O Festival Política está de regresso ao Cinema de São Jorge em Lisboa, de 21 a 24 de abril e este ano conta com a BANTUMEN na curadoria à programação.
A Desinformação é fio condutor entre as diferentes atividades a acontecer durante o festival, centrada na ameaça à democracia, fator de polarização, discriminação e marginalização de grupos populacionais, e elemento que mina a confiança dos cidadãos nos meios de comunicação social e no jornalismo.
É nessa linha que, no dia 24 de abril, a BANTUMEN leva ao palco “Negras”, com uma conversa do coletivo Mulheres Negras Escurecidas e uma apresentação da artista Sílvia Barros, acompanhadas de tradutores para língua gestual. Na sala 2 do Cinema de São Jorge, às 18 horas, a luso-santomense Sílvia Barros vai apresentar alguns dos seus temas musicais mais íntimos, cujas letras derivam das suas lutas pessoais enquanto jovem mulher e negra.
Num segundo momento, através de um debate, as Mulheres Negras Escurecidas vão potenciar a reflexão sobre a perceção das mulheres negras na sociedade, do impacto da sua voz ou da falta dela, e da criação de espaços de cuidado e partilha dentro de um Portugal que se diz inclusivo e não racista.
De sublinhar que o Festival Política simboliza um lugar de encontro entre cineastas, artistas, ativistas e deputados, com a exibição de 22 filmes, além de concertos, debates, performances, espectáculos, exposições e conversas. A edição deste ano é ainda marcada pelo regresso presencial do debate Cara-a-Cara entre cidadãos e deputados representantes dos partidos eleitos para a Assembleia de República, em que será possível apresentar uma ideia, proposta ou questão.
Todas as atividades do festival são de acesso gratuito e, de forma a garantir a acessibilidade e inclusão, são também acompanhadas por tradução em Língua Gestual Portuguesa.
Nestes, relevamos assim o bloco de programação sobre racismo, África, mulheres negras feministas e afrodescendentes:
21 de abril, 19h Sala 2 / Música
Conversa “27 de maio em Angola: desinformação, auto-censura e silêncios”
A purga dentro do MPLA, a 27 de maio de 1977, desembocou em milhares de desaparecidos, mandados assassinar pelo regime de então como acusados de seguirem ideias de Nito Alves, um dos líderes do MPLA. A desinformação gerada pelos meios de informação do Estado angolano gerou uma violência que levou ao assassinato de três músicos muito populares: David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes. Como estão a ser testemunhadas, reconhecidas e transmitidas estas memórias traumáticas? Com o músico Chalo Correia e membros da Associação 27 de Maio. Moderação de André Soares (jornalista/antropólogo). Com tradução para Língua Gestual Portuguesa.
22 de abril, 22h Sala 2
Performance – “O jeito que o corpo dá 1.0” – performance de Luan OKUN
Mo.vi.mente.ação na Diáspora, de Luan OKUN. As fugas necessárias para a destruição da norma, e assim da condição de sucesso, de fracasso, de género e racialidade. Colaboração: @yunaturva Proposta vencedora do concurso de bolsas para artistas, criadores e ativistas, lançado pelo Festival Política e pelo Instituto Português de Desporto e Juventude (IPDJ).
23 de abril, 17h Sala 3
Cinema – Sessão Corpos Políticos “Bustagate”, de Welket Bungué, 12′ (Portugal)
Bustagate, um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa) eis o panorama escandaloso da violência e desigualdade social em Portugal. Um filme-intervenção póstumo à sua personagem imaginária, dedicado aos portugueses.
“Alcindo”, de Miguel Dores, 79′ (Portugal)
A 10 de Junho de 1995, sob o pretexto múltiplo de celebrar o Dia da Raça e a vitória para a Taça de Portugal do Sporting, um grupo de etno-nacionalistas portugueses sai às ruas do Bairro Alto para espancar pessoas negras que encontra pelo caminho. O resultado oficial foram 11 vítimas, uma delas mortal, cuja trágica morte na Rua Garret atribui o nome ao processo de tribunal – o caso Alcindo Monteiro. Sessão M/16
24 de abril, 18hSala 2
Música/Conversa – “Negras”
Invisibilidade. Social e política. À superfície das camadas de preconceitos, hipérboles e hipersexualização estão vivências, sentimentos e dicotomias que chegam ao debate público a conta gotas. “Negra” é o palco dessas vozes. Com Sílvia Barros na música e o coletivo Mulheres Negras Escurecidas para abrir a conversa, é hora de ouvir. Curadoria: Bantumen. Com tradução para Língua Gestual Portuguesa
A relembrar que, o Festival Política acontece também de 5 a 7 de abril, no Centro de Juventude de Braga, no norte de Portugal.