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Coana, um artista que trabalha para abrir as portas do mercado global a artistas africanos

Sebastião Coana

Para saudar o dia da Paz e da Reconciliação Nacional em Moçambique, assinalado anualmente a 21 de setembro, o artista plástico moçambicano Sebastião Coana expôs um acervo de cerca de 20 peças de arte na Embaixada de Moçambique em Paris (França). Com uma curadoria que atesta a sua dedicação à arte como meio de inclusão e expressão social, em Harmonia em Tons, Coana procurou contar em cada peça uma história que reflete a sua visão do quotidiano, enquanto cidadão moçambicano e do mundo.

Foi a partir desta exposição que a Divina Academia de Artes, Letras e Cultura de França condecorou Sebastião Coana com uma Medalha de Ouro, na sequência de o artista ter sido apontado como uma das 100 Personalidades Negras Mais Influentes da Lusofonia, pela PowerList da BANTUMEN, em 2022. A organização internacional quis prestar tributo ao trabalho social do artista, distinção que o motivou a seguir adiante na sua missão de contribuir e fazer parte da solução dos problemas da sua sociedade.

Harmonia em Tons transcende fronteiras e reúne pessoas numa celebração harmoniosa de inúmeras cores – característica principal da exposição. “A cor tem um poder de trazer uma terapia e alegrar as pessoas”, confirma o artista plástico. A exposição leva até França um pouco da alegria moçambicana, concebida em quatro secções e que guia os visitantes numa viagem por temas como a natureza, o ser humano, a sociedade, o poder interior e a essência das mulheres, elementos centrais da visão artística de Coana.

Ao longo dos seus 20 anos de carreira como artista plástico, desde o seu primeiro mural em 2023, Coana enfrentou inúmeras adversidades, muitas delas relacionadas à escassez de patrocínios. Como adolescente, recorda ter enviado cerca de 50 cartas a diversas instituições, sendo que apenas uma delas respondeu. “Ainda guardo essas cartas. Para mim, são uma fonte de inspiração.” Apesar destes desafios, Coana perseverou e fundou em Moçambique um movimento artístico que capacita jovens na criação de murais, proporcionando-lhes aprendizado em pintura publicitária, entre outras técnicas.

Em entrevista à BANTUMEN, numa das salas que exibe as suas obras na embaixada moçambicana em Paris, o artista e visionário contou que, para um rapaz que nasceu num bairro do distrito de Manisa, localidade de Palmeiras (Moçambique), expor a sua obra em Paris é criar a possibilidade de outros também sonharem. “É uma honra para mim (…) expor aqui. Sendo um artista moçambicano e africano e trazer um pouco da nossa cultura para cá, acredito que com esta exposição consiga inspirar outros jovens criadores, não só no meu país, mas no continente em geral, a terem coragem de levar a arte como profissão”, disse.

Um dos principais propósitos de Coana em estar em espaços internacionais é beber o máximo do ecossistema das artes europeias para poder incrementar e melhorar o ecossistema nacional, e quiçá africano. “Quando pintava [em criança], sonhava em ter as minhas obras expostas no mundo, tornando-me num artista internacional, mas percebi que tinha primeiro que ser um artista na minha comunidade, depois ser um artista na minha província, ser um artista no meu país, no meu continente, para então conseguir ser um artista no planeta. À minha chegada na Europa senti-me muito feliz porque é um passo para a internacionalização da minha arte”, contou. A sublinhar que a obra “Ciclos da vida” do artista plástico representou Moçambique na edição 2023 do Art shopping no Carrossel do Museu do Louvre, em outubro, deste ano. Um importante passo para ser reconhecido por outros espaços de renome global, sendo que o museu parisiense um dos mais populares no espetro internacional das artes.

A minha melhor obra de arte está acima da minha capacidade financeira

Sebastião Coana

“O ecossistema em si das artes ainda está em vias de desenvolvimento no meu país. Aliás, nos países de África em geral”. Um cenário que, para ele, exige que os artistas tenham um pouco mais de fé e perseverança, sobretudo, numa época em que as medias digitais são um elemento facilitador para criar visibilidade no espaço mediático.

O artista entende que o governo e as organizações deviam fazer funcionar as leis, como a lei do mecenato, em que os colecionadores das artes podem usar a sua coleção para doar aos museus públicos, para que as artes estejam disponíveis para alunos, estudantes de pesquisas e essa doação ser convertida em benefício fiscal. Desta forma, a arte local deixaria de estar alicerçada no mercado turístico para passar a estar integrada na economia local, criando um ecossistema de colecionadores nos países lusófonos e não só. “Temos falta dessa ponte. Dinheiro existe, mas só nos falta essa possibilidade e quando isso for resolvido, vamos ter muitos artistas africanos a entrar no mercado internacional, porque as exigências no mercado internacional estão cheias de regras não ditas”, sugere. Uma dessas regras é que não é o artista que localiza as galerias e sim a galeria que descobre e localiza os artistas e as suuas obras, porque a nível mundial, as galerias controlam o mercado. Para chegar até lá, “o artista tem que ter uma ajuda para chegar àquele nível e não é barato. Como no meu caso, a minha melhor obra de arte está acima da minha capacidade financeira, e isso é a realidade dos artistas”, lamentou.

O grande objetivo de Coana é expor a sua obra em grandes casas e museus de artes no mundo para semear pontes e abrir portas para novos artistas. “Se eu conseguir brilhar a esse nível, vou conseguir ter muita gente a ir em frente, como artistas e criadores, e a acreditarem que é possível”, contou-nos. “A França neste caso, é uma porta de entrada para mim como para outros jovens artistas”.

A sua carreira é exemplo de como seguir passo ante passo e sempre com a sua história e raizes presentes na memória são fatores de sucesso. “Expor no Museu de Louvre deixou-me muito emocionado e feliz. Comecei a imaginar o menino que estava nas Palmeiras, nas feiras, de bairro em bairro… Um menino de uma família também sem condições de pagar a universidade”, relembrou nostálgico.

Os desafios são inerentes a qualquer profissão mas Coana entende que há o mais complexo na carreira artística é, por vezes, ter de esperar duas décadas para que o reconhecimento chegue finalmente. “Cada ramo também tem as suas dificuldades, só que as barreiras nas artes são muito maiores, porque estamos a falar de uma carreira que pode levar mais de 20 anos para se conseguir penetrar num certo mercado”.

Na entrevista vídeo, descobre mais sobre como Sebastião Coana pretende potencializar as artes visuais em Moçambique, e em África no geral, através do seu próprio trabalho, apontando também as soluções que o próprio Estado pode desenvolver para apoiar a classe artística nacional.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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