aí que tudo mudou na minha profissional e pessoal também.

Que referências tiveste no teu percurso e que, de certa forma, ajudaram-te a chegar até aqui?

Na realidade, sempre trabalhei como jornalista e como social media manager, mas o meu marido trabalha com efeitos visuais desde sempre. Sempre admirei o trabalho dele mas nunca imaginei trabalhar na mesma área que ele. Referência neste momento, só ele mesmo. O meu marido Myke Mendes também tem raízes angolanas e trabalhou em Angola na área da publicidade.

Para quem não entende do assunto, o que faz um coordenador de projetos de animação? E qual foi exactamente o teu papel no filme Eternos?

Neste caso específico do filme Eternos eu trabalhei como coordenadora do departamento que trabalha cabelo e roupa, o que significa que muitas vezes, precisamos de adicionar alguns efeitos nos personagens para que a sua atuação fique ainda mais extraordinária. O meu trabalho foi assegurar que todos os shots de todas as sequências em que trabalhamos foram feitos e enviados a tempo e horas para os outros departamentos para depois podermos enviar ao cliente, neste caso, a Marvel.

Quais foram os altos e baixos até agora desta tua nova carreira?

Não é fácil trabalhar numa área tão técnica. Principalmente quando o meu background não tem nada a ver com esta área. Mas vamos aprendendo e valorizando cada segundo dos filmes que vemos porque realmente há um trabalho muito grande por detrás do que vemos no ecrã.

Qual foi o projecto quem que mais gostaste de trabalhar e porquê?

Olha gostei muito deste projeto que está no cinema agora mas também confesso que gostei de trabalhar no Justice League e no Extraction, filme da Netflix. Também fizemos alguns shots no Shang-chi, que foram bastante interessantes. Gosto de filmes de ação e fico sempre curiosa para ver o resultado final. No caso destes, o resultado final foi extraordinário, na minha opinião.

Onde queres chegar?

Acho que se um dia chegasse a produtora executiva de um destes filmes era efectivamente um sonho mas trabalhar directamente com a Disney é um dos objetivos e sonhos a alcançar.

Sendo angolana, sentes um orgulho especial por fazeres parte de um leque muito restrito de pessoas a trabalhar para este tipo de projetos? Quais são agora as expetativas para o futuro?

Claro que é um orgulho para mim elevar o país que me viu nascer neste outro lado do mundo. É muito gratificante poder partilhar com este lado do mundo a nossa cultura e as nossas tradições. O primeiro grande filme que trabalhei e onde fui creditada foi o Extraction com o Chris Hemsworth e que foi um sucesso na Netflix. Depois tive o prazer de trabalhar também no Harley Quinn: Birds of Prey e antes de Eternals tem também o Justice League, que considero um trabalho excelente. Agora estou em Feature Animation num filme de animação que ainda não foi revelado por isso não posso adiantar muito…

Apesar de seres autodidacta, há formação académica para quem queira seguir os teus passos? Que dicas essências darias a quem quer especializar-se na área?

Não me parece que exista formação académica nesta área mas sei que existia uma Academy de Produção cá em Montreal cujo trabalho era formar coordenadores. Para quem quer seguir esta área tem que, acima de tudo, ser persistente. Não desistir é a melhor fica que posso dar e depois de estar na área também pode descobrir outros departamentos com os quais mais se identifica.

Qual é a mensagem que gostarias de passar para inspirar os mais jovens?

Já sou profissional há alguns anos e já mudei de carreira umas quantas vezes. O único conselho que posso dar é que nada tem que ser eterno e estamos sempre a tempo de mudar. O importante é não desistir dos nossos sonhos. E quando chegarmos lá, se acharmos que esse não era o sonho… sigamos em frente em busca do próximo. Nunca é tarde para sermos felizes e devemos ser felizes com o nosso trabalho para que não seja um fardo na nossa vida.

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