Na sua primeira exibição oficial em Lisboa, Amadeo Carvalho, artista cabo-verdiano, apresenta uma coleção de dez pinturas de grande dimensão e nove retratos em escala reduzida, que terá lugar no Centro Cultural de Cabo Verde, no dia 18 de outubro, pelas 17 horas.
A coleção “Mandinga – Uma paródia mal contada” divide-se entre três vertentes – as pinturas que focam na envolvência do espectador no ritual Mandinga, os retratos que imortalizam as expressões características desse grupo e os textos que contam a história desta folia. “Mandinga – uma paródia mal contada” chama à atenção para a revalorização dos Mandingas no Carnaval.
Este título evocativo introduz o espectador a uma narrativa que se desenrola nas entranhas da cultura do Carnaval em Cabo Verde, colocando em destaque a presença dos Mandingas, grupo tradicional que tem a responsabilidade de abrir e encerrar as festividades do entrudo.
Os Mandingas, cujas origens étnicas são provenientes da África Ocidental, onde se inclui a Guiné-Bissau, têm sido historicamente marginalizados e, por vezes, alvo de estigmatização. Foram rotulados como “brutos” ou “pessoas sujas”, palavras que desvirtuam profundamente a verdadeira essência do grupo. No entanto, a história e a realidade dos Mandingas são muito mais complexas e profundas.
Num Carnaval que muitas vezes é definido pela sua exuberância e espetacularidade, os Mandingas desempenham um papel crucial e muitas vezes subestimado. São os encarregados de abrir e encerrar as festividades, um papel que carrega uma responsabilidade significativa e simbólica.
Por trás das máscaras coloridas e trajes elaborados dos Mandingas estão rituais ancestrais que ecoam a força e a união de um povo. As suas representações não são apenas uma exibição artística, mas também uma celebração das suas raízes culturais e uma homenagem à herança africana. Além disso, a liberdade de expressão dos Mandingas é um aspecto vital do Carnaval cabo-verdiano.
Eles têm a oportunidade de se manifestar de forma criativa e, muitas vezes, satírica, abordando questões sociais e políticas, desafiando normas e valores estabelecidos. Essa liberdade de expressão não apenas enriquece a experiência do Carnaval, mas também eleva a alma daqueles que participam e testemunham essa manifestação única de cultura e identidade. O trabalho de Amadeo é um convite para uma apreciação mais profunda e respeitosa do Carnaval como um todo, relembrando-nos da sua riqueza cultural, uma história de luta e resiliência e uma expressão autêntica que merece ser celebrada e entendida em toda a sua complexidade.
Amadeo Carvalho foca-se na expressão dos rostos cabo-verdianos, colaborando com artistas locais para capturar a diáspora do país. Utilizando as suas pinturas como meio de dar voz aos rostos que o inspiram, Carvalho pesquisa extensivamente em arquivos fotográficos e literários, procurando capturar a essência do povo cabo-verdiano e criar uma conexão profunda com os espectadores.
Além disso, o artista também explora temas sócio-culturais que destacam as minorias e valorizam a nova geração. A sua arte, além de estética, também é um poderoso meio de expressão e reflexão sobre questões sociais contemporâneas.
Carvalho, artista autodidata, trilhou a sua jornada nas Artes Visuais com mentores notáveis como Mário Rita e René Tavares. Influenciado desde a infância pelo pintor cabo-verdiano Tchalé Figueira, as suas obras ganharam destaque em exposições internacionais, incluindo o W Hotel em Londres, B.Leza Club em Lisboa e o Centro Cultural Mindelo em Cabo Verde. Carvalho combina destreza técnica com uma narrativa visual rica, criando um estilo distintivo e inovador.
