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Guiné-Bissau, e os próximos 50 anos?

Crianças, Guiné-Bissau, 2020 | ©UNICEF/Mendes
Crianças, Guiné-Bissau, 2020 | ©UNICEF/Mendes

O sonho para que sejamos um povo livre foi construído e conseguido com honra e glória, graças a muitos factos que a história nos espelha. Trabalhou-se arduamente, mobilizaram-se vários recursos e balizaram-se imensas estratégias. Com o tempo, conseguiu-se o cumprimento do grande sonho: a Independência “total” do nosso povo.

Já passou meio século de vanglorização do glorioso mês de setembro. Continuamos tristes por não sabermos canalizar o sonho de outrora para ações reais e vemos poucos sinais de que há possibilidade de nos unirmos, embora com diferentes ideias, para alcançar o progresso. A luta armada foi ganha e, agora, estamos numa nova luta. Diária, que acontece a todos os instantes e que, certamente, deve ser também unificada para que possamos atingir o progresso.

Partimos para um novo tempo. Temos pela frente mais meio século. Temos muitos acontecimentos com os quais podemos e devemos aprender e, ao mesmo tempo, construir novo caminho ou, se quisermos, novo sonho. Esse novo sonho terá como ponto de partida a mobilização de todas as pessoas, de todas as idades, todos os géneros, em todos os cantos do país e fora dele, para um assumir de compromisso muito vincado em direção ao progresso que tanto almejamos.

Para que esse progresso seja alcançado é fundamental que levemos em conta o ritual de escuta. Nestes 50 anos de independência do país, aconteceram imensas coisas que não permitiram que o povo se auto-escutasse. Portanto, a organização dessa escuta deve ser assumida pelas estruturas do poder instaladas no Estado Guineense. Os dirigentes políticos devem-se responsabilizar em “parar o país”, ouvir o chão que tanto sangue e suor absorveu, ouvir gentes desta terra e a partir daí caminhar em direção aos anseios deste povo que tanto sofreu e ainda sofre.

Por outro lado, e a par dessa auto-escuta, embora com imensa deficiência no ensino guineense, precisamos, individual e coletivamente, de trabalhar na nossa auto-educação enquanto povo, de modo a sermos mais críticos e autocríticos com tudo o que se passa connosco, ao nosso redor e com o país. Porque, apesar de tudo, todas as decisões que são tomadas em relação à Guiné-Bissau dizem respeito também às pessoas guineenses. Então, há que reinvetar o país a partir da incitação à auto-educação para uma maior produção de consciência critica.

É verdade que os próximos 50 anos não se irão resolver simplesmente com “o ritual de escuta e auto-educação baseada na produção de consciência crítica”, mas é fundamental levar isso em conta como início de tudo e, acima de tudo, uma programação séria dirigida por atores sérios, sejam políticos ou não, que serão capazes de mobilizar todas as pessoas da Guiné-Bissau, em território nacional ou na diáspora. Não será, certamente, o programa de um certo partido que guiará o país mas um programa do povo, com base no ritual de escuta e auto-educação para a consciência crítica, que será levado a cabo pelo governo que estiver no poder, de modo a garantir a felicidade aos guineenses.

Mamadu Alimo Djaló: Cozinheiro, Sociólogo e Poeta. Idealizador do projeto Muntu-Contrariar o Machismo

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