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Lord XIV: Da fusão cultural à afirmação no mundo do rap e da moda

LORDXIV

Rapper, fashion killer e poliglota são apenas algumas das palavras que podemos utilizar para descrever Lord XIV, uma das últimas contratações da label Bridgetown. Este talento emergente cabo-verdiano, nascido em Cascais, cresceu e viveu em Portugal mas também em França e Inglaterra, o que teve uma influência enorme na sua carreira musical e na sua desenvoltura enquanto navega entre rimas e versos cheios de alma.

Ao ponderar sobre o verdadeiro significado de música, Lord conta-nos que é “vida, porque acredito que seja o início e o fim de tudo”. No que diz respeito à sua personalidade, o rapper gosta de acreditar que é uma pessoa normal por detrás das câmaras. Com uma gargalhada eufórica, sugere que é bastante engraçado, transmite boas energias, é introspetivo e admite que, como qualquer outra pessoa, também tem o seu lado menos bom. “Tenho o meu lado menos bom, mas em geral, sou uma combinação de tudo o que descrevi”.

O primeiro contato de Lord com a música ocorreu bastante cedo, devido ao incrível gosto musical da sua avó, como o próprio recorda. “Ela é basicamente a razão por trás do XIV. Ela nasceu a 14 de outubro e foi ela que me criou também. Ela é a típica tia africana, com as colunas a tocar de manhã à noite, numa fusão de Funaná, que facilmente percorre de São Tomé à Guiné-Bissau”. O rapper admite também que não teve muita escolha em termos dos géneros musicais com os quais lidava, no entanto, aprecia o quão importantes foram para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Num mundo onde muitos acreditam que ser multilíngue nos confere automaticamente um domínio diferente do mundo, principalmente nas artes, Lord dá-nos a entender exatamente isso no seu trabalho. “As minhas raízes são a base para tudo. É como se tivesses um simples Mercedes e depois lhe adicionasses o pacote AMG, preparando-o para o mundo exterior. A minha base é Cabo Verde, mas depois abriu-se outro mundo, onde França e Inglaterra acabaram por me moldar de certa forma também”.

Quanto ao seu processo criativo, Lord partilha que os beats normalmente dizem-lhe tudo. Quando o beat toca, estando pronto ou em processo de emergir, e o rapper está com os produtores, as cordas, os ritmos, a bateria e padrões específicos acabam por liderar o caminho. “A música é quem me indica o caminho normalmente. Não entro no estúdio com uma ideia pronta para criar. O som diz-me o que precisa de mim, resultando mais tarde num produto final que também influenciará a forma como conceptualizo os meus vídeos”.

Como um artista emergente na Bridgetown, Lord reconhece, com um tom feliz, que a sua jornada tem sido incrível. “Fazer parte da agência e estar rodeado de pessoas experientes tem sido uma das maiores bênçãos da minha vida”. Porque no final do dia, o rapper explica que tem a liberdade de ser ele próprio. “Do Plutonio ao Richie e à equipa através da agência, estou rodeado por esta grande família que me permite ser eu próprio acima de tudo. E eles fazem isso guiando-te simultaneamente sobre o que é certo e errado, sem pressão e com bastante disposição para empurrar-te para a frente”.

Além de se afirmar à velocidade da luz como uma referência no rap português, Lord é também um artista que investe muito na moda e em looks arrojados em todos os seus vídeos, sem hesitação. “Adoro roupas, porque a moda é uma arte diferente e um veículo de expressão”, expressa ele. “As minhas escolhas de roupas exigem confiança, porque a minha educação levou-me a um espaço onde era difícil parecer e ser diferente, principalmente dentro do bairro”. Portanto, hoje, o rapper pretende inspirar outras pessoas a serem quem são através da moda e da música. “O meu amor por roupas vem da minha vontade de encorajar outros a apresentarem-se como são, independentemente da sua origem”.

O seu ícone é nada mais nada menos que Pharrell Williams, um marco no mundo da moda e na indústria musical. “Se voltarmos no tempo, até aos anos 2000, ele foi um criador de tendências no mundo do Hip Hop, não foi apenas o primeiro rapper que testemunhei a fazer uma grande colaboração com a Chanel, mas também o seu primeiro embaixador masculino, usando ténis que eu não podia comprar. Ele fazia boa música com artistas incríveis, de Snoop Dogg a Britney Spears, e ao mesmo tempo, fazia moda fora do comum e mudava realmente as coisas diante dos nossos olhos”.

Ao contemplar o seu maior sucesso como músico, Lord revela que foi o momento em que a sua avó afirmou ter gostado da sua música e, ironicamente, foi apenas um single. “Ela diz-me que eu faço rap, então é uma m****. Ela só gosta de Funaná, e a única batida que eu tinha onde misturava rap e cultura era “Zidane”, que o DJ Dadda produziu”. Relembrando a sua reação ao destacar que é a única e primeira música de que ela gosta, Lord replica divertidamente as suas palavras: “Primero kuza di jeto that you’ve done” (a primeira coisa de jeito que fizeste, traduzido para português). “Mas sim, ela deixou-me orgulhoso”, diz.

Mesmo sendo poliglota, Lord revela que a linguagem tem sido o seu maior desafio até agora. “Sou fluente principalmente em francês, mas o nosso mercado agora é predominantemente português e Kriolu. Portanto, às vezes posso sentir-me bloqueado ao tentar expressar-me adequadamente devido a certas limitações”.

Com entusiasmo, Lord conta-nos precisamente como uma experiência maravilhosa e única mudou o seu medo do palco. “Eu nunca quis fazer música. Esse nunca foi o meu plano; até que o Plutonio e o Richie ouviram uma das minhas mensagens de voz enquanto eu escrevia para outros artistas e sugeriram que eu fosse para o estúdio”. Aí, as coisas acabaram por se desenrolar. “Levei um ano para fechar uma faixa porque a minha cabeça não estava lá, mas eles deram-me o empurrão que precisava”.

Às vezes só precisas ceder ao que não podes ver e ao que o teu coração diz

Lord XIV

De repente, depois dessa primeira faixa, Lord deu por si com mais três faixas na manga. Na mesma altura, o Plutonio era a atração principal do Coliseu, e uma semana antes do show, ele viu isso como uma oportunidade para convidar o rapper emergente para atuar na abertura, diante de quatro a cinco mil pessoas. Lord olha entre as cortinas e pensa para si mesmo: “Não tem como!”. Tendo em mente que nunca tinha atuado antes e não tinha aquecimento, o rapper assegura-nos que foi a primeira vez que teve a certeza de algo que queria fazer. “Não esqueci a letra, interagi com o público, tudo correu bem e encaixou-se naturalmente. Essa foi a minha primeira vez, e também como aniquilei quase instantaneamente o meu medo do palco”.

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Sem surpresa, os artistas com quem adoraria trabalhar em Portugal já estão por perto, sendo um deles o próprio Richie Campbell. E, a nível internacional, a sua colaboração de sonho seria com Booba, um dos nomes mais populares do rap francês.

Quanto às suas obsessões de moda e algumas das peças essenciais que precisa ter no seu armário, o rapper diz-nos que precisa sempre de umas calças vintage e de um casaco de cabedal à mão. E, contra as expetativas, defende as suas Crocs em plataforma com unhas e dentes. “De momento, acreditem ou não, levo-as para todo o lado. Combinam com tudo; desde calções a calças de ganga. Elas estiveram presentes em festas, lançamentos e muitos outros shows porque, verdade seja dita, são bastante confortáveis”.

Entre risos, Lord esclarece que não canta no chuveiro, mas ouve música. E a referência é os África Negra, um grupo popular de São Tomé. “Como mencionei, a minha avó ouvia todo o tipo de música pela casa quando eu era criança. Hoje, fora do estúdio, sou um idoso que aprecia as suas antigas canções africanas”. Lembrando-se alegremente de como a avó o preparou para amar os clássicos africanos, Lord diz em tom de agradecimento: “Tive que o fazer porque ela garantiu que todos à nossa volta estivessem familiarizados com eles”.

Em relação ao futuro, Lord revê como chegou até aqui e reflete que, até recentemente, não tinha uma direção precisa. “Tornou-se tudo numa jornada de autodescoberta e exploração aprofundada de diferentes sons, pelos quais também sou artisticamente responsável. Então, no geral, isso levou-me a fazer a curadoria de muitas músicas com o Dadda, resultando em ‘Folie à Deux'”. Fundamentalmente, isto fechou um ciclo de redescoberta como artista, onde Lord se esforçou para lançar novas músicas mensalmente. Agora, abrandou e digere tudo passo a passo. “Estou a aproveitar o tempo para recalibrar e desenvolver um novo som que se alinhe apenas comigo, não apenas por causa da minha formação, mas também devido à combinação da arte africana que me moldou a mim e às minhas experiências na Inglaterra e na França”.

Além disso, mesmo tendo uma carreira considerada recente, o rapper já recebeu conselhos preciosos que levará para a vida. “Um veio do Richie, onde ele me disse para eu ser sempre eu próprio, mesmo nos momentos em que eu nem cantava ou atuava, enquanto o segundo veio do Plutonio, onde ele afirmou: ‘Pode levar tempo, mas isso vai acontecer’. E, comicamente, esses dois conselhos complementam-se”. Por conseguinte, Lord partilha que se tivesse uma varinha mágica, mudaria o facto de que muitos artistas cederem a tudo, menos a si mesmos. “Eu gostaria que pudéssemos desmantelar a noção de que os artistas devem ser tudo menos eles próprios”.

O músico afirma ainda que se vê daqui a dez anos com quatro álbuns, mas ao mesmo tempo deixando a música também, porque “estamos aqui por um bom tempo e não muito tempo“. E se pudesse falar com uma versão mais nova de si mesmo, Lord diria confiantemente: “Segue os teus sentidos!”.

“Às vezes a vida escolhe a nossa direção, mas tu podes ignorá-la, entregando-te a coisas superficiais que aparecem no caminho e que de alguma forma parecem mais brilhantes. Automaticamente, abandonas o foco e também o teu propósito”, admite. “Seguir o que é palpável e está à vista pode parecer mais fácil, mas às vezes só precisas ceder ao que não podes ver e ao que o teu coração diz. Música e arte têm sido denominadores comuns na minha vida e, neste momento, sinto que estão a erguer-se do cimento. Simplesmente florescendo”, conclui.

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