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Wilton Plenitude: Quando a sabedoria encontra um corpo ainda júnior

Wilton Plenitude

Abram alas para Wilton Plenitude, um CEO em diversos ramos, que traz o mindset do empreendedorismo para os seus afazeres na música. Antes, mais focado no backstage, hoje, um jogador em campo, de chuteiras no relvado em companhia dos artistas da gravadora que criou.

Chama-se Wilton Emilian, nasceu na capital angolana, mais concretamente na zona da Maianga, a 13 de julho de 1993. O parto foi feito em casa, com a ajuda de uma das vizinhas pela forma inesperada como tudo se deu. Ali nasceu, mas por pouco tempo ficou. Um ano depois, motivada pela guerra civil que assolava o país na altura, a família viu-se obrigada a mudar-se de Luanda para o Lubango, na província da Huíla, onde viveu cerca de dez anos. O pai de Wilton era militar, a mãe, na altura bastante jovem ainda, era uma jovem moça estudante e recém-casada. A ida para o Lubango fez com que dona Olga, a mãe, parasse os estudos e se tornasse vendedora ambulante de carvão, tomate e alho numa praça local. Nesta altura, Wilton já teria os seus 10 anos de idade e não frequentava ainda a escola. O ofício do jovem rapaz, enquanto filho mais velho, era o de estar com a mãe todas as manhãs, a formar a bancada com os mantimentos para a venda.

O artista abriu-se no decurso da conversa que teve com a BANTUMEN e classificou o período da sua infância como dolorosa, difícil e até certo ponto traumática. Uma das situações que contribuiu para essa avaliação tem a ver com a entrada prematura no mundo dos vícios. “Comecei a fumar aos nove anos”, recorda o artista. Desta situação, outras mais surgiram, como a dura relação com o pai e o irmão mais velho. Em relação a como se sente atualmente em virtude destes episódios, Wilton é determinado ao afirmar que são águas passadas. “Fui crescendo, levando a cena e vivendo confortável como eu sou, me equilibrando e formando um homem grande, uma entidade, um CEO”, disse.

“Quem somos, nunca tem uma resposta muito direta, porque estamos sempre num processo de evolução e de autoconhecimento. É uma luta constante”, assegura.

Entretanto, Wilton regressa a Luanda, e nisto, grava a sua primeira música, “Levanta”. A música tinha vestígios de uma certa poesia que o artista considera como sendo o seu primeiro grande amor. Escrevia versos, gravava uma ou outra música, mas enxergava aquilo como um refúgio, um alívio do dia-a-dia. “Eu era eletricista, fazia um trabalho técnico e então procurava um refúgio” assumiu, acrescentando que o seu “refúgio passou a ser música e poesia”.

“Continuei a escrever, não tinha interesse em gravar para ser um artista reconhecido, nem para mostrar aos mais próximos, era uma cena que eu fazia para mim, para sentir ya, eu sei fazer isto, eu consigo fazer isto”, afirmou.

Mais adiante, quisemos saber sobre a poesia presente nas primeiras músicas de Wilton, se continuava nas atuais ou se a tinha perdido? O rapper, então, respondeu:

“Sim. Levo sempre a minha essência. A minha essência é ser real, o mais natural possível, é trazer aquela mensagem de verdade, realista, aquilo que é a minha história”.

É provável que Wilton seja o que é na música e na forma como a constrói, por conta da influência de artistas brasileiros que escuta e escutou ao longo do tempo. A primeira referência que nos conta são os Natiruts, uma banda de reggae brasileira dos anos 90, que Wilton ouvia religiosamente e até hoje os tem como os grandes da música feita em português. Depois, pela simplicidade e capacidade de improviso, Wilton elege Charles Brown Jr. como o segundo no seu top de artistas prediletos. A seguir, o rapper menciona O Rappa, uma banda de rock também brasileira, formada no Rio de Janeiro, e personalidades não necessariamente ligadas à música, entre tios, amigos e os artistas que agencia.

Wilton tem andado por Luanda e Lisboa e com passagens por Espanha e Inglaterra. Das zonas que frequenta atualmente, a que mais tem influência na sua música, é Luanda e o calor das “pessoas reais” conforme diz o artista.

O novo Wilton Plenitude

Eu chego com a mesma essência, com aquilo que aprendi, mas com mais opções. É tipo um gajo com mais idade, mas a viver num corpo júnior, a vibe, a energia, o swing

Wilton Plenitude

A Plenitude Music “nasceu de sementes que eu já tinha em Angola. Na altura, chamava-se Litoral Records e, quando vim para Portugal, queria focar-me em música a solo, mas quando comecei a conhecer putos mais novos que eu, que não digo que sejam putos em idade, mas em música, então tive a ideia e senti a necessidade de ter e criar novos artistas”, afirma o artista.

Assim, Wilton confirmava as nossas suspeitas, que davam conta da sua visão e perspicácia do mercado. O rapper fez questão de contar-nos como foram os primeiros passos, e afinal, nem sempre foram rosas. Os primeiros materiais para estúdio, vieram de um contentor de lixo em Lisboa. A isto, mais se acrescentou e o propósito continuou a ser o mesmo: motivar e fazer crescer outros artistas do seu meio. “Eu queria o crescimento do people. Comecei a ouvir os MCs e percebi que eu estava num núcleo muito à frente” disse.

Com foco agora na expansão do seu projeto, Wilton passou a ver-se como um projetor de músicos que tenciona tocar outros mercados. Chegou a afirmar sem reservas que o seu primeiro álbum de originais, previsto para o primeiro semestre deste ano, será um dos mais versáteis alguma vez ouvido. “Não encontrarão nos PALOP um álbum mais variado que o meu”, fez saber. Vários lifestyles, vários instrumentais e sonoridades, várias mensagens, “invistam na vossa cena, façam acontecer”, é este o lema do rapper.

Por fim, falou-se de “Oh mãe”, novo single do artista já disponível em todas as plataformas de streaming. Num ritmo dançante com pitadas de rap e de afrobeat, a música aborda sobre “uma garina que me desliga o sistema e causa desequilíbrio”, disse o rapper.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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