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Neyna, uma artista de mão cheia que trata o sucesso por tu

Neyna | DR

Neyna tem apenas 25 anos e há somente três que o seu nome tornou-se popular na indústria musical com sangue PALOP. No YouTube, nenhum dos seus vídeos tem menos de um milhão de visualizações e o “Na Bo Mon” (2020), de Nelson Freitas, acumula mais de 7.2 milhões, tendo sido o seu ponto de partida para o estrelato. Com música a correr-lhe na veia, escreve as suas próprias letras, cria o storytelling, é assistente de edição dos seus videoclipes… é talento que nunca mais acaba.

Ainda na adolescência, em Cabo Verde, chegou a destacar-se como apresentadora de alguns programas televisivos de entretenimento e os primeiros passos em direção a uma carreira musical começaram ao do grupo VIP Musik. Já em Portugal, depois de participar em “Flam”, de Leo Pereira, cruzou-se com Mr. Magic e o produtor Felino. “Na Bo Mon” foi o primeiro fruto desse encontro. Daí até agora, cada música que lança é sucesso e tem lotado palcos tanto na Europa, Estados Unidos e Cabo Verde. A julgar pela sua popularidade crescente, do alto dos seus 25 anos, Neyna é uma das grandes promessas da música urbana crioula.

Nascida e crescida em Cabo Verde, aos 18 anos a artista fez da Guarda (norte de Portugal) a sua casa, enquanto perseguia uma licenciatura em Comunicação e Relações Públicas. Pouco antes da pandemia, e após a conclusão do curso, Neyna decidiu embarcar noutra viagem e mudou-se para Lisboa. “Foi aí que comecei a fazer música. Enquanto estávamos em confinamento, as coisas foram-se desenrolando à medida que a minha música se expandiu online e publicamente”, explica. “Daí adiante, os shows vieram e desde então sou a Neyna artista”.

Nos bastidores, esta menina de Cabo-Verde enriquece-se com as gargalhadas e os sorrisos que proporciona àqueles que ama. Apesar da timidez, Neyna procura movimento constante, equilibrando-o com o merecido descanso. A sua forma de olhar para a fama é peculiar e molda tudo à sua volta. “Há um receio em crescer por causa da pressão [social] toda mas sei que ainda tenho tempo porque ainda estou a descobrir-me, daí ter tanta dificuldade em descrever-me. Os outros têm mais facilidade em fazê-lo do que eu”, partilha com humildade.

Numa delicadeza permanente, Neyna reluta ao definir o que a música representa para si, mas confidencia que é o seu porto seguro: ““É a única coisa que me abraça quando vários sentimentos emergem ao mesmo tempo, dentro de mim; seja felicidade ou tristeza. Ou seja, acaba por servir de apoio, abrigo e um abraço [para qualquer altura”.

A influência parte, em primeiro lugar, da própria família, sobretudo do avô, do pai e do tio, o conhecido Calu di Brava. “A música vive dentro de mim desde que me encontrava na barriga da minha mãe e desde então sempre fui puxada para a música. Cresci num espaço em que a música fazia parte do nosso dia a dia, enquanto [paralelamente] aprendia com ela, influenciando assim muito de quem sou hoje. E foi a minha família que me proporcionou isso”. No entanto, a cantora realça que a motivação vem de si mesma. “Eu é que sempre sonhei e lutei por aquilo que quis, pelo que sou hoje e o processo ainda requer bastantes passos adiante”.

Através do crioulo e dos vídeos vibrantes em cores e energia positiva, podemos dizer que a artista está totalmente empenhada em realçar as suas raízes. Ao tentar promover a sua cultura e raízes cabo-verdianas, Neyna concentra-se em dar vida a momentos eternos e a uma fase memorável em que ela era apenas uma menina que crescia apegada à avó. “Tento levar essa parte de mim para o mundo lá fora, tento levar essa criança para todo o lado,” descreve. “Gosto de acreditar que é isso que as pessoas gostam em mim – aquela sensação de que ainda sou aquela menina que se agarra às suas raízes, ao seu ser, enquanto cresce simultaneamente. Desde pequena que sou assim e tudo acaba por ser um processo para alcançar o meu potencial total”, explica.

Não sou uma artista que precise de estar sozinha ou isolada com um caderno

Neyna

Ainda que navegue em diferentes ondas e apresente uma versão mais adulta ao mundo, um pouco mais sensual ou produzida, a verdade é que “sou uma rapariga de Cabo Verde, que cresceu com os pés no chão e era feliz dessa mesma maneira. E é isso que eu quero poder transmitir com a minha música, independentemente de usar roupas bonitas ou de estar em grandes palcos, eu serei para sempre aquela Neyna com que as pessoas se podem identificar.”

Quanto ao seu processo criativo, Neyna afirma que não é apenas a mente por trás das suas letras, mas também está por trás da produção e curadoria dos seus videoclipes. “Em relação à música, preciso de estar no estúdio com boa energia. Não consigo criar em casa porque preciso estar rodeada de pessoas que entendam de música e que possam inspirar-me a dar o meu melhor. Não sou uma artista que precise de estar sozinha ou isolada com um caderno,” declara a cantora. “Pelo contrário, acabo por afogar-me em ideias e nenhuma acaba por servir. O estúdio, por si só, valida essas ideias e todas as inspirações que vão surgindo. No que toca ao vídeos, acho que a sétima arte sempre me inspirou bastante. Tudo o que seja visual, simplesmente cativa o meu olho porque leva-me a um momento em que a criatividade mental flui naturalmente além do meu imaginário,” esclarece. Desde muito nova a vida para a artista parecia uma tela em branco, onde imaginava produzir os seus próprios filmes ou explorar criatividade além da música. Agora, após cada música ou melodia, Neyna automaticamente concebe uma história completa: cenários, vestimentas, ambiente, paleta de cores e a energia necessária para complementar essa visão. “A partir daí, elaboramos um pouco mais. Temos, por exemplo, o ‘Menino Veneno’, em que o vermelho dominou completamente a minha mente. A cor em si dirigiu-me a sangue, algo venenoso ou algo tóxico. Então, de acordo com o que faço com a música, as coisas vão fluindo pouco a pouco. Por outro lado, no ‘Bem Li’, a música puxou-me até Cabo Verde e ao sol. Algo que me lembrava bastante de casa, do seu mar e sol devido à melodia tão vibrante. Ou seja, puxando assim cada elemento para que o diagrama se encaixe a pouco e pouco até ao resultado final que tanto nos esforçamos para alcançar.”

Numa jornada curta, mas estrondosa, Neyna explica que os momentos de satisfação não têm sido poucos. Após um dos seus maiores sucessos, uma parceria com Nelson Freitas, a artista descreve esse momento como uma alavanca que se ergueu para que pudesse subir na indústria musical e conseguir manter-se lá em cima. “Acho que o surgir daquela oportunidade foi crucial para mim porque foi isso que me deu a motivação e força para estar onde estou hoje,” diz. “Tirando isso, há imensas coisas que acontecem na minha vida, além da carreira, que me deixam constantemente boquiaberta e surpreendida com o meu progresso. E a isso tenho que agradecer a Deus, todos os dias. Porque todos os dias, há algo que vai acontecendo e contribuindo para um futuro melhor.”

No final do dia, a cantora afirma que não está onde quer estar porque tem muito que batalhar ainda “mas sei que isto é apenas o começo. Não posso sentir-me confortável ou contente ao sentir que isto é tudo o que mereço. O melhor é o que Deus tem para nós e que ainda não aconteceu.”

Numa realidade em que as coisas se movem à velocidade da luz, Neyna admite que nem sempre é fácil digerir ou entender as emoções no mundo da música, especialmente quando se experienciam problemas de saúde mental. “Sinto-me assim [há muito tempo]. Sou alguém que questiona bastante tudo o que tem e se pergunta se merece mesmo tudo de bom à sua volta”, indaga.

A cantora partilha de forma vulnerável que enfrenta ansiedade e síndrome de impostora, algo que tem gerido de forma mais eficaz ao longo dos anos. “Hoje em dia, consigo controlar melhor esses sentimentos. Antigamente, via a ansiedade como algo mau e difícil de lidar, mas agora, com mais controlo e autoconhecimento, até consigo achar graça quando me sinto ansiosa. Basta eu parar e pensar: ‘Neyna, tu sabes exatamente o que estás a sentir. Relaxa.’”

Ainda assim, esclarece que não sente ansiedade antes de subir a um palco porque a Neyna artista sabe qual é o seu território e a sua mente está pronta para o que quer que seja. É por isso “mais difícil e dá mais ânsia lidar com a Neyna a um nível pessoal, porque sou alguém que requer mais cuidado, mais sensível e até mesmo insegura. Querendo ou não estas são duas personalidades completamente diferentes e, em geral, não é fácil lidar com ambas,” elucida.

Sobre o futuro e questionada obre nomes com que gostasse de partilhar o microfone, a jovem cantora aclara que não tem colaborações de sonho. “Se me perguntarem se tenho colaborações que gostaria de fazer, isso é algo diferente porque são várias. Mas colaborações de sonho [muda a dinâmica] e coloca tudo como algo intangível ou demasiado intenso. Sendo uma pessoa muito prática e com os pés bem assentes na terra, simplesmente não vejo as coisas assim. Ou dá ou não dá porque não vou continuar a sonhar contigo”, diz num tom assertivo e sorridente.

Entretanto, a artista avisa que já tem bastante material pronto para os fãs, mas uma indústria Pós-Covid requer um bom estudo de mercado porque as coisas mudaram. “As circunstâncias mudaram imenso e, hoje em dia, nós artistas não podemos dar qualquer passo em falso. Então, estou a pensar seriamente se lançarei um álbum ou algum projeto ou se me foco somente nos meus singles que me têm dado imenso prazer e funcionado muito bem também,” explica.

E é essa lógica de lançamentos soltos, com músicas que os fãs consigam e conectar-se em diferentes momentos memoráveis das suas vidas, sejam amores de verão, férias ou noitadas com as amigas. “Não quero perder esse dom porque uma música só conta uma história. E, por outro lado, também é difícil conseguirmos tirar uma hora do nosso tempo para partilhá-lo com um artista. Tanto que, algo que mudei recentemente foi o fato de notificar os fãs sobre lançamentos musicais com bastante antecedência. Há que experienciar algo do momento, do agora. Já não há tempo para suspense ou qualquer coisa que exija que eles esperem ansiosamente ou fiquem nervosos. A vida em si já é ansiosa o suficiente. Então vou proporcionar mais ansiedade nas pessoas com que objetivo? Ainda estou numa fase em que quero que os meus fãs façam parte do processo e do meu crescimento, que me acompanhem e que percebam que a música é muito mais do que o resultado final que lhes é entregue. É algo com muitas camadas e aprecio que eles vejam quanto empenho e dedicação é dado ao processo criativo e ao desenvolvimento musical, em geral,” reflete a cantora.

Quanto à sua carreira e aos passos que ainda tem adiante, Neyna confirma que tanto os seus planos como os objetivos variam constantemente. “Antes achava que aos 15 anos queria estar como estou hoje, mas agora, dez anos depois, a visão mudou. Não sei qual será a minha nova ambição [daqui a dez anos]”. De momento, vive e desfruta o melhor que pode dos momentos que sempre quis. Estar num estúdio, num palco ou rodeada de quem ama, mesmo não sabendo o que o futuro tem guardado para si. “Tudo o que sei é que tem que incluir música, os meus fãs, muita paz e a [mesma garra laboral] que tenho tido nos últimos anos”, termina.

A última música em que a artista participou é “Preta”, de Yasmine, e com apenas um mês chegou a mais de 2.3 milhões de views.

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