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E se o privilégio fosse negro? Nova criação de Lara Mesquita estreia-se esta sexta-feira

Peça "Que Seria", de Lara Mesquita | ©Joana Calejo Pires
Peça "Que Seria", de Lara Mesquita | ©Joana Calejo Pires

Em Que Seria, uma adaptação livre de Lara Mesquita um clássico de Shakespeare, Otelo é um homem branco que ambiciona o lugar de privilégio. O espetáculo estreia-se esta sexta-feira, 10, às 21h30, n’O Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo (Portugal). Sábado, volta ao mesmo palco, às 18h30.

“Achei que faria todo o sentido pegar na narrativa do Otelo, mas inverter as coisas. Em vez de ter um Otelo negro, ter um Otelo branco e todas as outras personagens serem negras, num contexto e num imaginário coletivo em que o privilégio racial funciona ao contrário”, conta Lara Mesquita, vencedora da Bolsa de Criação O Espaço do Tempo.

A ideia surgiu quando, há um par de anos, viu um espetáculo de dança, só com intérpretes negros, em Almada, refere. “Aquilo fez-me pensar. Tem que ver com a coreografia que estava a ser feita e a leitura que se faz do corpo negro. Comecei a fazer um exercício do que seria se fosse tudo ao contrário, esta questão do privilégio racial”.

Neste espetáculo, invertem-se os papéis sociais: as pessoas negras são as privilegiadas. O poder e a propriedade do direito, a superioridade física e intelectual, os preconceitos e o medo, impedem os privilegiados de facilitar a aproximação de Otelo ao lugar de privilégio. 

Com recurso às personagens e relações interpessoais criadas por  William Shakespeare, para peça de teatro escrita no início do século XVIII, mas invertendo aquilo que representam na sociedade, Lara Mesquita criou uma nova realidade social. Sugerir esta inversão é algo “muito complexo e que logo à partida não funciona”, explica. “Todo o processo de direção de atores, de escrita e de encenação está feito no sentido de que, nem que seja por um momento, o espetador se reveja no papel em que normalmente não se revê – o  público branco, digo. Que isso faça qualquer tipo de eco e, para mim, está ganho”.

“Se fosse ao contrário, que seria?” é a pergunta que serve de mote a esta criação, que procura desmistificar preconceitos raciais e consciencializar para o racismo e para práticas de discriminação e desigualdade, através da interpretação de Ana Amaral, Catarina Amaral, Daniel Moutinho, Júlio Mesquita, Manuela Paulo e Pedro Nuno. Segundo Lara Mesquita, que assina o texto, encenação e direção de projeto, a criação é “uma quase experiência social que, ao inverter a prática do racismo, pode facilitar a mudança do paradigma”. 

Em palco, a relação inter-racial entre Otelo e Desdémona é o foco da narrativa, reescrita e adaptada à contemporaneidade. “Em vez de termos a temática de guerra, temos o mundo corporativo, das empresas e do business, sempre ali com umas surpresas pelo meio, porque continuo a recorrer à metateatralidade”, diz a criadora, vencedora do Prémio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina 2021, com Sempre que Acordo. 

Meta-teatralidade, discurso espontâneo e informal, recurso à biografia e estilo eclético, marcam também esta nova criação de Lara Mesquita, que estreia esta sexta (10) e sábado (11), em Montemor-o-Novo, após várias residências artísticas n’O Espaço do Tempo, na CASA CHEIA ou no CAL – Centro de Artes de Lisboa.

Objeto artístico, mas também político e de intervenção social, Que Seria tem direção de arte de Bernarda, figurinos de Lafayette e direção e operação de luz de Diana dos Santos. A música original é assinada por EU.CLIDES, e o espetáculo conta ainda com apoio ao movimento do coreógrafo Bruno Huca e vídeo de Heverton Harieno.

A peça é uma produção da PARROTRECORD – Associação Cultural, com co-produção de O Espaço do Tempo, no âmbito da Bolsa de Criação apoiada pelo BPI e Fundação “la Caixa”, contando também com o financiamento da Direção-Geral das Artes e da Fundação GDA.

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