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“Mutchangana” emergiu do bairro para colocar o mundo a cantar

Mutchangana

A metáfora da vida de Assa Matusse traduz-se por hipóteses conturbadas e mal explicadas. Ao crescer e optar pela música, o seu pai absteve-se de intervir, por não desejar vê-la cair nas mesmas armadilhas que ele e tantos outros músicos enfrentaram. Contudo, a artista não se dobrou; perseverou no seu caminho e, na sexta-feira, dia 1 de março, encheu o emblemático Centro Cultural Moçambique-China, em Maputo, numa homenagem ao progenitor. Mutchangana, o espetáculo, o maior da sua carreira até à data, confirmou a sua excelência artística e a convicção de que nasceu para o estrelato.

Se, até às 20h, persistiam dúvidas de que, nessa sexta-feira, naquele imponente edifício, uma rapariga do bairro de Mavalane faria história, essas foram dissipadas por volta das 20h30, momento em que o auditório começou a encher-se de forma subreptícia, tornando a espera francamente compensadora. Às 20h50, o som dos tambores marcou o início do espetáculo, transformando os gritos e os sussurros da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) em ondas sonoras que envolveram o público em momentos de puro delírio. Assa Matusse, radiante, emergiu entre os gritos e a fumaça do palco, e, com uma voz única, proclamou: “we Mutchangana…!”. O som ecoou pela sala, levando os presentes a momentos de êxtase. E assim deu início ao espetáculo!

Este foi, de facto, o segundo grande sucesso da artista num espaço de considerável dimensão. Em 2019, após regressar de uma série de concertos acústicos na Europa, Assa Matusse esgotou a sala do Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Maputo. Foi então que se redescobriu uma nova Assa, evidenciando um vigor, segurança, maturidade e criatividade em palco até então desconhecidos.

E, naquela sexta-feira, não foi diferente. Explorando a criatividade, ou melhor, a musicalidade da sua voz e da sua fala, em scatsinging e scatvoice, Assa aproximou-se, envolveu e conquistou o público com brincadeiras, agradecimentos e elogios, sempre que adequado durante as transições musicais.

Sem exagero, pode-se afirmar que este foi o seu espetáculo mais bem-sucedido: pela performance, espaço, iluminação, repertório, instrumentistas, convidados e público. “Mata Ni Tayenna”, a segunda música do dia, confirmou essa magia, já com Assa atuando a solo. “Chegou com tudo”, acompanhada por Válter Mabas na guitarra, Stélio Mondlane na bateria, Albano Bove no baixo e o francês Nicolas Vella no piano e nas misturas eletrónicas.

A habilidade dos instrumentistas é também inquestionável, destacando-se a sintonia com as exigências da artista. Cada um possui uma trajetória artística cuja experiência pode ser medida pelos resultados e pela forma como se relacionam com a arte. Produzem uma música que, além de desviar-se do que a composição vocal sugere, por si só narra uma história em crescendo, com um início, desenvolvimento e conclusão, que até se assemelha à metáfora da vida – a ideia de nascer, crescer, reproduzir-se e, por fim, cumprir o destino dos homens: a morte.

Para o espetáculo, Assa selecionou 15 músicas dos seus dois álbuns, criando uma estrutura sonora única, apaixonante, em crescendo e narrativa. Cantou, entre outras, “Sombeco”, “Menina do Bairro”, “Little Girl”, “Meu Canto”, “Nitxintixile”, “Looking For”, “Rokotxi” (com Deltino Guerreiro), “+Eu”, “Je suis Malade Déjà?”, “Aprendeste Onde” e “Aqui Preço” – outro hino sobre o custo do sucesso e o preço do sacrifício.

“Rokotxi”, interpretada com Deltino Guerreiro, foi uma viagem rítmica apaixonante e envolvente, marcada pela cumplicidade entre os artistas. Foi o remédio necessário para manter o público extasiado, a dançar, a cantar, a filmar, a fotografar, sem perder aquele olhar de admiração e satisfação. E assim, obedecendo à crescente retórica das músicas e dos convidados, tudo culminou em “Mussakazi” de António Marcos. Um sucesso, um momento inesquecível. Um encontro de duas gerações que se inspiram mutuamente.

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