Procurar
Close this search box.

Mister K: da ascensão com os Kalibrados à exploração pela identidade solo

Mister K
Mister K | DR

Mister K é o rapper que questionamos o quanto era bom há mais de 18 anos, aquando do lançamento do álbum Negócio Fechado, do coletivo angolano Kalibrados. O projeto foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais ouvidos em português e que abriu as portas para a modernização na forma de divulgação e exportação da música feita em Angola, tendo tocado em vários mercados. França, Suíça, Alemanha, Portugal, Moçambique, Namíbia e África do Sul foram apenas algumas das paragens que receberam atuações do conjunto.

“Os Kalibrados marcaram um momento importante do Hip Hop angolano pós SSP. O álbum Negócio Fechado voltou a colocar o rap de Angola no topo dos mais ouvidos e melhores álbuns feitos em língua portuguesa na época”, disse-nos o jornalista e pesquisador Dino Cross, que é também um aficionado de hip hop lusófono.

Em busca de identidade própria, Negócio Fechado deu ao mundo lusófono um rap que refletia Angola desde a temática até à composição, com produção 100% nacional. É um álbum de sucesso unânime, reconhecido por todas as figuras do movimento hip-hop nos PALOP.

Quem conhece a história da formação e do surgimento dos Kalibrados sabe que Joaquim Katila – o nome de registo de Mister K e que hoje tem 40 anos -, quando recebeu o convite dos amigos Kadaff e Vui Vui para formarem um grupo de nome Kalibre 58, em 2001, já tinha passado pelos Click LV, Inigmáticos e pelas famosas batalhas de freestyle da (Montblanc) Maianga, bairro do município de Luanda.

Além do rap, Mister também sempre foi um rapaz de Deus e da igreja, tendo feito parte de um grupo coral. Para dar sustentabilidade artística e versatilidade ao que queria fazer, o artista também fez alguns cursos básicos de música.

K, Vui e Kadaff juntaram-se a Lanton Cordeiro, primeiro como produtor e depois como vocalista também. Em 2005, os Kalibrados lançaram o álbum Negócio Fechado, que arrebatou várias premiações. EM 2009, depois de percorrerem vários países na Europa, Américas e Europa, o grupo Cartas na Mesa. Sem o sucesso do primeiro álbum, Mister K anunciou a saída do grupo, quase uma década depois da formação.

Desde então, o rapper, assim como Jacó, personagem bíblica que passou a ser visto como a ovelha negra da família, K também foi visto pela maioria dos fãs dos Kalibrados como a ovelha negra do grupo. Muitos de nós, até hoje, questionam este pseudo rompimento e o que faria um jovem de 26 anos largar o trampolim da fama para seguir outro caminho.

No percurso individual, K criou a Bons Ventos Crew, uma gravadora/produtora com o intuito de ajudar os novos artistas e no intercâmbio com outros artistas consagrados da música em geral, assim como gerir carreiras. Na sua discografia, constam vários singles e projetos como “Condomínio de Alta Segurança”, “Nova Ordem” e “Projeto Pensar em Grande”.

O mais curioso é que, apesar de ter ficado de fora por mais de seis anos, K está presente em toda a discografia dos Kalibrados, desde os dois primeiros álbuns de 2005 e 2009 até ao último de 2016, Diário da República.

Este último trabalho foi muito anunciado e o regresso do Mister K ao coletivo era o prato principal deste renascimento dos rapazes do Negócio Fechado. Criou-se uma grande expectativa mas, ao contrário do que se esperava, sobre a forma silenciosa como o projeto chegou às plataformas de streaming, sem grande promoção ou qualquer pronunciamento pós lançamento.

Mister K regressou à igreja e a sua música passou a ser exclusivamente divina ou gospel, com faixas como “Jesus é o Melhor para Mim” ou “ABBA”. Fez também várias apresentações ao vivo, seja na televisão ou em cultos da Igreja Metodista Central. Os fãs de rap e de Mister K ficaram tristes, mas também aliviados por saber que o “mano” não os deixou. Acabou por se salvar, considerando a máxima de que “Jesus Salva”.

Na sequência, os jornais angolanos noticiaram no início de 2017 a detenção do rapper na Cadeia Central de Viana, em Luanda, acusado de tráfico de droga, com declarações confirmadas pelo porta-voz da Polícia de Luanda, Mateus Rodrigues, no mês de fevereiro do mesmo ano.

Foi libertado um mês depois, por falta de provas, sendo o próprio artista quem anunciou a sua saída da prisão, numa publicação partilhada na rede social Facebook.

Na publicação, Mister K afirmou que foi julgado sem provas. “Salmos 23, verso 4: Mesmo que eu ande pelo vale escuro onde a morte está bem perto, continuo tranquilo e não sinto medo, porque a sua vara e o seu cajado me protegem! Obrigado a todos os juízes que me julgaram sem provas e obrigado a todos que, mesmo sem me conhecer, provaram a minha inocência”, escreveu.

Depois disso, nunca houve um pronunciamento nem das autoridades angolanas nem mesmo do rapper, que acabou por ausentar-se dos holofotes por dois anos, até ao natal de 2019, quando lançou “Estou Morto”.

Atualmente, o rapper reside com a esposa e filhos, em Paris, capital francesa, desde 2018. Refez a sua vida e tem estado a preparar as suas próximas obras discográficas e a seguir com os objetivos da Bons Ventos Crew, a label que fundou.

Convidámos o rapper para uma conversa via StreamYard, onde falou em exclusivo sobre este novo momento da sua vida.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

Recomendações

Procurar
Close this search box.

OUTROS

Um espaço plural, onde experimentamos o  potencial da angolanidade.

Toda a actualidade sobre Comunicação, Publicidade, Empreendedorismo e o Impacto das marcas da Lusofonia.

MAIS POPULARES