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“Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto”, de José Sérgio

“Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto” | ©José Sérgio
“Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto” | ©José Sérgio

O fotojornalista José Sérgio acaba de lançar o livro Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto. A obra fixa e expande a precedente exposição de fotografia homónima realizada em 2020.

Não só foi ampliado o universo de retratados como se aprofundou a imersão nos seus contextos domésticos, profissionais e conviviais. Os registos são acompanhados por uma série de textos que contextualiza demográfica, sociológica e politicamente a presença africana e afrodescendente no Porto.

A publicação Presentes! Africanos e Afrodescentes no Porto pretende constituir um primeiro registo documental, com fixação em livro, da presença africana e afrodescendente no Porto, documentando uma comunidade que parece estar em franco crescimento e em franca diversificação, apesar da escassez de instrumentos estatísticos e/ou sociológicos capazes de mensurar e caracterizar este fenómeno relativamente recente cuja inscrição política e artística é não só devida como urgente. O projeto do fotógrafo e fotojornalista moçambicano foi financiado pela Direcção-Geral das Artes com o apoio da Câmara Municipal do Porto.

Tatuagem da ponte Dom Luís I, no Porto | @José Sérgio
Tatuagem da ponte Dom Luís I, no Porto | @José Sérgio

O propósito do projeto é contribuir para a crescente visibilização e plena inscrição no espaço público de uma comunidade que, não possuindo embora a dimensão, a solidez ou a organização formal e informal da presença africana e afrodescendente da Área Metropolitana de Lisboa, é cada vez mais inegavelmente parte do tecido social, cultural e político daquela cidade do norte de Portugal.

À luz do debate recente acerca da inclusão de uma pergunta sobre a origem étnico-racial da população portuguesa no Censos 2021, considera-se pertinente fixar a presença e a diversidade dos modos de existência de uma comunidade ainda pouco conhecida e pouco reconhecida, contrariando o estereótipo de que o Porto se manteve imune aos fluxos migratórios oriundos do continente africano e, em particular, dos países sujeitos à colonização portuguesa.

O trabalho de campo de José Sérgio retomou os materiais já recolhidos e mostrados na exposição, composta por um acervo de 40 retratos individuais (a que se juntou, como consequência natural deste processo de reconhecimento e auto-reconhecimento, um auto-retrato do autor do projeto, também ele membro da comunidade africana da cidade) e outros tantos depoimentos vídeo. 

Nesta segunda encarnação do projeto, expandiu-se estes materiais não só quantitativa como qualitativamente. Essa expansão faz-se, por um lado, ampliando o universo de fotografados e aprofundando a imersão do fotógrafo nos seus contextos domésticos, profissionais e conviviais — ambição que as restrições associadas à pandemia de covid-19 frustrou na fase anterior —, e, por outro, justapondo ao acervo iconográfico que é o coração do livro uma série de materiais textuais que têm como objetivo contextualizar demográfica, sociológica e politicamente a presença africana e afrodescendente no Porto, bem como sublinhar e valorizar os trajectos dos fotografados. Imagens e textos propõem-se, portanto, consolidar o vaivém entre retrato individual e retrato colectivo que era já o leitmotiv da exposição.

“Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto” | ©José Sérgio
“Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto” | ©José Sérgio

A pesquisa fotográfica investiu desta vez não tanto na identificação e na representação dos cidadãos que dão corpo a esta presença, mas sobretudo na inventariação e no registo dos lugares, dos circuitos, das rotinas e das sociabilidades que a definem, tendo em vista um objecto que, mais do que uma soma de retratos individuais, corporize um retrato colectivo, certamente incompleto e aberto a actualizações, de uma comunidade fluida e plural, mas também uma proposta de redescoberta da cidade e de redefinição da sua identidade multicultural, contribuindo para uma nova auto-imagem do Porto e dos seus habitantes. 

Tal como a exposição, o livro não escamoteia, antes pelo contrário, a circunstância constitutiva e programática de este projecto ter sido desencadeado por um recente integrante desta comunidade, também ele à procura do seu lugar numa cidade que não conhece — uma cidade pelos menos aparentemente mais branca (ainda que cada vez menos) do que Lisboa, uma cidade onde as redes formais e informais de apoio àqueles que aqui chegam vindos das ex-colónias, ou que deles descendem, não se comparam, em historial, solidez e visibilidade, às que se foram estruturando, sobretudo após o 25 de Abril e as ondas de choque da descolonização, na Área Metropolitana de Lisboa. 

A coincidência, pelo menos teórica, entre o trajeto do fotógrafo e os trajetos dos seus fotografados foi de resto crucial na definição das dinâmicas de encontro e dos modos de registo que a exposição fixou num primeiro momento, influenciando as opções de composição e de enquadramento, entre outras decisões logísticas e artísticas que se colocaram no decorrer do processo.

Já numa perspetiva estritamente documental, a publicação procura também consolidar a escassa informação existente e disponível sobre esta comunidade, cruzando fontes bibliográficas/ académicas com um trabalho de natureza mais imersiva que justaponha ao acervo iconográfico uma camada adicional de materiais textuais sobretudo de natureza jornalística capazes de enquadrar, contextualizar e individualizar a presença africana e afrodescendente na cidade. 

A publicação em livro deste acervo iconográfico e textual tem em vista a proposta de uma auto-imagem menos branca, e, portanto, mais representativa da cidade e dos seus cidadãos, assumindo-se como uma ferramenta pública, artística e documental, de conhecimento e de auto-conhecimento, de reconhecimento e de auto-reconhecimento, e como um exercício de cidadania “expandida” e inclusiva.

José Sérgio nasceu em Maputo em 1970. Enquanto crescia, fez muito desporto e algum teatro, mas acabou por fixar-se na fotografia, que veio a ser a sua atividade profissional. Ainda em Moçambique, iniciou-se como fotógrafo na Editora Escolar INDE e trabalhou como fotojornalista para vários órgãos de informação, paralelamente a outros trabalhos de produção e edição fotográfica. Entre 1996 e 1999, integrou a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras como supervisor operacional e responsável pela cobertura fotográfica de programas de combate à cólera. Já em Portugal, foi fotojornalista do semanário Blitz de 2000 a 2006 e do semanário Sol entre 2006 e 2015. Atualmente, é fotógrafo freelancer. “Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto” é o seu primeiro livro de fotografia e sucede à segunda exposição individual com título homónimo que em 2020 esteve patente no Mira Fórum, no Porto. Em 2019, expôs A Viagem que Guerra Junqueiro nunca fez, na Casa-Museu Guerra Junqueiro, no Porto.

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