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Racismo encurrala afrodescendentes na Ucrânia

Família nigeriana a fugir do conflito na Ucrânia | ©Omar Marques/Getty Images
Família nigeriana a fugir do conflito na Ucrânia | ©Omar Marques/Getty Images

Na Ucrânia, entre o caos, milhares de homens, mulheres e crianças, desesperados para fugir ao conflito armado iniciado pela Rússia, tentam sair do país por todos os meios possíveis. Nessa fuga, há uma ordem natural de prioridades: primeiro mulheres e crianças. Brancas. Seguem-se, os homens. Brancos. E só depois, com alguma sorte, mulheres e crianças negras e, por último, os homens negros. As denúncias são feitas pelos próprios afrodescendentes, nas redes sociais através da hashtag #AfricansInUkraine.

Nas redes sociais e na comunicação social internacional, têm surgido cada vez mais relatos do complexo périplo de pessoas negras para escapar à invasão russa na Ucrânia e que denunciam racismo por parte da polícia e exército nacionais.

“Algumas pessoas tentaram entrar nos autocarros mas basicamente não permitem que negros entrem. Estão a dar prioridades aos ucranianos. É o que dizem”, disse ao Business Insider Sky, uma cidadã britânica de ascendência africana.

A jornalista Stephanie Hegarty da BBC publicou uma série de tweets que explicam a provação dos estudantes. “Uma estudante nigeriana de Medicina, na fronteira da Polónia/Ucrânia (Medyka-Shehyni) disse-me que está à espera há sete horas para passar, ela diz que os guardas estão a travar as pessoas negras e a enviá-las de volta para o fim da fila, dizendo que têm de deixar passar os ‘ucranianos” primeiro”, lemos num post do Twitter.

Acrescido às dificuldades em conseguir um meio de locomoção, quando estes refugiados chegam finalmente à fronteira com a Polónia, para onde a maioria se tem dirigido, a falta de visto impede que as autoridades polonesas os deixem passar, mesmo que o governo polaco esteja a indicar o contrário. “Refugiados que fogem da Ucrânia atingida pela guerra estão a entrar na Polónia, independentemente da sua nacionalidade,” indica a chancelaria do Primeiro-Ministro polaco na sua conta oficial de Twitter.

O mesmo tipo de denúncias foram feitas por Nze, outro utilizador da mesma rede social, que acrescenta a intimidação armada. “A polícia e o exército está a recusar a travessia de africanos, só estão a deixar passar ucranianos. Muitos dormiram aqui por dois dias, debaixo destas baixas temperaturas, enquanto muitos decidiram voltar para Lviv”, escreveu na madrugada deste domingo. No mesmo post, vêem-se várias pessoas negras, de braços erguidos a gritar que são apenas estudantes, enquanto as autoridades apontam-lhes as armas.

Dos cidadãos dos PALOP pouco ou nada se sabe. Os diferentes países de língua portuguesa garantem pelas vias oficiais que estão atentos e a prestar o apoio necessário aos seus concidadãos. Cabo Verde indica não ter conhecimento de seus nacionais naquele país; a Guiné Bissau contactou os poucos cidadãos que residem na Ucrânia e disponibilizou-se para os evacuar através de Portugal, embora não tenham sido dadas indicações concretas de como essa evacuação será feita. Por sua vez, o consulado geral de Angola no Reino Unido divulgou um comunicado, onde refere que a “Embaixada de Angola na Polónia está a proceder à evacuação e ao acolhimento de todos os interessados que o desejarem, no posto fronteiriço de Korezowa-Krokowets, a partir do dia 26 de fevereiro”.

Contundo, o jovem Leonel Repólio revela uma experiência diferente. Mestre em Telecomunicações e residente no país de Volodymyr Zelensky desde 2013, Repólio indicou à rádio Platina FM que os estudantes angolanos em Lviv (cidade ucraniana na fronteira com a Polónia) estão “desamparados”. “Eles não dizem absolutamente nada. Fala-se que as pessoas devem ter vistos da União Europeia. Nós estamos aqui na posição de refugiados. O nosso executivo deve entrar em contacto com o executivo polaco para permitir a nossa entrada ou passagem no país deles para chegarmos a Angola. É urgente, precisamos do pronunciamento do governo angolano porque os outros países estão a ajudar os seus”, sublinhou o estudante.

No Jornal de Angola deste domingo, 27, foi anunciado que pelo menos 168 angolanos em solo ucraniano vão chegar em grupos separados a uma zona da fronteira com a Polónia, para entrarem “provavelmente hoje e de uma só vez”, como admitiu, na conversa com o Jornal de Angola, por WhatsApp, Manuel de Assunção, líder da comunidade angolana naquele país do leste europeu.

De acordo com o Ministério da Educação ucraniano, vivem no país mais de 16 mil estudantes afrodescendentes. Sobre a população negra de nacionalidade ucraniana, não há qualquer registo de dados.

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