Numa sociedade em que a fast-fashion, o consumismo em massa, o capitalismo e a sustentabilidade são temas recorrentes, Pedro Filipe e a sua equipa decidiram inovar no mercado tecnológico ao oferecerem uma segunda oportunidade a produtos em segunda mão. Através da sua aplicação, a Thingle, o empresário português imaginou um mundo em que a confiança dos compradores não fosse um desafio, mas sim uma prioridade, ao estabelecerem relações com terceiros para uma análise e verificação detalhadas da qualidade dos produtos.
Ao questionar Pedro sobre a palavra que melhor descreve a sua aplicação, o empreendedor escolhe “confiança”. Segundo ele, é essa a mais-valia que a Thingle traz para o mundo dos marketplaces, especialmente no caso de produtos usados ou recondicionados. “Muitas pessoas afastam-se deste tipo de mercado devido à falta de confiança, mas nós queremos restituí-la ao máximo”, afirma.
A Thingle é um marketplace para produtos em segunda mão e recondicionados, sujeitos a uma análise e verificação antes de chegarem aos compradores, realizadas por parceiros especializados em áreas específicas e produtos. A startup integrou o programa Road 2 Web Summit, de que falámos aqui, através de uma iniciativa conjunta entre a Startup Portugal e a Djassi Africa.
Pedro menciona os problemas comuns em marketplaces como a Vinted ou a OLX, em que a incerteza sobre a condição dos produtos pode resultar em riscos como esquemas e fraudes. Ele destaca a abordagem da Thingle para minimizar esses riscos: “Não há comunicação direta entre as partes envolvidas; tudo é feito na plataforma, de forma transparente. O pagamento é integrado na plataforma, sem troca direta de dinheiro.”
Como empreendedor, Pedro enfatiza a resiliência como chave para este empreendimento, especialmente devido ao longo processo de desenvolvimento, repleto de burocracia. “É um grande investimento que requer muita dedicação e resiliência. Há momentos de grande entusiasmo e outros em que estamos bastante desanimados”, explica.
Apesar de um ano “atrasado” no lançamento da aplicação, a equipa modificou algumas características para permitir que lojas também pudessem aceder à plataforma, desde que cumprissem as políticas da aplicação. Pedro destaca a importância da economia circular, sustentável e ecológica, especialmente em tempos de crise de custo de vida.
No âmbito da sustentabilidade, a Thingle mede as suas pegadas de carbono e investe na sua redução. “Queremos que a confiança em produtos de segunda mão chegue a todos, desde uma blusa de 2 euros até um iPhone de 1000 euros”, declara Pedro. A aplicação busca conscientizar os utilizadores sobre o impacto ambiental de cada produto.
Além disso, a plataforma está a desenvolver um modo de reparação para reutilizar produtos com potencial, mas que necessitam de pequenos reparos. A seleção de parceiros baseou-se em valores éticos alinhados com a Thingle, como a parceria exclusiva com a DPD para entregas devido ao uso de carros elétricos.
Pedro, ativo no ativismo, diversidade e anti-racismo, menciona a influência dessas características na construção da plataforma, que teve inclusão e sustentabilidade como valores centrais desde o início. A Thingle foi selecionada como uma das 15 startups na colaboração entre a Djassi Africa e a Startup Portugal, o que proporcionou oportunidades e reconhecimento para a plataforma.
Sobre os desafios do empreendedorismo, Pedro destaca a romantização desse mundo, enfatizando a necessidade de resiliência e apoio da equipa diante das dificuldades. Ele também esclarece que a jornada empreendedora não tem sido fácil no que diz respeito a investidores e financiamentos.
Pedro reconhece a importância de gerir expectativas e ponderar realisticamente os tempos de desenvolvimento de um projeto, enfatizando a necessidade de paciência.
Em suma, Pedro vislumbra um futuro próspero para a Thingle, esperando uma expansão europeia da plataforma e uma mudança social em direção à renovação, reutilização e uma vida menos centrada no capitalismo convencional.
