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Unificar: Uma proposta para o fim das partituras?

DR

(Primeiramente, devo começar este texto enviando um abraço de conforto à família, aos amigos, colegas e alunos de João Umpa Mendes. Um jornalista e professor que, com o seu desaparecimento físico, ensinou-nos a valorizar mais a vida que temos e, acima de tudo, ser bom naquilo que fazemos, tocando pessoas na alma enquanto fazemos o nosso trabalho).

*

Sou parte. Sendo um jovem que “nasceu” das organizações juvenis e que depois teve sorte de conseguir uma bolsa de estudo para ir estudar Cozinha e Pastelaria na Mealhada-Portugal, durante toda a minha adolescência passei a dividir o meu tempo diário entre as lides domésticas, a escola formal – estilo europeu, escola corânica – modelo árabe, e futebol. Pouco me interessavam assuntos versados para o associativismo e voluntariado até ser incitado a concorrer e vencer às eleições para liderar a Associação dos Alunos da Unidade Escolar 25 de Abril, em Gabú, Guiné-Bissau.

Assim, nasceu o meu interesse em juntar-me a, primeiro, Parlamento Regional Infantil de Gabú, que depois liderei, durante um bom tempo, o processo de transição para uma nova direção; segundo à ADC (Associação dos Direitos das Crianças de Gabú), em que assumi a vice-presidência durante dois anos; à criação do Conselho Consultivo Regional de Crianças e Jovens de Gabú e, por fim, juntei-me ao Conselho Regional da Juventude de Gabú, assumindo o “Departamento dos Adolescentes e Jovens” e também “sub-adjunto secretário” da mesma organização. Guardo comigo boas lembranças desse tempo intenso.

Devem, os leitores deste artigo, estar a perguntar “porque começou o texto a falar de si?”. Talvez por querer demonstrar a base do conhecimento de causa e/ou por querer fundamentar melhor o título deste texto. Na verdade, as duas opções servem. Mas também porque quero falar de propostas para novos tempos que as organizações juvenis guineenses devem assumir, de forma a darem saltos qualitativos na maneira como pretendem emancipar os jovens.

Durante o meu envolvimento nas organizações juvenis, antes da minha ida para Portugal, participei como aprendiz duas vezes no campo de férias denominado Universidade Guineense de Juventude e Desenvolvimento, organizado pelo Conselho Nacional de Juventude e ajudei a organizar um dos dois. Também participei na Sessão Extraordinária do Parlamento Nacional Infantil, como um dos representantes da minha região, Gabú. Aprendi imenso nessas duas organizações.

No entanto, depois de dez anos, regressei a esse tipo de espaços como formador por duas vezes, na Escola Nacional de Voluntariado, organizado pela Rede Nacional das Associações Juvenis. Vi tudo diferente e mais decadente do que alguma vez imaginei. 

São tradicionalmente planeados, a cada ano, no mês de agosto e também princípio de setembro, campos de férias que juntam imensos jovens para inter-câmbio de aprendizagens e troca de experiências em diferentes domínios, consoante os espaços a que se opta por estar em detrimento de uma certa organização. 

Só este ano, pelas minhas contas, já se realizaram oito, entre agosto e a primeira metade de setembro. Cada um destes encontros tem uma organização à testa, como é de notar, possuem as próprias denominações, os lemas, a grelha de programação, oficinas de aprendizagem e palestras a serem realizadas. Tudo baseado na educação não-formal, que se fundamenta em princípios como aprender, brincar, partilhar e entre outros.

Outro aspeto comum é que todas praticam a mesma forma de trabalhar, começando pela ginástica matinal, sessões das oficinas, tardes desportivas e/ou de palestras, noites culturais, etc. Nota-se ainda, pela natureza de cada uma das organizações, temáticas como associativismo e voluntariado, liderança e emancipação feminina nas universidades e não só, jornalismo e advocacia infantil, movimento estudantil e cidadania, pan-africanismo, advocacia para emancipação dos jovens e entre outras. 

De diferente, pode-se constatar que cada organização propõe um determinado preço aos participantes, datas de ida e volta, localidade (que às vezes coincide), lemas, formas de preparação de cada atividade, caminhos para alcançar os fundos que ajudam a cobrir as despesas e tempo determinado para estadia em campos de férias.

Então, se temos tudo isso enquanto organizações juvenis com diferentes focos, mas acima de tudo com objetivos comuns, que passam pela emancipação dos jovens em diferentes domínios de aprendizagens, baseados na educação não-formal, é hora de pensarmos em algo novo, que pode ser anualmente ou de dois em dois anos, denominado “Jornada Comum de Jovens Guineenses”. Isso permitiria acabar com as partituras, em que cada coletivo juvenil prepara o seu campo de férias, procura os seus fundos, propõe oficinas que, por vezes, não vai de acordo com o fio condutor e princípios da organização, e consagrar esses diversos espaços num único espaço de aprendizagem e partilha entre jovens do país.

Portanto, para isso acontecer, é fundamental que se renuncie alguns vícios que estão internamente encarnados em cada uma das organizações existentes, que pautam sempre pela preparação de campos de férias. Mais ainda, que os jovens presentes nestes processos se auto-desafiem a também negarem certos hábitos, como forma de podermos atingir o bem comum que desejamos.

Com isso, poder-se-ia estar mais unido, com uma única agenda juvenil que provocará mudanças significativas na forma como o governo trata os assuntos que recaem sobre os jovens e evitaria repetição dos campos de férias sem propostas de transformação capazes de provocar mudanças. Pois, nota-se que, em todos esses campos de férias, há falta de propostas transformadoras que são apresentadas ao governo, e se existem são repetitivos, ouvem-se só nos discursos de encerramento e sem seguimento para as suas implementações. O que se quer, para novos tempos, é uma juventude mais unida e engajada para transformações que fazem sentido nas suas vidas e no país, e isso pode ser conseguido se se levar em conta a criação da “Jornada Comum de Jovens Guineenses”.

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